CAPÍTULO 46.

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NICO. 

Nunca imaginei que algum dia poderia voltar a ter meu irmão ao meu lado, assim como nunca imaginei que veria Nino tão destruído. Meu irmão tinha mudado tanto que eu sequer sabia mais como me portar ao lado dele. Três dias depois do nosso reencontro, eu mal dormia ou comia. Minha vida tinha virado de cabeça pra baixo e eu não fazia ideia de como ajustar as coisas.

— Nico? — Alessia chamou baixinho se aproximando de mim. — Cassie está dormindo, Luca e Nino estão conversando na sala. 

Eu assenti com um gesto duro e continuei encarando a parede a minha frente. Alessia se sentou ao meu lado no meio da cama e segurou minha mão contra a dela. 

— Nico, você precisa acordar. Eu sei que você está em choque com tudo que aconteceu, mas você é o líder da Camorra. Seu celular não para de tocar, seus homens precisam de sua liderança. — Minha esposa exalou profundamente quando eu não me mexi. — Eu preciso de você. 

Ela não precisava, não realmente. Ela tinha estabilidade e abrigo em New York caso a Camorra ruisse, Thomaz a protegeria de qualquer inimigo porque ele amava sua família. Eu o achava ridículo no começo, mas agora me sentia um tremendo idiota. Como eu achei que seria capaz de colocar a Camorra acima da minha família? 

— Nico… — Alessia disse baixinho e se levantou da cama quando eu não disse nada. Pensei que ela havia desistido, mas menos de um segundo depois ela voltou e sentou-se de frente para mim. Alessia colocou um termômetro na frente do meu rosto e por um momento idiota eu pensei que ela mediria minha temperatura, mas lentamente comecei a perceber que aquilo não era um termômetro. Minha respiração ficou presa na garganta. — Estou grávida. Eu preciso de você. Nós precisamos de você. 

Desviei os olhos do teste de gravidez positivo até encontrar o rosto dela. Alessia estava chorando, grandes lágrimas corriam por seu belo rosto que estava vermelho, assim como seus olhos cor de mar. 

— Há quanto tempo? — Perguntei. Minha voz soou rouca pelo desuso. 

— Não sei. Eu fiz o teste há três dias, mas preciso ir ao médico para saber mais. 

Meu coração acelerou dolorosamente no peito e por um momento eu quis pegar a arma na cabeceira e enfiar uma bala na minha própria cabeça. Alessia estava na minha frente, chorando e pedindo para que eu estivesse com ela, mas eu não conseguia me livrar do meu próprio surto para consola-la. 

— Nico… Eu te amo. — Ela disse baixinho. Meu coração acelerou com suas palavras; eu quis tanto que ela tivesse dito no dia em que eu falei, mas ela não disse e agora parecia que estava apenas tentando arrancar uma reação de mim. Seus olhos azuis brilharam em sinceridade ao mesmo tempo que pareciam me implorar por algo. As palavras queimaram na minha garganta; Eu também te amo. Eu te amo muito. Mas não consegui dize-las. — Nico, por favor. 

Ela estava implorando. Alessia era orgulhosa e destemida, ela não implorava. Mas agora ela estava. Lentamente ergui minha mão e coloquei sobre o estômago dela; não havia nada diferente, nunca poderia saber por sua aparência que ela estava grávida, que carregava um filho meu, um maldito Parisi condenado a escuridão. Alessia respirou fundo, esperança dançando em seus olhar marítimos. Eu tentei, tentei dizer algo, tentei dizer que ficaria tudo bem, que eu a amava, que faria tudo por ela e por nosso filho, mas as palavras me faltaram. Eu queria chorar. Chorar colocaria para fora toda a dor que eu sentia, faria a angústia ir embora, no entanto, meus olhos haviam secado, não havia mais lágrimas. O rosto de Alessia se entristeceu novamente, mas também havia determinação e ferocidade quando ela segurou meu rosto com força entre suas mãos delicadas. 

— Eu estou aqui. — Ela disse com tanta convicção que meu coração acelerou. — Eu te amo, Nico. E eu estou aqui. 

Eu. 
Te. 
Amo. 

Quando ouvi isso pela última vez? Eu não me lembrava. Provavelmente Nino tinha dito em algum momento, mas nada vinha a mente. Eu também não me lembrava de dizer aquelas palavras antes do dia em que disse a Alessia; eu era um homem de ação. Eu mostrava a Luca que o amava quando lutava todos os dias por ele, eu mostrava que amava a Camorra quando eu sangrava pelos meus soldados todos os dias. Eu mostrava que amava Alessia quando me impedia de segurar a garganta dela e apertar até descontar toda a porra de angústia que eu sentia. Lentamente forcei minhas mãos em direção a ela e a puxei para meus braços. Seu corpo estremeceu contra o meu e ela aninhou a cabeça em meu peito. 

— Acabou. — Eu disse a ela com toda a certeza que não sentia. — Nosso casamento acabou. 

Alessia rapidamente se afastou com os olhos arregalados de choque. 

— O que você está dizendo? 

— Te colocarei em um avião e te mandarei para New York, para ser protegida por Thomaz. Quando meu filho nascer, você poderá retornar a Las Vegas, mas não mais como minha esposa. É claro que no papel continuaremos casados, mas fora do que é preciso, eu não serei mais nada para você. Você me deu um herdeiro, e é isso. — Minha boca ficou amarga ao dizer aquilo. Alessia balançou a cabeça efusivamente. 

— Você não vai me afastar, está me ouvindo? Você me ama! Eu sei que ama! Você está com dor, mas vai passar. Eu vou estar aqui com você, vou te ajudar. Eu te amo, Nico! 

Eu me levantei da cama, fugindo de seus olhos cheios de lágrimas, fugindo de seu toque gentil, fugindo de suas palavras. Eu a amava, amava mesmo, e por isso eu a deixaria ir. Daqui para frente tudo só pioraria. 

— Nico, por favor. Não faça isso comigo. — Alessia soluçou. — Por favor, não tire de mim tudo que eu mais amo. 

— Me amar é um jogo perdido. — Eu disse dando de ombros. — Você vai ser mais feliz em New York. 

— EU NÃO POSSO SER FELIZ LONGE DE VOCÊ! — Alessia gritou, suas palavras como facas em meu coração. Tinha doído menos quando ela dissera que tinha nojo de mim. Minha esposa pulou da cama e me agarrou pelo colarinho da camisa fazendo seu rosto se colar ao meu. — Eu nunca vou te perdoar se você fizer isso. Nunca! 

— Bom. — Eu disse mesmo que as palavras queimassem minha língua. — É o que espero.

Alessia deu um passo para trás, os olhos cheios de ultraje e descrença. 

— Porque você não consegue uma vez na sua vida aceitar que alguém te ama? Por você procura a miséria, a solidão, a dor? Você está trazendo isso para si mesmo, Nico! Você me ama e quer me afastar! — Alessia parecia fora de si, seu rosto tão lindo desfigurado pela fúria. — Você me ama! 

— Não amo! — Eu sibilei, a mentira deslizando facilmente para fora dos meus lábios. — Eu só disse aquilo para te impedir de me odiar, eu… 

Alessia me calou com a porra de um tapa na cara. Minha cabeça zumbiu pelo imapcto, eu não podia imaginar que ela tinha tanta força. 

— Você acha que eu sou idiota? Eu sei quando você está mentindo e falando a verdade; eu vejo a honestidade no seu rosto e não há nenhuma honestidade agora, Nico! 

— Foda-se no que você acredita ou não, amanhã você vai voltar para New York. — Eu praticamente gritei; eu teria quebrado cada fodido dedo da mão dela por me estapear se ela não fosse minha esposa. 

— Eu te amo. — Ela disse numa voz surpreendentemente firme, seu rosto havia endurecido. — Lembre-se disso, lembre-se que eu te amava quando você se sentir sozinho e perceber que a pessoa que implorou por seu amor foi embora porque você quis. Lembre-se desse dia como o dia que você destruiu qualquer chance de felicidade entre nós, porque eu vou lembrar. 

Em passos decididos Alessia saiu do quarto, mas pude ver os ombros dela tremerem antes dela passar pela porta.

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora