CAPÍTULO 5.

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NICO

       Ela parecia um anjo enquanto caminhava pela igreja naquele vestido branco que ressaltava todas suas curvas e ainda assim era elegante e comportado o suficiente para o casamento; o branco do vestido contrastava com as rosas vermelhas e o bracelete preto em seu pulso. Minha noiva estava entrando na igreja ostentando o lema e o símbolo da Camorra; surpresa me tomou e então, curiosidade. Ela estava sorrindo brilhantemente, mostrando os dentes numa clara amostra de que estava feliz, mas eu sabia melhor, eu tinha visto a hesitação quando a beijei, eu tinha visto o leve tremor de suas mãos, o receio em seu olhar. Alessia estava fingindo de forma espetacular, um teatro que eu adoraria participar. Quem a via caminhar até mim, poderia jurar que ela era uma noiva feliz, casando-se por amor. No entanto, havia algo nela, algo obscuro e oculto na profundidade azul de seus olhos que me dizia que algo estava errado, que minha noiva tinha cicatrizes internas que nem mesmo sua família feliz sabia. A plateia de nosso teatro poderia pensar que ela estava honrada por se casar comigo, mas olhando atentamente para aquela linda mulher, eu ousava dizer que ela não tinha nada para temer, porque não tinha nada a perder. Um sorriso tentou tomar meus lábios ao perceber que Alessia Vacchiano era fogo e que nossa união seria um puta de um incêndio, porque no fim das contas, eu era gasolina. 


ALESSIA.



A beleza da festa, com suas esculturas de gelo no meio do enorme salão do hotel, flores e mais flores em todos os locais, centenas de mesas de vidro espalhadas, não foi absorvida por mim. Enquanto andava ao lado de meu marido para cumprimentar os presentes, pensava no que nos aguardaria no andar de cima. A noite de núpcias. Eu sabia que precisava ficar calma para que a dor não fosse tamanha, mas havia outra parte. Não importava o quão calma eu estivesse, se Nico fosse bruto. Ninguém dentro da máfia consideraria estupro ele me tomar do jeito que bem entendesse, mas ainda assim, seria horrível na melhor das hipóteses. 

Tentei manter a fachada de noiva feliz, mas a cada momento meu nervosismo se tornava maior, dando um nó no meu estômago que me impediu de fazer qualquer coisa exceto beliscar o jantar. A música começou, alta e romântica, e eu soube que era a hora de dançar com meu noivo; mal notei quando ele segurou minha mão e me puxou até o centro da pista, mal notei os convidados ao nosso redor, mas assim que Nico passou um braço por minha cintura e me puxou para mais perto, meu coração bateu acelerado no peito. 

— Nervosa por uma dança? — Meu marido sussurrou em meu ouvido conforme segurava nossas mãos erguidas e guiava nossa dança lenta. Forcei um sorriso. 

— Não, claro que não. 

Ele sabia que eu estava mentindo, mas não me importei. A fraqueza era uma doença, e eu não me permitiria demonstra-la frente aquelas pessoas. Nico olhou fixamente para mim, seus olhos cinzentos me prendendo ao bailar comigo em seus braços. 

— Tsc. Tsc. Péssima maneira de começar um casamento, Alessia. — Ele censurou provocativo. — Mentir nunca é uma boa opção. Não quando está mentindo para mim. 

— Porquê você acha que estou mentindo? 

Nico riu baixo e nos girou pelo salão uma vez antes de voltar ao ritmo lento. 

— Você está dura em meus braços, sua mão está suando e trêmula, e mesmo sendo boa em manter sua expressão livre de qualquer emoção, posso ver o medo em seus olhos. Mas, não é pela dança, é? Você está com medo do que irá acontecer quando os convidados se forem e ficar somente eu e você. 

Não respondi, apenas encarei seu peito. O terno sob medida não fazia muito para esconder o contorno de seus músculos. 

— Sabe, a tradição da maçã vermelha, que vocês tem aqui, força a mão do marido. 

Levantei os olhos imediatamente, me fixando em sua expressão irônica. 

— Você não me pouparia, mesmo que não precisasse provar que me fodeo.

Surpresa brilhou nos olhos de Nico ao me ouvir usar tal palavra, mas logo ele sorriu, novamente com ironia. 

— Poupar? — Ele riu baixo e logo abaixou a voz até estar sussurrando em meu ouvido. — Você diz como se fosse um castigo, uma tortura. Ah, Alessia… Eu vou te mostrar outro lado disso, eu vou fazer você gritar, mas não será de dor. 

Meu rosto ficou quente e eu sabia que estava vermelha feito um pimentão e isso causou ainda mais divertimento em Nico, ainda que eu pudesse ver a malícia em seus olhos. Mesmo que aquilo fosse uma completa novidade ultrajante, senti um pouco de alívio. 

— Então você não tem a intenção de me estuprar? 

Nico remexeu os lábios em descontentamento, parecendo profundamente incomodado com a palavra. 

— Só um homem que não é capaz de dar prazer estupraria a própria esposa. — A música acabou e pelo canto do olho vi papai se aproximar, mas Nico não me soltou. Pelo contrário, segurou minha nuca e me puxou em direção a ele, até estarmos quase a ponto de um beijo. — Você é minha esposa, Alessia, lembre-se disso. Não é uma puta qualquer para ser tratada com menos do que total respeito. 

Minha boca se abriu em choque, mas não conseguia responder antes de papai nos alcançar com uma expressão de raiva. Não conseguia entender porque ele estava irritado com nossa proximidade, eu pertencia a ele de agora até a morte. 

××××××

— O buquê! — Mamãe havia o tirado de mim quando chegamos, mas agora devolveu as rosas para minhas mãos. Soltei um suspiro trêmulo, sabendo o que vinha depois de jogar o buquê para as moças solteiras. 

Caminhei em passos decididos até a plataforma elevada e fiquei de costas para minha plateia cheia de moças ansiosas para pegar o buquê; Thomaz, papai, Nico, Samael, mamãe e Carina ficaram próximos a mim, as duas mulheres animadas e os homens indiferentes a tradição. No mundo normal, pegar o buquê era uma promessa de casamento, na máfia, era só uma distração, todas elas iriam se casar querendo ou não. Ergui as mãos, segurando as rosas no alto e esperei mamãe contar até três antes de jaga-lo para trás. Antes me virar para ver quem tinha o pego, vi Thomaz cutucar Samael enquanto sufocava uma risada; ri comigo mesma ao ver Cinzia com o buquê nas mãos, encarando as rosas com adoração. Era o terceiro buquê de flores que ela pegava, sendo um de Carina, talvez a sorte de um casamento feliz estivesse ao lado dela. 

— Parabéns! — Mamãe exclamou abraçando minha irmã e o olhar da caçula em direção a Samael, um olhar tímido e cheio de emoções, fez o nó em meu estômago se afrouxar. Eu poderia me casar por obrigação e enfrentar a noite né nupcinas se isso significava que Cinzia poderia casar-se com o homem que ela olhava com tanta adoração e carinho. E apesar de não querer admitir, aquilo me deu esperanças. Talvez Nico não fosse um monstro, talvez ele pudesse ser como Samael, que olhava minha irmã com a mesma adoração em seus olhos azuis.

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora