CAPÍTULO 8.

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NICO

Alessia mal disse uma palavra durante todo o trajeto de carro até a pista de pouso privativa, e toda vez que eu acabava por toca-la sem querer, ela se tensionava por inteiro. Ao sair do carro, caminhei um passo atrás dela, para evitar a proximidade que ela tanto temia. Me odiava por ter estragado tudo, me odiava por ter sido estupido e cruel com a mulher que necessitava que eu fosse bom, com a porra da minha mulher. Nem mesmo o jogo idiota conseguia me distrair da crescente tensão em meu peito, mas o vício me fez continuar a joga-lo assim que entramos no avião e afivelamos os cintos. Alessia, sentada de frente para mim, as vezes me lançava olhares sutis quando pensava que eu não estava prestando atenção, mas ela deveria saber que um homem como eu prestava atenção em qualquer coisa, mesmo com os olhos fixos na tela do meu celular. As seis horas e trinta minutos que duraram a viajem de New York a Las Vegas pareceram uma eternidade, e nem mesmo a porra do Candy Crush me fez relaxar. Talvez eu precisasse de uma dose de álcool ou uma infeção de morfina, não de um jogo idiota. 

— Em qual nível você está? — Alessia perguntou depois de cinco horas em silêncio. Levantei os olhos do celular e a encontrei olhando fixamente para mim. — No jogo, quero dizer. 

— Quatro mil novecentos e trinta. — Respondi. Alessia arqueou as sobrancelhas em confusão. 

— Quantos níveis essa coisa tem? 

— Atualmente? Quase dez mil. — Dei de ombros. Alessia permaneceu em silêncio e eu voltei a tela do meu celular, deslizando os doces para conseguir completar o fodido nível; já era a quinta vez que eu estava tentando e a irritação me tomou. Agora era uma questão de honra descobrir como passar aquele maldito negócio. 

— Algum problema? — Alessia perguntou baixinho e eu desviei os olhos do celular para olha-la. Ela estava tentando puxar assunto comigo? Com o mostro que a tinha machucado na única noite em que ela precisava de gentileza? 

— É um nível particularmente difícil, não estou conseguindo passar. — Respondi casualmente, mesmo que minha vontade fosse de dizer a ela, novamente, o quanto eu sentia muito por tê-la ferido. Alessia me surpreendeu ao se levantar de sua poltrona reclinável e sentar-se ao meu lado. 

— Posso? — Minha esposa perguntou estendendo a mão em minha direção. Levantei uma das sobrancelhas e entreguei o iPhone a ela.

Imaginei que Alessia só iria ver a fase do jogo, mas após um olhar concentrado em direção aos blocos de doces, ela começou a mexer os dedos. Me apoiei no encosto entre nós, tomando cuidado para não encostar nela, e observei melhor a tela do celular e a estratégia nova que não tinha pensado em empregar. Menos de quatro minutos depois, Alessia passou de nível com um sorriso satisfeito no rosto. Balancei a cabeça sem acreditar. 

— Eu estava há três dias nessa coisa. — Murmurei olhando para o celular que Alessia me entregou. 

— Você estava tentando quebrar os blocos antes de mexer os doces, o certo seria mexer os doces e os deixar quebrar os blocos.  — Alessia deu de ombros. — Porque você não compra créditos para ter aqueles efeitos especiais? 

— Aí não teria graça. — Demandei. — E provavelmente eu iria falir a Camorra se registrasse meu cartão nesse jogo. 

Alessia riu, realmente riu. Uma risada alta que fez seu rosto corar pelo esforço. Me peguei admirando seu belo rosto durante o riso e desviei o olhar antes que ela percebesse. Iniciei outra fase, um nível ainda mais difícil. 

— Quer jogar comigo? — Ofereci, colocando o celular entre nós dois. Alessia assentiu animada e se ajeitou no banco, ficando tão perto que eu podia sentir seu cheiro doce. 

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora