CAPÍTULO 16.

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NICO



Bati a porta do quarto de hóspedes com força e respirei fundo. Minhas mãos tremiam ao segurar a foto e cada célula do meu corpo sentia uma dor esmagadora. Havia escondido todas as fotos dele quando Alessia veio morar na mansão, mas havia esquecido uma. Analisei seu rosto tão parecido com o meu, os cabelos loiros que ele cortara porque meu pai exigia que parecessemos diferente. Ele sabia que eu amava meu cabelo grande, sabia que eu não queria cortar, e no dia em que a foto foi tirada, mesmo também gostando do cabelo grande, ele os cortou para que eu não precisasse faze-lo. Ele havia sido a calma e a gentileza, e eu, fúria e proteção. Quando eu surtava, ele me acolhia em seus braços e dizia que tudo ficaria bem. Quando ele fazia algo errado, eu falava que tinha sido eu e recebia o castigo de nosso pai em seu lugar. Éramos equilíbrio. Eu sempre tinha sido fogo, mas ele era a água que me apagava, nunca a gasolina. E agora eu estava sozinho, segurando uma foto de nós dois juntos, sabendo que nunca mais estaríamos juntos. Deixei a foto no quarto e saí de casa novamente, precisava extravasar a raiva, precisava por pra fora o que estava sentindo. Assim que estacionei em meu destino, meu celular começou a tocar repetidamente. O nome de minha esposa em meu celular ainda era Alessia Vacchiano, eu precisaria mudar quando tivesse tempo. Saí do carro em passos rápidos e olhares de receio dos meus soldados me seguiram conforme adentrei o Aquarium. Eles sabiam bem o que acontecia quando eu chegava ali transtornado como estava. A enorme gaiola especializada para prender os tubadores dentro do próprio mar me saudou quando atravessei o amarzem de entrada e parei no corrimão de frente para a água. Eram milhares de quilômetros de ferro e vídeo especial, mantendo os dois tubarão-tigre sob meu poder. Até mesmo os monstros do mar se curvavam a mim.   Manter tubarões assim era contra a lei, mas o que na vida não era contra a lei? 

— Veio visitar Kiko e Mad? — Giulia, a bióloga marinha e veterinária responsável pela saúde dos grandes bichos perguntou quando me viu. Ela tinha esperanças que um dia eu respondesse que era só uma visita, não um assassinato. A mulher loira de pouco mais de trinta anos tinha se afeiçoado aos seus bichinhos, e odiava que eu os usasse para tortura, mas eu era seu Capo, e ela nunca me diria isso abertamente. 

— Você sabe que não, Gi. — A chamava de Gi porque todos ao seu redor faziam o mesmo; Giulia era seu nome de enfeite, nenhuma pessoa a conhecia por ele. — Vá dar uma volta. 

Giulia assentiu resignada, odiava o que eu fazia, mas não tinha coragem de protestar, afinal, seus bichinhos de estimação não hesitariam em come-la se eu a jogasse sangrando em seus tanques. Quando a loira se foi, saí do grande armazém e desci as escadas em direção a prisão subterrânea. Somente a escória estava ali, os aliciadores de menores, os pedófilos, os estupradores de mulheres e meninas. Eu os odiava com todas minhas forças, odiava o que tinham feito e os puniria por isso. Em meu território, nenhuma pessoa encostava em crianças. Nenhuma. Todos eles teriam sua vez no tanque de tubarões, mas a espera era o que mais lhe causavam dor. Todos os dias poderia ser o dia de suas mortes, mas nenhum deles sabia qual. Só eu decidia isso e ao me ver, o choque e o pavor incediavam seus rostos. Eu sempre escolhia aquele que parecia mais amedrontado. Naquele dia, um homem gordo e careca, na casa dos cinquenta anos mijou nas calças ao me ver entrar; sua fraqueza me enojou. Quando estuprou sua própria sobrinha de quatro anos, ele não foi fraco. A mãe me procurou e me contou assim que descobriu; ela não recorreu a polícia, não o levou a julgamento. Ela veio até mim porque sabia que eu traria justiça a sua cria, e que minha punição seria pior do que qualquer coisa que a Corte Americana poderia oferecer. Lembro-me bem do que ela disse, mesmo tendo passado dois meses. 

— Você é a justiça para minha filha, porque não importa quem você seja, o que você faça, Las Vegas está segura para as crianças desde que você assumiu o poder.

— Você sabe quem eu sou? — Perguntei após ouvir seu caso e suas últimas palavras fervorosas. Kamila, como disse se chamar, encolheu os ombros.

— Sei que você é um homem no alto escalão da máfia, sei que vir até você poderia custar a minha vida, mas eu não tenho mais vida desde que esse monstro tirou a inocência da minha menina. — Ódio tomou suas feições. Kamila não tinha mais de vinte anos, havia se casado com o irmão do abusador e seu próprio marido não a deixou denunciar. Sua última esperança era a Camorra, porque quando o Estado falha, o Crime suprime. — Não me importo com o que você faz, senhor Parisi, desde que continue mantendo nossas crianças em segurança. O senhor pode até mesmo me matar por ter vindo até aqui, mas por favor, me dê sua palavra de homem de que trará justiça a minha Luisa.

Eu havia deixado-a ir, tinha dito para ela tirar sua filha da cidade e dar a ela um futuro longe dos bastardos que a machucaram, longe do pai que viu a filha de quatro anos sofrendo e não matou o desgraçado que o fez. Porra, dei cem mil dólares para Kamila sair da cidade com Luisa, e quando ela o fez, matei seu marido e toda a corja de sua família. Teria matado o homem que tirou a inocência da garotinha no mesmo dia, mas a espera… A espera era tortuosa, eu sabia bem. 

— Você será julgado por seus crimes. — Minha voz era tão composta e firme que ninguém poderia saber o terremoto de emoções que havia em meu peito. O homem engoliu em seco antes de começar a chorar copiosamente. 

— Por favor… Eu imploro. 

Eu sorri abertamente. 

— Tenho certeza de que Luisa também implorou. 

×
×
×

Esperei no galpão enquanto meus homens tiravam a escória humana da cela e o levava para mim. Não tocaria naquele bastardo exceto para o fazer sofrer. Minutos depois meus soldados jogaram o filho da puta aos meus pés, algemado e com as pernas amarradas, totalmente nú. 

— POR FAVOR, EU IMPLORO! AQUELA PIRANHA MENTIU, ELA FALOU QUE EU FODI A FILHA DELA PORQUE NÃO QUIS FODER COM ELA! — Antônio gritou a todo pulmões e eu ri. Ri alto. Meu médico havia avaliado Luisa, eu não saía distribuindo punições sem provas e eu ouvi a própria menina dizer que o titio tinha feito coisas ruins e trouxe muita dor.

— Essa foi a pior desculpa que eu já ouvi. Uma mulher linda como aquela iria querer foder com você

Os homens ao meu redor riram, mas havia ansiedade e apreensão em seus rostos. Achavam que minha crueldade poderia se virar contra eles, e isso me deixava desconfiado. Se eles não deviam, não deveriam temer. Era bom que vissem o que eu fazia com aliciadores, o que aconteceria com eles se tocassem alguma menina ou menino em meu território. Tirei do coldre a faca Bowie e a girei entre meus dedos, fazendo o homem no chão chorar e se contorcer. 

— Luke, — Chamei estendendo meu celular. — Grave. 

O sorriso de Luke foi enorme. Ele era um soldado confiável e respeitável, nutria o mesmo senso de proteção com as crianças que eu. Ele sabia que o vídeo seria para Luisa ver quando crescesse, sabia que todas as vítimas veriam a justiça. Com uma careta de nojo, segurei o pau nojento de Antônio e deslizei a lâmina pela base, arrancando-o. O homem gritou, gritou tanto que o barulho me irritou. Fodido do caralho. Fraco. Segurei o bastardo pelo pescoço e o arrastei em direção a borda, onde Taurus já havia aberto o portão de proteção. O sangue já manchava o chão e ensopava minhas botas pretas.  Antônio berrou, se contorcendo, tentando sair de meu aperto. Sorri abertamente para ele. 

— Que o diabo te receba de abraços abertos no inferno, filho da puta. 

Joguei o desgraçado no tanque de tubarões e seus gritos se foram quando a água se tornou rosada. Ele estava amarrado e morreria afogado se houvesse tempo, mas não haveria, não quando os tubarões estavam se aproximando, não quando os tubarões o devorassem antes da falta de ar ser forte demais. As pessoas estavam certas ao usarem a expressão não sangrar num tanque de tubarões, porque os tubarões quando viam sangue… Não paravam. 

Quando Kiko abocanhou a perna de Antônio e Mad se ocupou do braço, paz me encheu. Menos um bastardo no mundo; eu havia feito meu trabalho. Dei as costas para a água que pouco a pouco se tornava vermelha e o senso de dever cumprido me tomou. 


Prometi a Jen que postaria hoje
Então, mais dois capítulos pra vocês!

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora