CAPÍTULO 40.

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ALESSIA

Quando Nico começou a falar, ele não parou. As palavras saíram de sua boca como uma enxurrada e ele sequer respirava. Eu também não conseguia respirar direito, apenas encarava meu marido com o coração destruído. Quando ele terminou de falar, parecia exausto. Nós dois estávamos tremendo. 

— Nossa mãe estava segura no    quarto, trancada com nossos irmãos, mas segura. — Ele abriu um sorriso sombrio. — Quando ela me viu coberto do sangue do meu irmão, quando meu pai disse a ela que eu o matei porque queria ser o Capo, ela me olhou como se eu fosse um monstro. Eu nunca parei de me sentir um monstro depois daquele olhar. E três dias depois, ela se matou. Afogou meu irmão de seis meses na banheira e deu um tiro na própria cabeça. 

Nico se levantou da cama e caminhou até a cômoda no canto do quarto. Por um momento fiquei apenas encarando enquanto ele remexia na gaveta e voltava até mim com um papel erguido. Peguei o papel com a mão trêmula.

— Leia. — Ele pediu. Suspirei sabendo que o que veria ali destruiria ainda mais meu coração. 


Querido Nico,
Quando você nasceu, pensei que seria minha única chance de felicidade. Quando segurei você e Nino nos braços, pensei que seria a única forma que eu teria para escapar da tortura que era estar casada com seu pai. Por longos anos, você e Nino foram minha salvação, até crescerem e se tornarem idêntico ao pai de vocês. Até mesmo os olhos cinzas que herderam de mim não se parecia comigo. Vocês eram dele, personalidade e aparência. Ainda assim, Nino se diferenciava. Ao invés de se tornar um monstro, ele era gentil e sensível, gostava de arte e música, desenhos e poemas. Nino era minha tábua de salvação, mas você o tirou de mim por ganância. Porquê, Nico? Seu pai já lhe daria o posto de Capo, porque teve que assassinar seu irmão? Eu sempre soube que você era uma espécie de animal que se adaptou ao hábitat que fora inserido, sempre soube que o ambiente ao seu redor lhe transformou no que você é hoje, mas ele era seu irmão gêmeo. Eu coloquei os dois no mundo para viverem juntos para sempre, e você sequer pensou nisso antes de enfiar uma faca no coração do seu irmão. Ah, Nico. Você também enfiou uma faca no meu coração. Você me destruiu, me magoou tanto que nem mesmo o sorriso do jovem Luca ou do bebê Juliano poderiam me animar novamente. Escrevo essa carta após ter matado Juliano. Ele não irá viver nesse mundo, não irá ser transformado num monstro como você foi. Até porque, ele não é filho do seu pai. Juliano é filho do Consigliere do seu pai, Dante Gianini. Ele é o único dos meus filhos que eu posso amar sem medo, porque ele não tem a crueldade dos Parisi no sangue. Por isso, ele irá embora comigo. Eu o trouxe ao mundo, eu o tirarei do mundo. Tudo que lhe aconteceu, Nico… Você mereceu. Você é um monstro, mesmo que não tenha sido sua culpa. Toda dor que sentiu, toda humilhação que compartilhou comigo nos anos de abuso que seu pai nos fez passar… Você mereceu. Gostaria de encerrar essa carta dizendo que te amo, meu filho. Mas não amo. Eu sinceramente odeio você com todas as minhas forças e espero que você conviva com a culpa do que fez pelo resto de sua vida, se é que alguém como você seja capaz de sentir algo tão humano quanto arrependimento.

Em meus últimos suspiros,
Elaine Parisi.



Deixei o papel cair, tonta demais para segura-lo. Meu coração apertou no peito conforme as lágrimas desciam por meu rosto e a dor se infiltrava em cada célula do meu corpo. 

— Agora você sabe tudo que aconteceu. — Nico disse distante. — Porque envenenou meu copo? 

Eu estremeci quando um soluço doloroso escapou de meus lábios. 

— Dante me procurou para que eu matasse você. Ele me mostrou os vídeos em que você mata seu irmão e seu pai. Disse que você é louco, que a Camorra precisa de um líder melhor. Eu desconfiei desde o início, mas então, quando ele disse que Luca assumiria já que era Consigliere, eu tive certeza. Luca ainda não é o Consigliere, ele é. — Funguei tentando suprimir o choro, mas foi em vão. — Mesmo que tudo que ele disse não fosse uma fodida mentira, eu não poderia fazer isso. Eu não poderia matar você, mesmo que eu não seja nada pra você, mesmo que eu só sirva pra sexo como você disse, eu…

— Não! — Nico gritou me fazendo dar um pulo. Meu marido segurou meu rosto entre as mãos calejadas e me olhou com tanta intensidade que pensei que poderia cair no chão. — Não. É mentira. Tudo que eu disse foi uma grande e dolorosa mentira. Eu poderia ficar o resto da vida sem transar com você desde que eu tivesse sua companhia, seu jeito, seus sorrisos. Eu não queria mais deixar meus sentimentos me tomarem, não queria ser sentimental e deixar a Camorra de lado. Eu menti, Alessia, porra. E foi a pior merda que eu já fiz, porque passar esses meses com você me olhando daquela forma, sabendo que você pensava que eu não sentia nada por você… Caralho. Foi a pior coisa do mundo. 

— Nico… — Eu queria dizer mais, mas seu nome saiu num sussurro quebrado.

— Eu te amo, Alessia. — Nico disse energicamente, seu rosto se contorcendo em medo e certeza. — Eu te amo pra caralho.

Como quando Nico começou a falar e não consegui parar, eu comecei a chorar e não conseguia parar. Caí contra o peito do meu marido e o abracei apertado, meu corpo sacodindo em espasmos dolorosos conforme eu soluçava em seu pescoço. Nico me abraçou com força, beijando meus cabelos enquanto me deixava ensopar sua camisa com minhas lágrimas. Passei as mãos por seus braços, arranhando minha palma em seu relógio caro e novamente as subi até segurar seu rosto. Tudo havia sido um grande caos, meses atrás eu não diria que seria capaz de procurar sua proximidade depois de tanta dor e desespero, mas eu o queria. Queria senti-lo, porque senti-lo me fazia sentir viva. A frase tudo que me mata, me faz sentir vivo nunca pareceu tão certa. O que eu sentia por ele, o vício que eu tinha naquele homem poderia me matar, porque mesmo sabendo o quão destrutivo ele poderia ser, eu o amava. Eu o queria. Nossas roupas sumiram tão rapidamente quanto o desespero por ele me tomou; não houve nenhuma preliminar, não houve doçura, não fizemos amor. Foi duro e instável quando deslizei seu cumprimento para dentro de mim e gemi o nome dele mesmo quando não consegui parar de chorar. Nico me beijou com fervor e eu engoli cada um de seus gemidos roucos conforme eu descia e subia em seu colo, seu pau entrando e saindo de dentro de mim; não era fazer amor, não tinha carinho, mas consolou minha alma. Quando acabou e nós nos deitamos na cama, cheios de suor e cansaço, Nico me abraçou apertado e eu deitei a cabeça em seu peito. 

— Tudo era mentira? — Eu perguntei baixinho. — Aquelas palavras… 

— Sim. — Nico respondeu no mesmo tom baixo. — Eu nunca acreditei naquilo. Dizer aquilo doeu em cada fibra do meu ser. 

— Eu… — Respirei fundo. — Você não é um monstro, Nico. Sua mãe não sabia de tudo. Ela não poderia saber, foi uma vítima do seu pai. Você não é um monstro. Você é incrível e eu… Eu...

— Eu sei. — Nico disse me dando um beijo na testa. — Você não precisa por em palavras, eu sei. 

— Sabe? 

— Claro. — Nico abriu um sorriso sombrio. — Se você não me amasse, não estaria dizendo que eu não sou um monstro. Só o amor pode criar ilusões desse tipo. 

— Você não é um monstro. — Sussurrei. — Não comigo, não com Luca… Mas será quando encontrar Dante. 

O sorriso de Nico se tornou ainda maior, predatório e cruel. 

— Dante Gianini vai implorar pela morte quando eu começar com ele. 

Eu sorri. Ele havia tentado destruir minha família e agora pagaria caro por isso.

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora