CAPÍTULO 29.

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ALESSIA

Destruída. Eu me sentia destruída. Quando caminhei por aquela igreja, pensei que estava salva de Nico porque ele não poderia destruir um coração destruído, mas agora, enquanto encarava os móveis luxuosos do meu novo quarto, sabia melhor. Nico conseguira resgatar fragmentos do meu coração e depois os quebrou tão violentamente que eu quase pude ouvi-lo trincar várias vezes. Havia sido tola, havia confiado nele porque achava que seus sentimentos eram reais mas não, ele só havia feito o que precisava para me desarmar, para que eu confiasse nele o suficiente para me entregar a ele. Eu tinha que reconhecer sua inteligência, tinha que reconhecer o quão bom ator ele era. Nos últimos dias, eu até mesmo acreditei que ele pudesse me amar. Acreditei que ele estava até mesmo começando a me amar. Burra. Eu fui tão burra. As lágrimas haviam secado depois de horas chorando no escuro, e agora, tudo que restava eram olhos secos e arregalados demais para dormir, rosto inchado e um coração completamente estilhaçado. Eu sabia meus limites, sabia tudo que poderia ou não aguentar, e definitivamente, eu não me recuperaria daquilo. Nico havia conseguido… Tinha me destruído de vez. 

Não me levantei na manhã seguinte, nem nas que vieram depois. Não sentia fome, não sentia sede, não sentia nada exceto o buraco crescente em meu peito. Tinha lutado tanto para vencer a depressão que me seguiu depois da morte de Alestra, mas agora ela havia voltado; suas mãos negras me seguravam na cama, me impediam de levantar, de viver, de responder minhas irmãs ou meus pais. Não poderia estar mais errada ao dizer que era uma casca vazia quando me casei com Nico, pois só agora eu sabia o que era estar vazia, desiludida de qualquer amor ou esperança. Até me casar com ele, eu tinha chances de ser feliz. Ao conhecê-lo melhor, pensei que ainda tinha essas chances, mas agora, naquele quarto escuro e sem vida, eu sabia que qualquer ideia de felicidade havia partido. 

E o pior de tudo, é que eu não queria acreditar que o gentil e amável homem que conheci era apenas uma farsa, um ato protagonizado por um ator experiente. Tudo aquilo havia sido por sexo? Sexo que ele poderia conseguir em qualquer lugar? Mas eu não ousava ter esperanças, Nico não tinha nenhum motivo para mentir, não tinha nenhum motivo para me convencer de que era um monstro fodido.

Os dias passaram com lentidão, uma mistura de desesperança e tristeza profunda preenchendo as horas. Eventualmente me levantei e tomei banho, também acabei comendo uma coisa ou outra na cozinha quando tinha certeza de que Nico não estava em casa. Na quinta feira, duas semanas depois da nossa volta a Las Vegas, Alessa me ligou. Ignorei as cinco primeiras chamadas, mas quando percebi que ela não disistiria, acabei por atender o telefone. 

— O que está acontecendo? — Minha irmã perguntou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. 

— Como assim? 

—  Estou sentindo um mal estar há dias, e tenho certeza que você está mal. Não liguei antes porque imaginei que não queria falar comigo, mas porra, o que está acontecendo? Você está mal?

Suspirei. Muitas vezes em minha vida tinha me sentido horrível em alguns momentos, sem nenhum motivo, e logo depois descobri que minhas irmãs gêmeas estavam passando por algo ruim no momento em que me senti mal. Não era diferente com Alessia ou Alestra, mas uma delas estava morta e não podia mais prever minha dor. 

— Estou bem. — Menti. 

— Até sua voz está estranha, Alessia. O que houve? Você não está bem.

Minha respiração saiu dura quando o choro me tomou. Solucei segurando o telefone contra a orelha, meu coração doendo tanto que parecia querer explodir. 

— Alessia… 

— Você estava certa sobre Nico. — Respondi entre um soluço doloroso. — Ele não é quem eu pensava. 

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora