CAPÍTULO 30.

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NICO

Quando ela desceu da bancada e foi para o seu quarto, eu me senti vazio. Havia me acostumado a tê-la comigo no quarto, havia me acostumado a tê-la como uma presença constante em minha vida e agora, ela tinha ido embora. Eu queria pedir para dormir ao lado dela, mas não pedi. Eu queria pedir perdão pelas mentiras que tinha dito, mas não pedi. Eu nunca pediria, nunca mais, não mais. Nos últimos quatro meses aprendi a ser solitário novamente, mas naquela noite insone, eu estava arrasado demais para cumprir a promessa de nunca mais toca-la demais do tapa que ela me deu. Pensei que me sentiria melhor depois de transar, mas estava tudo pior. Havia provado novamente do cheiro dela, de seu corpo, de seus beijos; a falta dela me acertou como uma bala. Eu já tinha levado tiros, mas aquela sensação doeu muito mais. A culpa me tomou, eu tinha trago aquilo para mim. Se eu tivesse pedido perdão por ter deixado Alessa nos ver, se eu não tivesse dito que ela servia apenas para sexo, estaríamos bem. Ela teria me perdoado eventualmente, não estaríamos dormindo em quartos separados, não estaríamos perto e ao mesmo tempo tão, tão distantes. 

Saí da cozinha vários e vários minutos depois e voltei ao quarto vazio. Nos primeiros dias, eu ainda conseguia sentir seu cheiro na roupa de cama, mas agora não havia nada. Até mesmo a cama que antes era macia parecia feita de pedras. Alessia tinha levado tudo, e o que restava era frio e solitário. Tente dormir, mas não consegui. O cheiro dela estava impregnando em mim, o aroma de morangos que eu odiava no começo e agora queria tanto sentir. Minha. Ela era minha, não mais. Só seu corpo me pertencia, nada mais. Nada nunca mais. Havia perdido seu coração. 

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As oito da noite do dia seguinte, terminei de vestir o terno azul marinho de três peças e penteei os cabelos para trás. Eu estive recusando convites para festas durante os últimos meses, mas a festa de aposentadoria do meu atual Consigliere não era algo que eu poderia recusar. Dante Gianini era um fiel soldado, tinha me servido bem por anos e me ajudado a administrar o caos que foi a morte do meu pai e a aversão dos soldados por um Capo de vinte e um anos. Eu me provei naquele tempo, mostrei a eles que poderia ser pior que o velho Parisi, e por fim, consegui o apoio de todos; os que se recusaram, morreram por minhas mãos, sem nenhuma misericórdia. Hoje Dante passaria seu lugar ao filho, mas seu filho havia sido morto um ano atrás, quando soldados o viram com outro homem. Eu os espanquei da mesma forma que tinham feito com Vans, mas aquilo não trouxe o garoto de volta. 

Bati na porta de Alessia, esperando que ela já estivesse pronta. Eu não poderia começar a sair sem minha esposa ou as pessoas iriam desconfiar que algo estava errado. Felizmente, Alessia abriu a porta alguns segundos depois e a visão de seu corpo quase me fez estremecer. Minha esposa vestia um longo vestido preto com uma fenda na coxa, o decote acentuava seus seios fartos e a porcaria do vestido era tão justa que eu podia ver todas suas curvas. 

— Alessia… — Passei as mãos pelos cabelos, bagunçando os fios que tanto arrumei. — Porra. 

Alessia me olhou sem entender por um segundo, antes de olhar para baixo em direção ao seu vestido. 

— Ah… É muito vulgar? Devo trocar? — Havia clara confusão em seu rosto. Porra. Eu tinha imaginado que ela vestiu o vestido para me provocar, mas ela estava mesmo pedindo minha opinião. Respirei fundo. 

— Todos os homens naquele lugar vão te despir com os olhos. — Comentei. — Mas você é minha mulher, ninguém fará nada, céus, ninguém seria idiota nem de falar sobre sua roupa. 

Alessia assentiu antes de voltar para o quarto, deixando a porta aberta. Observei ela abrir o roupeiro embutido na parede e retirar de lá um tecido de seda. Minha esposa cobriu os ombros e os braços com o pano. 

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora