CAPÍTULO 45.

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SETE ANOS ATRÁS. 
LAS VEGAS.

Carmine Parisi ordenou seus soldados a arrasterem Nico para o quarto do Pânico, o adolescente se contorceu em seus braços, gritando e chorando. O homem acharia um sinal de fraqueza ver um soldado chorando, mas naquele momento não se importou. Sabia que tinha pedido demais do filho, sabia que o menino havia sido quebrado. Conforme Nico era trancado, os médicos da Camorra entraram na sala de tortura, prontos para fazer o que fosse preciso para Nino sobreviver. Carmine não deixaria seu filho morrer, mas se morresse, era a ascenção do mais forte sobre o mais fraco. Durante a luta, Carmine realmente pensou que Nico perderia, que ele daria a vida pelo irmão, mas como sempre, Nino tinha sido mais inteligente. Enquanto Nico era impulsivo e emotivo, Nino era um jogar lógico. Carmine não se envolveu em nenhum dos preparativos para a cirguria do filho, nem se importou que ele tivesse que ser levado ao hospital. Preocupação nunca tinha sido seu forte, nem empatia ou qualquer sentimento meramente humano.

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Nino havia sobrevivido por um golpe de sorte. A faca atravessou seu peito e milagrosamente não acertou seu coração ou veias principais; o garoto até mesmo já estava fora de perigo depois de dois dias no hospital. Quem não estava bem era seu filho e sua esposa; ambos não comiam, encaravam o nada. Carmine deixaria-os ter uma semana de folga para que pudessem se reerguer e depois exigiria que voltassem a agir como agiam antes. No entanto, três dias após a falsa morte de Nino, sua esposa Elaine deu um tiro na cabeça e afogou na banheira seu filho mais novo, Juliano. O homem encontrou Nico dentro do quarto, ajoelhado sobre o sangue da mãe enquanto embalava nos braços o irmão morto. Pela primeira vez na vida, o homem acreditou no ódio que o filho dele sentia. O olhar de Nico despertou todos os alertas de Carmine; ódio puro e líquido, algo quebrado e mortal. 

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— Pai… — Nino tossiu. — Eu quero ver Nico… 

O homem olhou ao redor, para o porão de ferro sem nenhuma janela ou vida. No começo, Carmine mantinha soldados vigiando-o, mas não mais. A ascenção de Nico estava cada vez mais alta, homens o idolatravam em segredo. A maioria de seus soldados leais já não eram mais leais a ele; eles queriam Nico Parisi no poder, ansiavam pelo homem cruel e sanguinário que seu filho tinha se tornado. O antigo garoto agora torturava e matava, tinha destruído os fodidos russos do território e trago paz e glória para a Camorra. Do jeito que Nico estava indo, embreve os Camorristas exigiriam que ele se tornasse Capo, e isso não iria acontecer. 

— Já faz dois anos, pai… — Nino tentou de novo. Ele havia emagrecido drasticamente preso ali, sua pele sempre fora clara, mas agora era tão pálida quanto uma folha de papel, efeitos da falta de sol. Carmine sabia que seu filho estava vegetando naquele lugar, mas não faria nada a respeito. Se ele se unisse novamente a Nico, ele não conseguiria controla-los. 

— Trouxe pizza para você, para comemorar seu aniversário de dezoito anos. — Carmine disse colocando a pizza no chão ao lado de Nino. — Feliz aniversário, Nino Vincenzo.

— Você também vai levar pizza para o Nico? — Nino perguntou se sentando no colchão. Rapidamente o garoto abriu a caixa e pegou uma fatia da pizza, comendo metade em uma única mordida. O coração de pedra de Carmine se contorceu ao ver o filho comer uma pizza normal de um estabelecimento qualquer com tanta fome e felicidade. 

— Sim. Nico também terá pizza. 

Nino assentiu e antes que Carmine pudesse sair, já tinha comido três fatias inteiras. 

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Carmine chegou em casa e colocou uma nova pizza sobre a mesa da cozinha antes de pedir a governanta para chamar Nico. Nico entrou na cozinha desconfiado, olhando ao redor com cautela. Carmine sabia o quanto ele o odiava e que esperava uma armadilha, mas não teria uma armadilha naquele dia. Não para Nico. 

— Trouxe pizza. — Carmine disse simplesmente. — Para seu aniversário. 

Nico abriu a caixa e olhou atentamente para o alimento. Ele não estava desesperado por comida, não. Ao contrário de seu irmão ele estava bem alimentado, uma pizza não ganharia sua simpatia. 

— Porque você não come um pedaço primeiro? — Nico perguntou com um sorriso falsamente inocente nos lábios. Carmine riu e puxou uma fatia de pizza para si, dando uma grande mordida. 

— Se desarme, Nico. Não tem veneno. 

Nico riu também, uma risada forçada para parecer humorada e caminhou até a geladeira de onde tirou uma garrafa de vinho. Com lentidão, o garoto serviu duas taças e entregou uma ao pai. 

— Porque você não bebe um gole primeiro? — Carmine perguntou no mesmo tom que Nico usara, fazendo o garoto rir. Nico bebeu um longo gole de sua taça. 

— Sabe, pai. Há dez anos atrás, no meu aniversário de oito anos… Você lembra o que fez? 

Carmine engoliu em seco. Era a única coisa que tinha feito ao filho que se arrependia amargamente todos os dias de sua vida, mas nunca diria isso a ele. 

— Foi para te fazer mais forte. — Carmine disse por fim. Nico estremeceu. 

— Você me estuprou para me fazer mais forte? Você fodeo seu filho de oito anos como a porra de um animal para faze-lo mais forte? — Nico tremia como nunca antes; relembrar aquilo era um choque em seu sistema. A forma como seu pai segurou sua nuca enquanto fazia o que fez eram pesadelos vividos que tinha todos os dias e dez anos depois ainda não saira de sua mente. Ele tinha tentado proteger sua mãe quando viu seu pai fazendo o mesmo com ela, mas tudo que conseguiu foi cicatrizes que nunca poderiam ser curadas. 

— Aquilo realmente passou do limite. — Carmine disse dando um longo gole na sua taça de vinho; algo dentro de Nico quebrou. 

— Passou dos limites? Quando você segurou minha nuca e se enfiou dentro de mim da forma mais nojenta e cruel que alguém poderia fazer ou quando você obrigou minha mãe a observar enquanto você o fazia? Ou melhor, talvez depois, quando você disse que era melhor eu não ter gostado? 

Carmine tossiu alto e caiu de joelhos no chão, o corpo todo estremecendo. Nico sorriu. 

— Porra, pai. Amendoim não me faz nenhum mal, mas para você, com essa alergia horrível que tem… — Com lentidão, Nico se ajoelhou frente ao pai dele. — Isso é por minha mãe, por Nino, por Juliano, por mim.

Nico continuou olhando conforme seu pai tentava a todo custo puxar o ar para seus pulmões. Desde criança Nico sabia: Nunca dê amendoim ao papai, ele não pode comer. Ele vai morrer se comer. Nico riu. Sabia que seu pai não aceitaria tomar nada que ele oferecesse sem que tivesse que tomar antes, então, veneno estava fora de questão, mas amendoim não faria nada a Nico, diferente de seu pai que estava tendo um fodido choque anafilático. Se matar seu pai não fosse um crime pelo qual ele morreria dentro da máfia, Nico teria torturado e esfolado o bastardo vivo antes de queima-lo, mas ele precisava ser sábio, precisava ter a inteligência de Nino naquele momento. No entanto, ele se sentiu satisfeito, a morte lenta do pai, enquanto ele buscava por ar e se contorcia no chão foi deliciosa de se acompanhar. 

— Que o inferno seja tão caloroso quanto os braços de suas amantes, Papai. — Nico murmurou sorridente antes de se colocar de pé. 

A morte de seu pai foi seu melhor presente de aniversário e ele comemorou passando a noite deitado sobre o túmulo do irmão; o que Nico não sabia, era que seu irmão não estava enterrado. Nino estava deitado no chão frio, se abraçando e pedindo aos céus que um dia pudesse rever seu irmão.

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora