CAPÍTULO 43.

7.8K 770 32
                                    


NICO

Dor e esperança se uniram em meu peito. Meu coração acelerou tanto e tão dolorosamente que senti medo de ter um segundo ataque cardíaco na vida. As lágrimas traiçoeiras queimaram meus olhos quando minhas pernas fraquejaram e eu desabei de joelhos. Eu nunca me ajoelhava, para nada, para ninguém, mas uma simples frase me colocou de joelhos. Uma simples e irrisória esperança, tudo que eu mais quis por toda minha vida, tudo pelo qual eu sacrificaria qualquer coisa. Era impossível, eu sabia. Eu tinha visto a lâmina atravessar seu peito, eu tinha visto quando ele… Não. Eu não tinha visto. Meu pai me arrancou de cima do meu irmão e me trancou numa sala a prova de sons. Eu gritei e mordi minha mão até arrancar sangue por horas seguidas. O caixão foi lacrado. Eu não tinha visto nada. Nada. 

Nada.
Morto. 
Nada. 
Vivo. 

Levei a mão até a garganta quando a bile ameaçou me fazer vomitar. Nino. Nino. Nino. Meu Nino. Vivo. 

— Nico. — Alessia segurou meu rosto me obrigando a olhar para ela. — Nico. 

Pude ver em seus olhos que ela não sabia o que dizer. Nenhum de nós sabia. Eu caí para frente aterrizando de qualquer jeito nos braços de Alessia. Minha esposa me abraçou apertado e nem seu toque que sempre me tranquilizava foi capaz de me trazer paz. 

— Preciso pesquisar aquele local. — Eu rapidamente me coloquei de pé e tirei uma foto do endereço; o Google Lens rapidamente leu as informações e me direcionou a um lugar no mapa. Era nos arredores de Reno, sete horas de Las Vegas. Meu coração errou uma batida; se fosse verdade meu irmão estava todos esses anos há sete horas de mim. Soltei uma risada de escárnio. — Reno. Nino sempre odiou Reno. 

— Você não vai sair do nada, ok? — Alessia rapidamente disse. — Você vai reunir os soldados em quem confia e sair preparado para qualquer coisa. E eu vou com você. 

— Não é sensato levar você comigo. — Eu disse sem muita convicção. 

— Claro que é. Faça arranjos para que estejamos protegidos e dê-me uma arma. 

— Você sabe atirar? — Alessia fez uma careta para minha aparente descrença. 

— Sim. Eu e minhas irmãs somos atiradas eximias. — Alessia disse com uma pitada de orgulho e então sua expressão escureceu. — Aprendemos a atirar depois do atentado que matou minha irmã gêmea. 

— O que? — Eu a olhei com confusão. — Mas, Alessa…

— Trigêmeas. Alessa, Alestra e eu. — Minha esposa esclareceu se encostando contra a parede. — Eu tinha dez anos quando ela levou um tiro na cabeça bem na minha frente. 

Minha respiração saiu áspera ao ouvir sua voz resignada e triste. Puxei minha esposa em minha direção, abraçando-a. 

— Sinto muito. — E eu realmente sentia. 

— Então me deixe ir com você. — Alessia sussurrou contra meu pescoço. — Me deixe estar lá por você. 

Eu respirei fundo antes de concordar. Eu não sabia se podia enfrentar o reencontro sozinho, mas eu tinha certeza que não poderia sobreviver sozinho se minhas esperanças fossem esmagadas. 

×
×
× 

Eu havia organizado tudo com esmero. Era a missão da minha vida, nem mesmo quando ajudei Thomaz a resgatar Carina me empenhei tanto. Quatro SUV's pretas com catorze soldados armados até os dentes seguiram comigo para Reno, duas atrás do meu carro e duas a frente. Alessia estava sentada ao meu lado com o cinto preso firmemente ao seu redor. Minha esposa estava com a arma que dei a ela em mãos e tirava e recolocava várias vezes o pente de balas na Taurus G2C, um claro sinal de seu nervosismo. Eu havia pensando em dar a ela uma Armatix iP1, mas eu não encontrei nenhuma no meu arsenal; seria bem melhor que minha esposa estivesse com uma arma que seria automaticamente travada se saísse de suas mãos e ficasse distante do relógio que acompanhava a pistola. No entanto, eu tinha preocupações maiores. Se dependesse de mim e dos meus soldados Alessia não precisaria usar a arma que tinha em mãos. Meu nervosismo apenas cresceu conforme as horas passavam e os carros avançavam mais nas estradas cercadas por deserto. Nem mesmo Alessia conseguia disfarçar a ansiedade. Por fim, quando comecei a traçar o caminho final pelas estradas rurais ao redor de Reno, minhas mãos tremiam tanto que era difícil manter o carro em linha reta conforme o voltante oscilava. O GPS apitou incansavelmente indicando o fim do trajeto e eu freiei bruscamente para não bater na SUV em minha frente. 

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora