CAPÍTULO 15.

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ALESSIA


A conversa com Clarice estava sendo surpreendentemente agradável e eu quase me ressenti de Nico por me enviar um brilhete através de um dos garçons, pedindo para eu o encontrasse dois corredores a esquerda do salão. Pedi licença a Clarice e saí do salão em passos comedidos, não querendo perder a elegância mesmo quando a curiosidade me fazia querer correr. O que Nico estava planejando? Tive que surprimir um suspiro ao pensar que talvez ele quisesse adiantar os planos que tínhamos feito antes de sair de casa. Me guiei com atenção pelos corredores até encontrar uma bifurcação onde vi um casal parado; ao olhar melhor, tive certeza que era Nico de costas para mim. Uma mulher mais velha o acompanhava, deveria estar na casa dos quarenta e poucos e tinha cabelos loiros cortados no queixo; seu vestido turquesa era fino e elegante e por um momento seus traços me lembraram de Clarice. A mulher desviou os olhos de algo que Nico estava dizendo e mesmo a distância poderia dizer que ela estava chorando; seus olhos perpassaram por mim e quando o fez, ela se inclinou em direção a Nico e o beijou. 

Simplesmente beijou meu marido. 

Meu coração acelerou furiosamente no peito e a dor me tomou; havia uma explicação, certo? Nico nunca faria isso, Nico havia prometido… Ela continuou sorrindo amavelmente quando ele disse algo e meu estômago se revirou, um soluço escapando. Nico se virou para trás abruptamente e choque inundou suas feições quando ele me viu. Me virei rapidamente e corri para longe, as lágrimas caindo incansavelmente enquanto a bile subia por minha garganta. Porque diabos eu sempre acabava ferida quando decidia confiar em Nico? Porque diabos ele tinha me enviado um bilhete para me fazer presenciar sua traição? E o pior, ela sorria para ele como se o amasse.  Ele a amava? Corri pelos jardins aos fundos do hotel até parar porque não conseguia mais correr e chorar ao mesmo tempo. Porra. Dei um pulo de susto quando uma mão forte envolveu meu ombro e me virei abruptamente, encontrando Nico. Meu marido me segurou forte em seus braços, mesmo que minha vontade fosse de sair correndo. 

— Eu te odeio! — Gritei tentando me soltar de seu aperto de aço, mas Nico não permitiu. Meu marido me puxou para um abraço, prendendo meus braços contra seu peito. — Eu te odeio, Nico! Eu te odeio! 

— Shhhhh. Você não me odeia, foi tudo um mal entendido. Eu posso explicar tudo. Alessia, eu juro, não é nada do que você está pensando. — Nico sussurrou firmemente contra meu ouvido e havia tanta sinceridade em suas palavras que parei de me mexer. Meu marido suspirou aliviado. — Vamos para casa. 

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Quando chegamos em nosso quarto, tirei os sapatos e me sentei na cama cruzando os braços. Nico respirou fundo antes de sentar-se na poltrona de frente para mim. 

— Aquela é Inês Carlton, esposa do Carlton. Eu transava com ela para garantir que ela me avisasse caso o senador tivesse alguma atitude suspeita ou me traísse de fato. — Nico suspirou e passou as mãos pelos cabelos, bagunçando os fios loiros. — Quando eu disse a ela que não teríamos mais nada, ela se irritou e quando viu você atrás de nós me deu um beijo que não retribuí. É isso. 

— E você não tem medo de que ela conte ao Carlton? — As perguntas lógicas me faziam pensar em outra coisa senão naquele beijo estúpido. 

— Ela não seria estúpida o suficiente para contar que tinha um amante, e mesmo se contasse, Carlton não se importaria. Ele é gay. 

Nico riu do meu choque. 

— Há boatos de que Clarice foi concebida com Carlton gozando na boceta de Inês vendo porno gay. — Thomaz explicou sério e depois soltou uma risada alta e eu não consegui reprimir a gargalhada. Porra. Que absurdo do caralho. 

Me levantei da cama esbaforida pela crise de risos e peguei minha agenda no criado mudo junto de uma caneta. Entreguei a Nico. 

— Escreva alguma coisa. 

Nico arqueou as sobrancelhas em confusão, mas pegou a caneta e começou a anotar algo. Quando terminou, estendeu para mim. Comecei a rir de novo, tanto por causa de sua letra horrível, tanto pelo que havia escrito. 

Alessia é gostosa.

— Você é ridículo, Nico. — Debochei tirando da minha bolsa o papel que o garçom tinha me entregado. Eu não precisava comparar, mesmo se esforçando muito Nico não conseguiria reproduzir aquela caligrafia elegante e rebuscada. Entreguei o papel a ele. 

— Vadia do caralho. — Nico murmurou olhando o papel e eu dei um passo para trás ao ouvir sua voz cheia de ódio. — Não você, querida. Inês.

— Você me chama de querida porque sou querida a você ou porque é o único apelido que já usou com uma mulher? 

— Vi na internet que as mulheres gostam disso. — Meu marido deu de ombros e acabou rindo novamente com minha expressão chocada. — Talvez a internet não seja confiável, afinal. 

— Nico, você é um babaca. — Eu xinguei com um sorriso. Mesmo que fosse um apelido idiota e clichê, eu havia amado saber que ele tinha se preocupado em procurar um apelido na internet apenas para me agradar. Meu marido estendeu os braços num claro convite e eu me sentei em seu colo; Nico me envolveu num abraço e eu pressionei minha cabeça em seu peito. — Se você estiver mentindo para mim, eu mato você com a faca que você deixa na cabeceira. 

Nico gargalhou; uma risada alta que fez o corpo dele sacudir por inteiro e eu me peguei encantada pelo som. 

— Porque você acredita, então? Já que acha que posso estar mentindo… 

— Porque é ilógico. Porque diabos você me mandaria um bilhete para que eu visse você me traindo? Seria mais fácil para você se eu não soubesse, fora que, ela me mandar um bilhete para que eu visse ela criando uma situação é mais crível do que qualquer outra opção. — Dei de ombros e Nico me puxou para um beijo gentil. 

— Você é uma garota muito inteligente, querida. — Obviamente, sendo quem era, Nico começou a usar o apelido como uma forma de deboche. — Obrigado por me ouvir. 

— Você sempre pode me contar qualquer coisa. — Sussurrei contra seus lábios. — A verdade liberta. 

— A verdade também fere, Alessia.

Lhe dei um beijo casto no queixo antes de me levantar. Precisava de um banho após a noite cheia de emoções. Caminhei em direção ao closet parei repentinente ao ver uma foto que não tinha visto antes; eu tinha certeza de que era Nico aos onze ou doze anos, lindo em uma camisa amarela que combinava com seus cabelos loiros, mesmo na época seus cabelos eram grandes. Mas o que mais chamava atenção era que… Haviam dois Nicos. Dois meninos indenticos, exceto pelo cabelo curto e a cor da camisa. Ergui a mão para tirar a foto da parede, mas não consegui chegar perto quando Nico segurou meu braço com força. 

— Você tem um irmão gêmeo? — A animação que eu senti foi embora quando Nico me olhou com irritação; não, não só irritação. Era o mesmo olhar que ele me dera quando segurei sua nuca e ele perdeu o controle, um misto de ódio, medo e tristeza que não eram exatamente direcionados a mim. — Nico? 

Meu marido tirou a foto da parede com um rápido puxão e começou a sair do quarto. 

— Nico! 

— Não fale sobre isso, não pense sobre isso e principalmente, não me pergunte sobre isso. Finja que você nunca viu essa maldita foto! — Meu marido gritou e deu um soco forte contra a porta. A madeira tremeu, assim como eu. — Irei dormir em outro quarto. 

Antes que eu pudesse protestar, Nico já tinha saído do quarto e batido a porta com força atrás de si. 

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora