CAPÍTULO 44.

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ALESSIA

Eu sempre considerava todos os aspectos de uma situação, sempre calculava todos os riscos, as probabilidades de erros e acertos, mas no dia que mais precisei daquela calma lógica, fui tomada pela emoção. Eu só conseguia pensar no quanto estaria feliz se minha irmã estivesse viva, mas ao contrário de Nico, eu a vi morrer e a vi no caixão. No entanto, quando Nico abraçou seu irmão e eu vi como ele parecia, me arrependi de ter deixado meus próprios desejos nublarem a razão. Se aquele homem tinha passado os últimos sete anos preso naquele lugar, ele não era mais o irmão que Nico amava e conhecia; eu podia ver em seus olhos um brilho assustador de insanidade, uma expressão que dizia que ele não sabia mais o que era real ou não. Nico colocou o irmão de pé e Nino cambaleou sem nenhum equilíbrio; seu corpo era tão magro que dor tingiu meu coração. Ele não deveria pesar nem cinquenta quilos e assim como Nico tinha um metro e oitenta de altura, seu peso não estava certo, nem sua expressão. Quando ele pousou os olhos sobre mim, estremeci. Nico tinha sido emocional e explosivo ao ver o irmão, tinha até mesmo chorado, mas quando Nino olhou para mim, Nico endureceu, protecionismo em cada um de seus traços. Eu respirei fundo. 

— Olá, Nino. — Felizmente minha voz saiu composta. 

Nino me encarou. Olhou fixamente para meu rosto e depois desceu os olhos por meu corpo, analisando a camiseta branca e a calça jeans clara que eu vestia, até mesmo o tênis branco em meus pés não lhe passaram despercebido. Ele não tinha um olhar lascivo, não estava me olhando como outros homens fazia, era uma análise ferrenha. 

— Então é real. — Ele disse mais para si mesmo do que para nós. A insanidade aos poucos desfocou e fora substituída por surpresa e depois, medo. 

— É real. — Nico disse segurando o ombro do irmão. — Vamos para casa. 

— Ele está lá? — Nino perguntou em voz baixa. 

— Ele está morto. — Nico disse. — Eu o matei. 

— Bom. — Os olhos de Nino brilharam com a resposta e eu imaginei que ele estivesse falando do pai deles. 

Eu mantive a arma na cintura quando voltamos ao carro, Nino sentou-se na frente com Nico e eu me ajeitei no banco de trás; meu marido tinha me olhando confuso por minha escolha de assentos, mas eu preferia daquela forma. Eu não sabia se seria capaz disso, mas se precisasse… Eu poderia enfiar uma bala na nuca de Nino durante o caminho. Estremeci apenas ao pensar naquilo. 

— Ela é a sua esposa? — Nino perguntou depois de passarmos um longo tempo na estrada. 

— Ela é. — Nico disse com cuidado. — Alessia. 

— A cunhada de Thomaz Rizzi. — Nino soltou uma risada sem humor. — O pai deve ter se revirado no túmulo quando você apertou a mão de Rizzi. 

— Como você sabe? — Nico perguntou cuidadosamente. 

— Dante me levava comida todo mês, ele acabou falando sobre a esposa gostosa que você conseguiu, sobre como iria fode-la quando te tirasse do trono. — A voz de Nino soou amarga e nojo me tomou. 

— Filho da puta. — Nico rosnou apertando o volante com força, o carro se afastou do meio da pista por um momento. — Ele está morto. 

— Bom. — Nino suspirou. — Como mamãe está? 

Novamente o carro ziguezagueou e eu respirei fundo. 

— Ela se matou… — Nico disse baixinho. — Ela não aguentou toda a tristeza e abuso. 

Nino soltou uma respiração alta e se inclinou para frente. Eu observava tudo de olhos arregalados inclinada entre os bancos, nem tinha visto quando soltei o cinto. Nico tirou uma mão do volante e pousou sua palma sobre as costas do irmão que estremecia. Um soluço escapou do corpo magro do meu cunhado, um som quebrado e doloroso que arrepiou todos os pelos do meu corpo. Nino passou as mãos pelos cabelos curtos e eu vislumbrei suas unhas na carne viva, rodeada por sangue, como se ele tivesse as roído ou arranhado uma parede por muito tempo. 

Eu não tinha ideia de como ajudar Nino, mas o pior era saber que toda a dor que ele sentia estava sendo absorvida por meu marido. 

×
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Eu fui a primeira a entrar na sala de estar e encontrei Luca jogado no sofá com uma carranca no rosto. 

— Nico colocou a Camorra em alerta vermelho, avisou que todos os homens feitos de Las Vegas deveriam estar prontos para qualquer coisa e simplesmente sumiu! — Meu cunhado bradou irritadiço. — Ele pelo menos te avisou onde ia? 

Eu sabia que todo homem feito na cidade respondia a Nico enquanto ele vivesse. Se algo acontecesse, todos eles marchariam em direção ao centro de segurança e obedeceriam o comando dos Parisi sem hesitar, aconteceria o mesmo em New York com Thomaz, no entanto, aquela percepção me dava um frio na barriga. Nico estava distraído. O que aconteceria se algo saísse do controle? Quem lideraria os Camorristas? 

— Bom, Nico está no andar de baixo. — Luca pulou de pé assim que falei e tentou passar por mim, pela primeira vez eu o toquei abertamente, colocando minhas palmas sobre seu peito. Luca me olhou com confusão. — Luca, o que você vai ver lá embaixo não é algo para o qual você esteja preparado. 

— Nico está ferido? — Ele perguntou com urgência, mas não me deu tempo de responder. Passou por mim abruptamente e começou a descer as escadas em passos rápidos. Eu segui atrás dele, o coração batendo forte no peito. Quase colidi contra suas costas quando ele parou num rompante no pé da escada. — O… O que? 

Nino estava encarando o lobby com curiosidade, mas se virou rapidamente quando ouviu a voz de Luca. Por um longo momento Nino apenas encarou o irmão mais novo até que reconhecimento brilhou em seus olhos. 

— Luca? — Nino perguntou a Nico, apontando o dedo para o irmão mais novo. Nico assentiu. 

— Você está morto. — Luca disse assombrado. Nino riu baixinho sem nenhum humor. 

— Eu queria estar. — Nino disse tranquilamente fazendo Nico apertar os olhos. — Você cresceu. 

Luca estava petrificado em seu lugar, encarando Nino como se ele fosse uma assombração. Bom, por sete anos ele foi um homem morto, Luca tinha esse direito. 

— Como? — Luca perguntou baixinho. Nino riu sem nenhum humor. 

— É uma longa história.

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora