CAPÍTULO 31.

7.9K 767 33
                                    


ALESSIA. 

Nico se jogou sobre mim instantaneamente, não me dando tempo de sequer ver o que estava acontecendo. Seu corpo forte me pressionou contra o chão ao mesmo tempo que ele puxava a pistola do coldre no peito e a destravava. Gritos encheram o salão, tão altos e desesperados que eu não conseguia ouvir meus próprios pensamentos. Os tiros foram mais altos, ferindo meus ouvidos. Nico me arrastou para debaixo de uma das mesas e eu segurei seu braço antes que ele me deixasse. 

— Cuidado! — Pedi sobre a barulheira dos tiros e gritos. Nico puxou seu braço para longe do meu alcance e tudo que eu podia ver era suas panturrilhas cobertas pela calça preta. 

O barulho foi ensurdecedor; os tiros estavam vindo do outro lado do salão, mas agora Nico disparava bem ao meu lado. Meu marido se abaixou quando uma rajada veio em sua direção; não, nossa direção, eu gritei me encolhendo mais sob a mesa. Eu não tinha nenhuma ilusão que a toalha fina me protegeria de uma bala, mas geralmente os tiros não eram na altura sei chão; desde que não soubesse que eu estava ali, não havia risco de uma bala me atingir. Ainda assim, o pânico me tomou. Alestra tinha morrido num tiroteio. Havia tanto sangue… 

.

OITO ANOS ATRÁS.

Corri em direção ao beco que nos levaria até a saída. Papai havia dito que deveríamos correr para a saída de emergência quando as coisas estivessem realmente ruins, por isso eu e minhas irmãs saímos correndo. Carina nos guiou em sua frente, era a mais velha, era a solução lógica que ela ficasse para trás, mas ainda assim eu não gostava da ideia, queria que estivessemos lado a lado. 

— Corram e não parem! — Carina ordenou. 

Cinzia foi a primeira a seguir sua ordem, ela tinha medo do escuro e mesmo assim correu pelo breu. Alestra me segurou com força, apertando suas unhas em meu braço e praticamente me arrastou atrás de nossa irmã mais nova. 

— Mais rápido! — Carina pediu. Faltava tão pouco para chegarmos ao boeiro. Um tiro ecoou nos túneis subterrâneos e Alessa gritou. — Mais rápido! 

Não foi suficiente. Carina caiu de joelhos gritando, seu rosto ficando da cor de seus cabelos vermelhos. Havia tanto sangue nela, em suas costas, em seu rosto. 

— CARINA! — Gritei. Alessa correu em direção a nossa irmã, se jogando no chão ao lado dela.

— Corra, Cinzia! — Alestra ordenou, tomando para si o papel de líder. 

— São crianças! — Carina gritou em meio a dor. — Deixem elas irem! 

Eu não sabia com quem ela estava falando, Alestra me mantinha impressada contra a parede com uma mão enquanto estendia a outra para Alessa, pronta para puxa-la a qualquer instante. 

— Saía de perto delas! — Eu reconhecia aquela voz. Era Salvatore Rizzi, o pai de Thomaz, Samael e Samuel. Ele não deixaria nada nos acontecer, ele era o Capo, a maior autoridade do nosso mundo. 

No entanto, aconteceu. Num fração de segundos meu mundo todo caiu, assim como o corpo de Alestra que recebeu uma bala entre as sobrancelhas; ela estava morta antes mesmo de tocar o chão. 

— NÃO! — Alessa gritou, outro tiro soou. Eu não estava mais ouvindo; não estava mais dentro do meu corpo. Alestra estava no chão, sangue ao redor de sua cabeça. Morta. 

Morta. 

Morta. 

Morta. 

— NÃO! — Alessa gritou novamente, ela estava chorando. Eu não precisava olha-la para ver as lágrimas. Eu também estava. 

Morta.

Morta.

Morta. 

No entanto, nada doeu mais do que o que vi a seguir. Mamãe emergiu na escuridão e olhou em direção ao corpo morto de Alestra. Eu não conseguia me mexer; não conseguia fazer nada. Mamãe gritou, um som alto, doloroso, que doeu em cada célula do meu corpo. Minha mãe sempre era tão forte, tão rigorosa, e agora ela estava caindo de joelhos, gritando e chorando, pedindo a Deus para que salvasse sua filhinha enquanto segurava o corpo inerte de minha irmã em seus braços. O sangue manchou sua pele e suas roupas. 

Morta.

Morta. 

Morta. 

Alessa também se ajoelhou ao lado de minha irmã, mas eu não conseguia me mexer. Pelo canto do olho vi Salvatore puxar Carina para seus braços, ela estava desacordada, mas estava viva. Alestra estava morta, ela não. Porque eu não conseguia me mexer? 

Morta. 

Morta. 

Morta. 

Alestra estava morta e parte de mim também estava. Talvez eu também estivesse morta, esse era a única explicação para não conseguir me mexer. Alguém me puxou para longe, eu não entendi quem era a princípio, porque eu nunca tinha o ouvido dizendo palavras suaves. 

— Você está ferida? — Thomaz perguntou suavemente, mas não tinha nenhuma resposta. Ele era muitos anos mais velho que eu, eu nem sabia o quanto, e ele nunca tinha falado comigo, principalmente, nunca havia sido gentil. Quando não respondi, Thomaz me puxou para seus braços e segurou meu corpo deitado em seu colo, me levando para longe de Alestra, de mamãe gritando, de toda a dor. 

Infelizmente, ele não conseguiu me levar para longe da dor.  

PRESENTE.

— Alessia! — Alguém me sacudiu, me puxando para fora do meu estupor. Arquejei de medo antes de perceber que era Nico e que ele estava me puxando para longe da proteção da mesa, para o campo aberto. — Alessia, já passou! 

Um soluço escapou de meus lábios e eu tremi por inteira. Havia escondido aquelas emoções no fundo da minha mente, tinha deixado tudo aquilo longe, o mais longe possível, e agora a dor e o desamparo voltaram com tudo. Nico me lançou um olhar consternado antes de se aproximar mais e me puxar para seus braços, apertando-me contra si. 

— Shhhh. Já passou. A ameaça está contida. — Nico sussurrou contra meu ouvido, acariciando meus cabelos com a palma aberta. Porque ele tinha que fingir que se preocupava? Porque meu coração se aquecia com seu falso carinho? Solucei mais alto, um som feio e doloroso. Nico me apertou mais em seu abraço e beijou minha cabeça. — Tudo bem, querida. Não precisa ter medo. Acabou. Já passou. 

— Não, não passou… Ela se foi… Ela se foi… Alestra se foi. 

— Alestra? Quem é Alestra? — Nico perguntou genuinamente confuso. Eu nunca tinha falado de minha irmã para ele, mas não tive tempo de responder quando alguém se aproximou de nós correndo, fazendo com que eu me encolhesse mais contra Nico. 

— Luca levou um tiro! — A pessoa gritou. 

Senti o corpo de Nico enrijecer e depois estremecer por inteiro.

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora