ALESSIA.
Nico passou o dia todo sem dizer uma palavra. Deitou-se na cama e ficou lá, encarando o teto por horas a fio. Seus olhos mal piscavam e ele não se mexia, o que me deixou terrivelmente preocupada. Luca tinha saído para resolver o que Nino deveria ter feito durante o dia, e meu marido sequer ligou quando ele informou que assumiria o lugar dele. Por fim, quando o relógio bateu quatro da tarde, me deitei contra o peito de Nico e puxei seu rosto para mim. Meu coração se partiu quando ele me olhou como se não me reconhecesse.
— Nico. — Chamei baixinho ao fazer carinho em sua bochecha. — Fale comigo, meu bem.
Ele não falou, mas pelo menos passou um braço ao redor do meu corpo e deitou a cabeça contra a minha. Continuei acariciando seu rosto, pedindo a Deus, o universo, Buda ou quem diabos existisse para me dar uma luz.
— Quando eu tinha doze anos… — Ele começou, a voz rouca pelo desuso. Olhei para cima, em direção ao seu belo rosto frio. Não havia nenhuma emoção em sua face, nenhum sentimento, nada. — Meu pai me trancou uma sala minúscula, sem nenhuma saída. Haviam canos na sala, e desses canos saíram centenas e centenas de baratas. Elas se enfiaram sob minhas roupas, no meu cabelo, na minha boca… E eu tive uma parada cardíaca, passei quatro minutos morto. As tatuagens no meu braço? Foram para esconder onde as malditas baratas roeram até fazer buracos.
Não sei em que momento comecei a chorar, mas só percebi as lágrimas quando um soluço saiu de minha garganta, um som tortuoso e feio. Nico olhou em minha direção sem conseguir compreender o que estava vendo. Lentamente meu marido ergueu sua mão e limpou minhas lágrimas pesadas. Pela primeira vez, notei que haviam pequenas crateras sob a tinta preta das tatuagens que cobriam seu braço. Meu coração doeu ainda mais.
— Porque você está chorando? — Ele sussurrou confuso. Eu abri um sorriso trêmulo e segurei seu rosto entre minhas mãos.
— Porque não acredito que alguém possa ter feito algo tão horrível com você… — Solucei. — Não acredito que você teve que… Oh, Deus…
— É passado. — Nico disse com seriedade e colou sua testa a minha. — Não chore por causa do meu passado.
— Eu estou chorando porque fizeram com você algo tão horrível que até hoje, doze anos depois, você não consegue ver uma barata sem…
— Sem parecer a porra de uma criança com medo? — Nico perguntou com desgosto e eu balancei a cabeça rapidamente.
— Não, Nico. Você não é fraco porque foderam com você na infância, você é forte pra caralho porque continuou de pé. — Apertei o rosto dele ainda mais entre minhas mãos. — Você e forte pra um caralho, não se esqueça disso. Ter medo de algo que te feriu profundamente não muda o quão forte você é.
Nico me beijou profundamente quando ouviu minhas palavras e por um momento, eu soube que faria qualquer coisa para protegê-lo.
×
×
×Acordei às quatro da manhã com meu telefone tocando sem parar; Nico já estava se sentando e eu rapidamente atendi a ligação.
— Porra, quem é?
— Sou eu! — Alessa gritou do outro lado da linha. — Carina está grávida!
Ouvi Cinzia gritar no fundo da ligação e papai reclamou de longe. Comecei a rir.
— Você sabe que são quatro da manhã e que você derrubou meu marido da cama?
— São sete da manhã, Alessia! — Alessa gritou e Cinzia completou: — FUSO HORÁRIO, SUA BURRA!
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INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.
RomanceCAPÍTULO NOVO -TODOS- OS DIAS! ALERTA DE SPOILERS: ESSE É O SEGUNDO LIVRO DA SAGA INEVITÁVEL, É NECESSÁRIO QUE LEIA O PRIMEIRO PARA COMPREENDER ESSE POR INTEIRO. "Ele era fogo, e eu, gasolina." Após o casamento de sua irmã mais velha com o Capo da...