CAPÍTULO 38.

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ALESSIA

Nico me enviou uma mensagem dizendo que estava resolvendo um problema quando a campainha tocou. Nossa governanta não estava em casa para atender, por isso, desci as escadas com resignação e caminhei por todo enorme lobby de mármore até abrir a porta. Arqueei as sobrancelhas em confusão quando encontrei Dante Gianini em minha porta. 

— Senhor Gianini, Nico não está… Aconteceu algo? 

Dante abriu um sorriso tenso em minha direção. 

— Eu sei que Nico não está. Gostaria de ter uma conversa particular com a senhora, sobre assuntos que lhe dizem respeito. 

Eu o olhei desconfiada. Porque diabos ele iria querer falar comigo quando sabia que meu marido não estava em casa? 

— Claro, podemos conversar nos jardins, onde meus guardas podem observar a distância. 

Pensei que Dante faria alguma objeção, mas ele fez um sinal para que eu o seguisse para os jardins ostentosos da mansão Parisi. Eu caminhei atrás dele, mas parei quando passei por um dos guarda costas que vigiavam a entrada imediata da casa. 

— Irei conversar com o Senhor Gianini nas mesas próximas a piscina. — Eu informei sutilmente como se precisasse informar algo aos guardas, mas era uma clara mensagem: eu estava com Dante Gianini na piscina e se algo acontecesse comigo, era obra dele. O guarda loiro e muito mais alto que eu assentiu e eu voltei a caminhar atrás de Dante. 

— Senhora Parisi, eu não tenho muito tempo. Seu marido pode voltar a qualquer momento, então, irei direto ao assunto. — Dante começou assim que nos sentamos numa das mesas redondas dispostas ao redor da enorme piscina. — Eu estou me arriscando muito vindo até a senhora, mas é uma atitude desesperada, o último movimento que posso fazer para salvar a Camorra. 

— Se é um assunto da Camorra, imagino que deva conversar com meu marido. — Eu disse casualmente mesmo que meu coração estivesse acelerado no peito. Eu não estava gostando nenhum pouco daquela conversa. 

— Eu preciso salvar a Camorra de seu marido, Alessia. — Me arrepiei por inteiro com suas palavras e sua expressão exasperada; seja o que fosse, Dante realmente estava arriscando muito vindo até mim. — Nico Parisi matou o próprio irmão gêmeo para ser o único que pudesse conquistar o título de Capo, e quando seu pai descobriu, ele o matou. Traiu sua família e a Camorra. Ele é instável e insano, a qualquer momento pode destruir centenas de anos que passamos construindo a Camorra nos Estados Unidos. 

— Nico não matou seu irmão, Nino Parisi tirou a própria vida. — Sibilei com raiva. A própria Clarice tinha me dito que Nino tinha se matado. Se Dante achava que poderia me usar em algum jogo distorcido, estava muito enganado. 

— Foi o que Nico disse, Alessia. Mas eu tenho provas. — Me assustei quando Dante abaixou as mãos para a bolsa que estava atravessada em seu peito. Esperei que ele tirasse uma arma, mas ele apenas retirou um notebook de dentro dela e o abriu em sua frente. — Aqui está. Seu marido matando o irmão gêmeo aos dezesseis anos. 

Dante empurrou o notebook em minha direção e deu play no vídeo. Meu coração errou uma batida ao ver Nico e seu irmão idêntico se enfrentando numa confusão de sangue e golpes; eu não sabia quem era quem naquela luta, mas logo pude perceber quando os gêmeos caíram no chão, um sentado na cintura do outro. Um longo minuto se passou e pelo ângulo da câmera, só pude ver quando o gêmeo deitado no chão movimentou as pernas e empurrou a faca para o peito do outro. Pulei na cadeira, susto e dor atravessando meu peito. Nico estava vivo, então, o outro só poderia ser Nino. Nino que Nico havia assassinado a sangue frio. O vídeo foi cortado e mudou para a cozinha da mansão; um homem loiro estava no chão, o rosto vermelho conforme segurava a garganta. Nico encarava tudo com um sorriso calmo, comendo uma fatia de pizza. Fechei os olhos com força tentando tirar as imagens da cabeça. 

— Nico assassinou o próprio irmão, e o próprio pai, o Capo da Camorra. Ele traiu seu próprio sangue e, sua mãe… A coitada ficou tão chocada com tudo, que se matou com um tiro na cabeça, mas não antes de afogar o bebê de seis meses que tinha. — Dante suspirou. — Você é a última salvação da Camorra, Alessia Vacchiano. 

— O que… O que eu poderia fazer? — Minha voz saiu fraca; dolorosamente frágil. 

— Nico é fortemente protegido. Você é a única que pode fazer algo. Eu tenho um frasco de veneno que fará tudo parecer como um ataque cardíaco. Nico morrerá e Luca assumirá como Capo. — Dante respirou fundo. — Eu sei que a senhora está confusa, mas Nico é um grande perigo. Se ele matou o irmão que nasceu com ele, porque não faria mal a senhora? Ou aos filhos que terão no futuro? 

— Ele é… Ele é meu marido… — Eu sussurrei amedrontada e Dante segurou minha mão por sobre a mesa. 

— Ele é um monstro, Alessia. Você precisa saber disso. 

— E o que acontecerá comigo, então? 

— Você voltará para New York, para a proteção de Thomaz Rizzi. 

— Luca sabe disso? 

— Não, para todos será apenas uma fatalidade e Luca irá assumir porque é o Consigliere. 

— Farei isso, Dante. — Garanti. — Tudo que eu mais quero é me livrar desse casamento infeliz. 

Dante sorriu vitorioso, um quê de malícia em seu olhar. 

×
×
×

Me sentei na cama segurando um copo de Whisky. Nino me olhou com curiosidade, eu nunca tinha bebido algo forte. Mas não era pra mim. 

— Preparei para você. — Disse-lhe totalmente séria. Mais confusão encheu o rosto de Nico e ele caminhou em minha direção, estendendo a mão para o copo. Sua confiança em mim era tamanha que sequer perguntou nada antes de pegar o copo e levá-lo até a boca. Segurei seu pulso antes que o copo tocasse seus lábios. — Está envenenado. 

Nico soltou uma risada baixa, mas toda diversão sumiu de seu rosto quando ele viu a seriedade em meus olhos. Apertei o braço dele com mais força, com medo de que ele simplesmente experimentasse. 

— Que tipo de brincadeira é essa? — Meu marido perguntou cuidadosamente. 

— Não é uma brincadeira. O whisky está envenenado. 

— Porque? — A única palavra estava repleta de… Decepção? 

— Eu quero que você me diga o que exatamente aconteceu com Nino Parisi e então, eu irei te contar o motivo do veneno. E eu juro Nico, você quer saber. Não é sobre mim ou sobre você, é sobre a Camorra. 

— Eu poderia te fazer falar. — Meu marido pontuou. 

— Mas você não fará. — Eu disse com convicção. — Você não me torturaria. 

Nico me encarou por um longo momento e deixou o copo de whisky na mesa de cabeceira. Lentamente, meu marido se sentou de frente para mim no meio da cama e segurou meu rosto entre suas mãos calejadas; Nico se inclinou e pressionou um beijo nos meus lábios antes de colar a testa a minha e respirar fundo. 

— O que você está fazendo? — Perguntei com cuidado. — Não tente me distrair. 

Nico sorriu, um sorriso sem humor, completamente desesperançado. 

— Beijando você uma última vez antes que você me olhe como o monstro que sou e sinta tanto nojo que não aguentará mais receber qualquer toque meu. 

Meu coração errou uma batida e antes mesmo dele abrir a boca, eu já havia começado a chorar. 

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora