CAPÍTULO 48.

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NICO


Três meses poderiam passar rapidamente quando seu coração não estava quebrado em milhares de pedaços e cada caco corria por sua corrente sanguínea cortando suas veias. Carina me mantinha atualizado sobre Alessia e o bebê regulamente, mas eu não me sentia melhor ao ler as mensagens de minha cunhada. Era um misto de ela foi ao médico hoje com  fisicamente ela está bem. Carina sempre fazia questão de ressaltar  o fisicamente mostrando que apenas seu corpo estava bem, sua mente não. Só de imaginar que ela poderia estar sentindo metade da dor que eu sentia, tinha vontade de pegar o primeiro vôo para New York. Mas eu não podia. A Camorra estava instável, Nino estava instável, eu estava instável. Meus soldados não tinham mais o olhar de respeito absoluto, eles estavam com medo. Desde que Nino voltara e Alessia se fora, os rumores sobre mim tinham ficado descontrolados. O pior deles era quando diziam que eu tinha enlouquecido feito meu pai

Depois de uma avaliação médica completa, Nino tinha se recuperado bastante. Ele tinha ganhado peso e sua pele já não estava mais tão pálida quanto no passado, mas ainda assim, como Alessia, ele estava bem apenas fisicamente. Eu via a escuridão em seus olhos, os tremores repentinos. Ele também não falava, nem mesmo quando eu perguntava algo diretamente. 

Luca era o que menos me trazia preocupações. Ele tinha mesmo superado o vício em drogas e era absolutamente implacável como o segundo no comando. A sua força era reconhecida por todos e aos poucos, a família Parisi voltou a ser temida até pelos Camorristas da Sicília. Eu não gostava de governar pelo medo, mas se isso era o necessário para manter nossa unidade sob controle, eu faria com gosto e teria o apoio incondicional de Luca. 

As semanas passaram com vagareza e a cada dia meus sentidos ficavam mais entorpecidos. Dor e desamparo eram os principais acompanhantes; eu deitava na minha cama todas as noites e segurava meu celular tentando criar coragem para perguntar Alessia se ela estava bem, mas eu desistia quando me lembrava de suas palavras antes de ir embora. 

Eu nunca vou te perdoar.

Eu também nunca me perdoaria.

Numa noite quente de quarta feira, eu ajeitei meu terno e caminhei em direção a porta de madeira maciça com o dobro do meu tamanho. O centro de segurança de Las Vegas também tinha sido projetado por meu pai, mas não era nada como a mansão. Era sólido, imponente, feito para causar medo em quem fosse convidado a caminhar por seus corredores. Na grande sala de reuniões, os subchefes estavam sentados ao redor da mesa ovular com cadeiras suficientes para acomodar a comitiva da fodida rainha da Inglaterra. Apenas sete das cadeiras estavam ocupadas e eu me sentei na cabeceira, Luca a minha esquerda. 

— Vocês pediram uma reunião. — Eu disse com desinteresse e ergui as mãos num sinal claro para que começassem a falar. Meu tio Vincenzo abriu um sorriso cuidadoso em minha direção. O homem tinha cinquenta e tantos anos e era o irmão do meio de meu pai, ele era fiel a Camorra, não ao velho Parisi, por isso continuou no seu posto como chefe de Reno. 

— Precisamos falar sobre um boato que surgiu no nosso círculo. — Vincenzo disse com um leve torcer de sua boca. Eu já podia sentir o fogo sob minha pele e a vontade de tirar minha arma do coldre. — Algumas pessoas alegam que Nino Parisi está vivo. 

Luca me olhou de relance, mas não disse nada. Eu podia ver como seu corpo ficou tenso quando nosso irmão foi mencionado. 

— E ele está. — Eu disse por fim. Meu tio arregalou os olhos e os outros homens na mesa pareciam tão chocados quanto um fodido ovo. — Meu pai fez todos acreditarem que Nino estava morto e recentemente, o encontrei. 

— Isso é maravilhoso! — Vincenzo exclamou, havia genuína sinceridade em suas palavras. Eu quase ri. — Agora que você terá um herdeiro, Luca assumiu como Consigliere e seu irmão está vivo, a família Parisi está muito mais forte. 

— Se os boatos não forem verdadeiros. — Alessandro disse em voz baixa, seus olhos longe de mim. Algo em seu tom ativou todos meus alarmes internos. Luca respirou fundo visivelmente. 

— Que boatos? — Perguntei cuidadosamente. 

— Bom… — Alessandro começou parecendo realmente constrangido. — Todos sabemos da gravidez da sua esposa, mas algumas pessoas acham que você a mandou para New York porque descobriu que o filho não é seu e só não a matou porque a Camorra precisa da Cosa Nostra. 

Luca riu ao meu lado. 

— Alessia lambe o chão que meu irmão pisa, a mulher é completamente louca por ele, até mesmo obcecada, eu diria. — Luca sorriu ainda mais; um sorriso que não tocava seus olhos conforme as mentiras saíam de sua boca. Ele podia até achar que Alessia era apaixonada por mim, mas não sabia de mais nada. — Fora que eu mesmo fui o guarda dela enquanto ela estava aqui e eu não tinha assumido meu cargo. Ela nunca saiu de casa ou recebeu visitas de homens. 

Eu sabia o que ele estava fazendo; matando os boatos, sendo a pessoa de fora a testemunhar por Alessia porque se eu o fizesse pareceria fraco, um tolo apaixonado. 

— Então porque você mandou sua esposa para New York? — Jucelino perguntou. — Ou talvez haja um caso entre seu irmão e a garota. Talvez a puta de New York…

Minha cadeira tombou para trás num estrondo alto quando me coloquei de pé. A raiva corria tão forte por minhas veias que nada seria capaz de me parar. Só havia ódio e as palavras dele ecoando em minha mente. Puta. 

Ele chamou Alessia, a porra da minha Alessia, de puta.

Sequer saquei a arma quando atravessei a sala em passos longos e segurei Jucelino pelo pescoço. Seus olhos se arregalaram quando dei o primeiro soco em seu rosto, sangue tingiu minhas mãos. Tudo era um borrão sem nenhum som, eu só conseguia registrar soco após soco em seu rosto feio até que havia tanto sangue em minhas mãos que elas estavam totalmente vermelhas. Eu sabia que alguns dedos tinham quebrado, mas não conseguia registrar a dor. Alguém me puxou para cima e eu virei o punho fechado em direção a pessoa, mas o rosto de Luca entrou em foco e ele segurou meu pulso. 

— Ele está morto! — Luca sibilou forçando seu aperto em meu pulso. — Você o matou! 

— Foda-se! — Eu gritei de volta, empurrando meu irmão para longe. — É isso que vai acontecer com qualquer pessoa que ousar insinuar que meu filho não seja meu! 

— Acho que precisamos de um novo chefe para Kansas. — Vincenzo disse calmamente e Luca estremeceu numa risada. 

— Porra.

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora