CAPÍTULO 50.

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NICO.

Eu tive que lidar com a merda toda após a morte do fodido Jucelino. Eu não podia tê-lo matado, isso causava uma repercussão negativa dentro da Camorra. Nem meus próprios soldados do círculo íntimo estavam seguros, mas ele havia desrespeitado minha esposa, meu filho, e consequentemente eu. Eu não tinha nenhuma dúvida de que o filho fosse meu, tanto porque Alessia nunca estava fora das minhas vistas e me era fiel, tanto porque o que começou esse rumor — sua ida para New York — era minha culpa, não dela. Ela não queria ir, ela chorou e implorou para ficar ao meu lado. E eu a soltei. Eu estava pouco me fodendo para o que os outros naquela sala pensariam de mim, se alguém voltasse a sugerir que Alessia era infiel ou que meu filho não era meu, eu os mataria sem pensar duas vezes. Meu dedo anelar da mão direita havia sido quebrado em dois locais diferentes e agora eu usava uma maldita tala na mão. Aquela coisa era ridícula e piorou meu humor pra caralho. Pensei que nada poderia ficar pior quando o número de Alessa Vacchiano surgiu em meu celular; eu prontamente ignorei a chamada. Não me estressaria com a gêmea irritante quando nem tinha almoçado ainda. Por fim, quando peguei o celular para conferir as mensagens de Luca — que estava lidando com o novo subchefe de Kansas City — o telefone tocou de novo, dessa vez era Thomaz. Respirei fundo antes de atender. 

— O que é? — Eu não estava com nenhuma paciência para amenidades. 

— Sua mulher caiu da escada e está internada no hospital, imaginei que gostaria de saber. — Thomaz respondeu seco e eu pude sentir meu coração bater forte contra a caixa torácica. 

Eu nunca tinha me sentido daquela forma antes. Meu coração inchou de preocupação, todo meu corpo se retesou perante a possibilidade de Alessia estar ferida quando eu a enxotei de Las Vegas após ela me dizer que estava grávida. Grávida. O aperto no peito foi mais forte. E se ela não estivesse mais grávida? Eu pouco me importava, mas sabia que seria doloroso para ela. Qualquer pessoa acharia aquilo o cúmulo da insensibilidade, mas eu não conhecia o criança, ela ainda era um amontoado de células que eu pouco ligava enquanto ele não nascesse. Tudo que me importava, tudo que estava fazendo meu coração sangrar de afliacao, era Alessia. 

— Ela está bem? — A minha quebrou. — Foda-se, estou pegando o jato. 

— Uau, alguns poderiam pensar que você sequer se preocuparia. — Thomaz ironizou, mas havia um ‘que’ de ressentimento em sua voz. 

— Vá se foder, Rizzi. — Sibilei antes de desligar o telefone. 

Havia uma única coisa no mundo para a qual eu nunca estaria preparado: perder Alessia. Ela era o pilar principal da minha vida, calma e gentileza misturado a gasolina que inflamava todos meus sentidos. Ela estava longe, mas ainda assim eu a tinha. Se ela morresse… Eu poderia muito bem dar um tiro na minha cabeça. 

×
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Eu mal registrei as palavras do piloto quando pousei em New York, também não agredeci quando o manobrista da pista me entregou o carro que Thomaz havia mandado. Meu coração não desacelerou desde que Thomaz me ligou horas atrás, mas agora conforme eu dirigia insandecido pelas ruas de New York em direção ao NewYork-Presbyterian Hospital, meu peito chegava a doer. Eu já tinha tido um ataque cardíaco no passado, quão fácil seria ter outro? O GPS apitou incansavelmente quando estacionei de qualquer jeito no estacionamento principal; sequer me lembrava de ter ou não trancado o carro ao passo que corria até o elevador. Uma viajem de elevador nunca havia demorado tanto antes. 

Assim que as portas da caixa de metal se abriram, encontrei Thomaz parado como um poste no corredor. 

— Você deve ter mandado pro inferno todos os limites de velocidade para chegar aqui tão rápido. — Thomaz disse sarcasticamente e eu tive que me controlar para não tirar a arma do coldre. Obviamente ele percebeu minha mão indo em direção a pistola na cintura. — Se eu fosse você não faria isso. 

— Se fosse Carina doente enquanto eu brinco com você, duvido que você já não teria sacado uma arma. — Eu nunca tinha usado aquele tom com Thomaz, mas talvez devesse ter feito. Assim ele saberia que não deveria me provocar quando eu já estava além do limite. Thomaz soltou uma risada destituída de qualquer humor. 

— É diferente, Nico. — Thomaz deu de ombros. — Eu me importo com Carina. 

Minhas mãos foram mais rápidas que meu cérebro. Antes que eu pudesse pensar, tinha me atirado contra o pescoço de Thomaz; nós dois caímos no chão. Ouvi um grito distante, mas tudo que eu pensava era em arrancar sua maldita língua. Não seria fácil, entretanto. Thomaz era um lutador nato, assim como eu. Nós dois morreriamos numa luta pra valer. O outro Capo apertou meu pescoço quando dei uma cotovelada em sua garganta e me empurrou para longe. Rolei no chão e rapidamente ele estava sobre mim; não deixei. Girei meus quadris com força para joga-lo longe e ele desceu o punho contra minha garganta antes de cair para o lado. Perdi o ar por um momento, mas pulei sobre ele socando seu rosto; ele desviou e meu punho colidiu contra seu queixo. Alguém me puxou para longe dele e Samael entrou em minha linha de visão gritando para o irmão permanecer onde estava. 

— CHEGA! — Eu reconheci a voz de Santiago. Nós dois sabíamos que ele só estava conseguindo me segurar porque eu não estava fazendo força. Seria fácil enfiar o nariz dele dentro do cérebro com uma cotovelada bem acertada. 

— Vocês enlouqueceram? — Carina perguntou com o rosto em fogo; Alessa estava ao lado dela olhando a situação com os olhos arregalados. Thomaz se colocou de pé com um sorriso irônico. 

— Quem diria que o frio Capo da Camorra me atacaria por causa de uma mulher. — Thomaz riu e apontou para o queixo que estava cortado onde minha aliança acertou. — Eu deveria matar você por isso. 

— Eu gostaria de vê-lo tentar. — Eu sibilei e por um momento ele realmente considerou, pude ver em seus olhos. 

— Chega, vocês dois. — Carisma disse num tom firme, se aproximando de nós. Ao nosso redor, todos tinham parado para ver a briga e alguns seguranças espreitavam. Eu quase ri. Eles sabiam quem era Thomaz, eles não se aproximariam. — Minha filha está doente e vocês estão brigando feito dois cachorros? 

— O marido de sua filha fez o primeiro movimento. — Thomaz disse encolhendo os ombros. — Ele não deve estar tão preocupado com Alessia já que… 

— Eu vou matar você. Eu juro que vou matar você se você dizer isso outra vez. 

— Foda-se, Nico. A garota mal comeu pelos meses que está aqui, não saiu de casa mais de três vezes, não fez nada além de deitar e vegetar porque você a jogou fora como a porra de um corpo descartável. Eu nem sei se Alessia caiu mesmo ou se jogou. — Thomaz deu um passo em minha direção. — Como você quer que eu trate com respeito o homem que foi capaz de quebrar a própria esposa? A mulher que eu jurei que te mataria caso algo acontecesse a ela? 

Eu me soltei de Santiago sacodindo meu corpo e me aproximei de Thomaz até estarmos cara a cara. Meu coração martelava em cada parte do meu corpo, mas não havia tanta raiva. Não quando eu percebi que o bastardo do Rizzi estava unicamente tentando proteger Alessia. 

— Eu não quero seu respeito. — Eu disse em voz baixa. — Eu quero que você me diga onde está minha esposa, porque ao contrário do que você pensa, eu prefiro ser torturado do que ficar sem ela. 

— Por favor… — Alessa disse baixinho olhando em nossa direção. Tanto eu quanto Thomaz a encaramos. Os olhos da gêmea irritante estavam marejados. — Parem com isso. Parem com essa briga ridícula. Thomaz, você está errado a respeito do Nico. 

Eu encarei a gêmea irritante por um longo momento e meu coração gelou ao pensar que ela sabia tudo que tinha acontecido em Las Vegas, tudo que Alessia sabia. 

— Familiares da senhora Alessia Catarina Parisi? — Uma enfermeira loira e baixa perguntou ao se aproximar com uma prancheta em mãos. — Ela está acordada e pode receber visitas. Um de cada vez, por favor. 

Acordada. Ela estava acordada. Minha Alessia. Minha Alessia estava bem. 

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora