CAPÍTULO 19.

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NICO. 
DOZE ANOS ATRÁS. 





Quando papai olhou em nossa direção, Nino estremeceu. Meu irmão gêmeo sempre tinha sido o mais sensível de nós dois, enquanto eu já tinha atirado em meu primeiro homem, ele continuava em suas seções dirias de entretenimento: jogos e pinturas. Ele amava pintar, mas papai achava isso repugnante. Um homem pintor? Seu filho? O quem-sabe próximo Capo? Ele odiava Nino por isso, odiava sua sensibilidade. Eu queria ser o futuro Capo, não para desbancar meu irmão, não, eu queria protegê-lo. Queria que ele não precisasse se tornar frio e se afastar de seus verdadeiros sonhos. Nino merecia uma chance de ser feliz. 

— O que eu disse sobre desenhar essas merdas? — Pai perguntou rasgando a cartolina que Nino usou para desenhar o Bellagio com suas fontes. O talento do meu irmão era incrível, o desenho parecia uma fotografia de tão realista. — O que eu te disse, Nino?! 

— Você não sabe distinguir seus próprios filhos? — Sibilei. — Foi eu quem você encontrou desenhando mais cedo, não Nino! 

Surpresa cruzou o rosto de papai ao me ver falar naquele tom alto e insolente. Ele não acreditaria facilmente, mas meu desacato o faria punir a mim e não a Nino. Eu entendia bem de tortura, Nino não. Nino era doce e gentil. Meu irmão abriu a boca para me desmentir, mas eu o calei com um olhar. Qualquer coisa que papai fizesse comigo eu aguentaria sem quebrar, mas se aquele homem torturasse meu irmãozinho, ele não surportaria.  Eu não suportaria o ver sofrer. 

— Você acha que eu sou estúpido, Nico? Você é burro, não sabe desenhar a porra de uma reta. Reprovou na escola duas vezes, é um completo idiota, um demente! Acha que eu acreditaria que você desenhou isso? — Papai jogou a bola amassada em minha direção e ódio me tomou. Eu havia reprovado na escola porque estava ocupado demais fazendo tudo que ele queria para que Nino não precisasse. 

— Você é mesmo estúpido se acredita nisso. — Falei, sabendo que isso selaria meu destino. 

— Não, não foi ele… — Nino tentou dizer quando papai se jogou sobre mim e segurou minha nuca com força, mas ele não estava mais ouvindo. Eu também não estava. 

Suas mãos em minha nuca invocavam sentimentos que eu odiava. O ódio me tomou e tentei lutar contra ele, mas mesmo sendo forte, ainda era um moleque de doze anos. Apaguei quando papai bateu com sua arma em minha cabeça. 

×
×
×

Não sei quanto tempo passei desacordado, mas acordei numa sala esquisita. Era um quadrado menor que um banheiro de bar, e havia somente dois buracos redondos na altura do chão e uma porta, sem janelas. A porta era de metal forte e havia um retângulo de vidro no meio. Me levantei do chão, a cabeça doendo pela coronhada e pela luz forte e vi papai quando olhei pela báscula. Ele sorriu abertamente ao me ver de pé e pela primeira vez, medo me tomou. Eu era acostumado com suas surras que quebravam meus ossos, mas aquilo era um tipo diferente de tortura. Eu sabia que algo horrível iria acontecer e a espera era desesperadora. Meu pai sabia disso, ele sorria com escárnio. Porra. Meu coração acelerou dolorosamente. Dei um pulo para trás quando levei um choque ao encostar na porta; minha cabeça zuniu e a tontura me tomou. Bastardo. Seja o que fosse, eu não poderia fugir. 

E então… Eu vi. A primeira barata rastejou para fora do buraco na parede e eu estremeci. Não havia como meu pai saber que eu tinha medo de baratas, exceto se Nino houvesse contado. 

— Sabe, Nico. — A voz de papai ecoou no auto falante acima da minha cabeça. Olhei em direção ao som e meu corpo inteiro entrou em choque ao ver que dos canos no teto, saíam milhares de baratas. — Com a tecnologia, podemos saber tudo que as pessoas sentem quando elas postam na internet, pensando que elas estão seguras. 

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora