CAPÍTULO 10.

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NICO

Sempre tinha sido autoconsciente, notava mais meus defeitos do que qualidades, me punia por coisas que eu sabia não serem minha culpa. No fundo, eu sabia da minha beleza, sabia do efeito que tinha sobre as mulheres, sabia que meu corpo era desejado por elas, mas quando Alessia me olhou admirada e disse que eu era lindo, algo mudou dentro de mim. No entanto, eu sabia que ela estava vendo o exterior, a casca de bom homem que eu tinha criado e aperfeiçoado ao longo dos anos. Nem toda beleza do mundo me pouparia do nojo que Alessia sentiria de mim quando me conhecesse de verdade, quando soubesse quem eu realmente era. Infelizmente, quando meu celular vibrou em meu bolso, eu tive um lembrete claro do monstro em mim, do que precisava fazer. 

LUCA: pegamos dois bastardos da Outfit dois dias atrás, mas não querem falar, precisamos de suas técnicas de tortura.

LUCA: estamos no porão da Onzea.

LUCA: Vc vem???

Respirei fundo ao ler as mensagens do meu irmão mais novo e guardei o celular no bolso antes de dar um beijo rápido em Alessia. 

— Preciso sair. Problemas com os negócios. — Dei o mínimo de informacoes possíveis, sabendo que não poderia contar a Alessia o que realmente iria fazer se não quisesse perder o brilho de carinho que ela tinha nos olhos ao me olhar. Alessia suspirou e acariciou meu braço num gesto calmo. 

— Estarei aqui quando voltar. — Ela informou e eu não pude evitar sorrir. Ela não tinha para onde ir, afinal. 

×
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× 

A viagem até a Onzea, uma boate no centro da cidade, durou menos de quarenta minutos. Morar nos limites da cidade atrapalhava meus negócios, mas quando na vida meu pai não tinha me atrapalhado? Desci do carro rapidamente e atravessei as portas de ferro da entrada e olhei ao redor para a boate vazia; odiava quando Luca simplesmente ignorava minhas ordens e fechava o andar da boate porque achava que os clientes se meteriam nos nossos negócios; ninguém mexia com nossos negócios se tivesse amor a vida. Destranquei com minha chave a porta estreita de ferro atrás do bar e desci as escadas em passos rápidos, adentrando o subterrâneo. A enorme sala sem janelas me cumprimentou quando pisei no chão, Luca foi o primeiro a se colocar de pé. 

— Ei, pensei que não viria. — A aparência de meu irmão era parecida comigo: mesmos cabelos loiros, mesmos olhos azuis, mesma pele pálida, mas a semelhança terminava aí. Enquanto eu me esforçava para ser um homem de negócios respeitável para as pessoas de fora, Luca fazia questão de mostrar quem era com seu corpo repleto de tatuagens das pernas ao pescoço e atitude insolente. 

— Tinha acabado de chegar de New York quando você mandou mensagem. — Respondi, mesmo que não devesse satisfação alguma ao moleque de dezessete anos. No entanto, eu não conseguia ser frio e distante com Luca, nem mesmo quando ele merecia uma surra. Ele era a única família que tinha me restado e apesar de nunca ter dito, o amava. Luca apontou para a porta de metal no canto da sala. 

— Eles estão ali. 

— Há quanto tempos eles estão sem dormir? — Perguntei ao me aproximar da porta. Se Luca não tivesse se lembrado da primeira regra ao torturar alguém, eu torturaria ele.

— Desde que os pegamos. Lucius usou sons e claridade para os manter acordados por… — Luca olhou para o caro relógio em seu pulso. — quarenta e seis horas agora. 

Com um último olhar para meu irmão, adentrei a sala e tranquei a porta atrás de mim. Os dois soldados de Chicago me olharam assim que pisei na sala; estavam acordados, mas extremamente cansados. Mesmo amarrados em suas cadeiras, eles ergueram o rosto desafiadoramente. Sorri. Não havia graça em quebrar alguém que já estava quebrado. 

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora