CAPÍTULO 35.

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ALESSIA

— Já acionei todos os homens feitos que estão na cidade e enviei a localização do rastreador de Nico, Dante vai coordenar a busca. — Luca suspirou visivelmente com dor. — Eu devia ir ajudar. 

— Nem fodendo. — Thomaz foi mais rápido em responder. — Isso é a última coisa que Nico iria querer. 

Thomaz voltou a andar de um lado para a outro conforme tentava ligar para o celular de Carina pela vigésima vez. Tínhamos perdido o sinal deles há mais de uma hora e a única coisa que prendia Thomaz ali era eu. Ele havia prometido a Nico que não sairia do meu lado e eu até mesmo tentei o dissuadir de sua palavra, mas foi em vão. Thomaz estava fazendo um enorme sacrifício ao estar comigo enquanto confiava a vida de sua mulher e filhos ao meu marido. Eu estava apavorada. Sabia que Carina estava há cinco semanas da data prevista para o parto, e me preocupava muito que algo acontecesse com ela. E principalmente, me preocupava que algo acontecesse a Nico. Pensei que meus sentimentos mudariam depois de tudo que aconteceu entre nós, mas minhas palavras no cruzeiro ainda eram a mais pura verdade: eu preferiria morrer a viver sem ele. 

NICO

Carina gritou quando se contorceu de dor. Eu a tinha colocado no chão e tentado ajudá-la, mas era em vão. Eu não podia fazer nada para melhorar sua dor e desespero, e pelo visto, nem ela. 

— Nico! — Ela gritou segurando minha mão com força, seu rosto vermelho pelo esforço. — As contrações… Estão… De dois em dois minutos! 

— Certo. — Eu tentei dizer com calma, mas não consegui. — O que isso significa? 

— Que os bebês querem nascer! — Ela gritou agoniada. Eu tinha certeza que nossos perseguidores tinham desistido de nos caçar, porque Carina estava gritando tanto há mais de quarenta minutos que qualquer um já teria nos achado. Outro grito cortou a escuridão iluminada pela lua. — Nico! 

— Certo. Não temos como sair daqui sem ajuda, eu sequer sei onde estamos. Não temos sinal de telefone e… 

— Meus bebês vão morrer se ficarem mais tempo aqui dentro! 

— Carina, eu vou te contar uma coisa, tudo bem? — A ruiva me olhou por um momento antes de assentir e gritou de novo quando seu corpo se contorceu. Pelo visto, as contrações estavam vindo mais depressa. — Quando eu tinha quinze anos eu fiz o parto do meu irmão, com Luca ao meu lado. 

Não contei a ela que Nino também estava ajudando e que o bebê só nasceu porque meu irmão inteligente estava lá. Carina se contorceu. 

— Você… Você só tem um irmão! — Ela já não falava mais, estava gritando roucamente toda e qualquer palavra. 

— Ele morreu alguns meses depois. — Não disse a ela que o bebê morreu porque minha mãe entrou em depressão profunda e o matou na banheira; eu não queria por aquela merda em palavras. — Eu sei mais ou menos… 

— Foda-se! Eu vou começar a empurrar! — Carina gritou de novo. Me inclinei em direção a ela e comecei a levantar seu vestido longo. — O que você está fazendo? 

— Você quer parir de calcinha, porra? 

— Nico… 

— Está tudo bem, ok? Só quero te ajudar. 

Carina demorou para assentir, mas quando outra contração a tomou, a ruiva rapidamente concordou. Continuei a subir o vestido dela e puxei a calcinha dela para baixo; Carina gritou novamente e involuntariamente arreganhou as pernas. Acendi a lanterna do celular e dei uma boa olhada, meu estômago se revirando ao ver as marcas de agressão que ela tinha nada coxas e na virilha e então… Porra. 

Porra. 

Porra. 

— Carina, eu estou vendo a cabeça do bebê. — Eu estava chocado demais para me manter calmo; era a coisa mais estranha que eu já tinha visto e eu já tinha visto muita coisa estranha na vida. — Comece a fazer força.

Carina gritou tão alto que eu achei que teria problemas de audição mais tarde. A ruiva se contorceu conforme vazia força para o bebê sair e eu só conseguia pensar que eram dois, que ela teria que fazer duplo esforço, no meio de uma floresta sem luz, sem nenhum apoio exceto por mim, que não entendia nada do assunto. 

ALESSIA


Thomaz socou a parede com força. Já tinha passado duas horas e meia desde que falamos com Nico e Carina pela última vez; meu cunhado não conseguia mais ficar parado e eu já tinha obrigado Luca a voltar a se deitar duas vezes. Alessa estava de olhos arregalados e falava com mamãe de dez em dez minutos quando ela ligava por atualizações. Papai já tinha pego o jato e estava vindo para Las Vegas. 

— Eles estão procurando por toda a mata, nenhum dos dois rastreadores é atual o suficiente para mostrar o ponto exato onde eles estão, só indicam o local em geral. — Luca respirou fundo e deu um pulo ao encarar o celular. — Acharam o carro de Nico com uma batida na traseira e rastros de veículos indo em outra direção. Os perseguidores provavelmente desistiram. 

— Thomaz você pode ir atrás dela. É sério. Tem soldados protegendo a casa inteira. 

— Não. — Thomaz estava exausto, eu podia ver. — Eu jurei ficar ao seu lado. Nico confiou em mim, assim como estou confiando nele para proteger Carina. 

NICO.

Eu não conseguia acreditar no que estava vendo, não conseguia sequer parar de tremer enquanto segurava em minhas mãos a porra de um bebê que tinha acabado de nascer; Carina novamente estava gritando, espremendo o outro bebê para fora. Tirei meu casaco com dificuldade por estar usando uma mão só e envolvi o menino com o tecido. Céus. O menino gritava a todo pulmões e uma sensação de proteção tomou conta de mim; eu era o primeiro a segurar o próximo Capo da Cosa Nostra. Carina gritou de novo, me puxando para fora dos meus pensamentos. 

— Vamos lá, Carina. O menino já está aqui, você precisa trazer a irmã dele! 

— Devon e Jhenifer! — Carina gritou e se contorceu novamente, seu corpo todo parecendo convulsionar conforme ela empurrava. Me aproximei mais dela e a ruiva apertou meu antebraço com tanta força que suas unhas se cravaram em minha pele, não registrei a dor mesmo quando senti o sangue. Carina gritou de novo e eu enrolei Devon ainda mais no casaco ao colocá-lo no chão. O bebê conseguia gritar mais alto que sua mãe. — Não o deixe! 

— Jhenifer está vindo, preciso pegá-la! 

A cabeça da garotinha apareceu e Carina gritou novamente, lágrimas descendo por seu rosto. Retirei minha camisa para enrola-la assim que nascesse e me preparei para puxa-la quando seus minúsculos ombros apareceram e Carina tremeu por inteira. Coloquei minhas mãos nos ombros do pequeno ser e fiz a menor força possível para ajudar Carina sem ferir o neném. Lentamente, Jhenifer deslizou para fora e começou a gritar instantaneamente. Os gritos da ruiva cessaram, só ficando na floresta escura o eco dos dois recém nascidos gritando. Como fiz com Devon, usei a faca destinada a matar para cortar o cordão umbilical da garotinha.

— Meus bebês… Meus bebês… — Carina chorou e eu enrolei Jhenifer em minha camisa antes de entrega-la a ela. Carina a envolveu em seus braços chorando sobre a cabecinha da pequena garotinha e eu tirei Devon do chão, o entregando a minha cunhada com cuidado. — Meus bebês… Meu príncipe e minha princesa… 

Tive que apertar os olhos para afastar as lágrimas de emoção que surgiram; eu estava acostumado a destruir, a tirar vidas, matar; nunca imaginaria que seria sozinho o responsável por ajudar alguém a dar a vida.

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora