INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.

CAPÍTULO 12.

NICO

A dor nos olhos dela, quando eu disse que ela só servia para sexo, me acompanharia pelo resto da vida, mas eu não poderia retirar minhas palavras, não quando as dela fizeram meu coração sangrar e reviveram feridas antigas. Se ela tinha nojo de mim, não havia mais nada em nosso casamento. Saí de casa depois de entregar meu cartão de crédito a Caio e pedir para ele levar Alessia as compras, e dirigi pelas ruas da cidade sem nenhum rumo; pegar o carro e viajar por Las Vegas geralmente me trazia paz, mas naquele dia, eu não conseguia que minha cidade me trouxesse alegria. Alessia mesmo sem saber tinha usado palavras que despertaram traumas antigos, palavras que ouvi quando cometi o pior crime de minha vida e minha mãe me olhou como se não me reconhecesse mais. Podia me lembrar com detalhes daquele dia, do momento em que minha mãe viu o que eu tinha feito, do choque em seu rosto, da raiva, do desespero. O sangue manchou nós dois quando ela se jogou contra mim perguntando várias e várias vezes “Porque?”. Eu poderia ter dito que havia sido forçado àquilo, mas não mudava o fato de que eu tinha feito. Não mudava o fato de que ele estava morto. Por anos quis estar morto como ele, quis que a culpa saísse de meu peito, quis que um dia pudesse pedir a ele perdão de joelhos, mas esse dia nunca chegaria; ele era gentil e doce e se o céu e inferno existissem, nós teríamos destinos diferentes após a morte. Nunca o veria novamente; e esse era meu fardo. Dirigi por horas a fio até retornar a casa e pouco depois de entrar em casa, meu celular vibrou com uma mensagem do banco. Alessia havia gastado cento e trinta mil dólares em uma única tarde, e eu quase ri pensando que sua motivação por trás disso fosse me provocar. Ela achava mesmo que dinheiro me provocaria? Achava mesmo que aquela quantia significava alguma coisa para mim? 

Quase uma hora depois eu já havia tomado banho e me barbeado quando ouvi os carros estacionando no jardim, Alessia estava de volta, afinal. Saí do quarto e me deparei com o pobre Caio cheio de sacolas e tive que segurar o riso. 

— Senhor, posso guardar as sacolas no quarto de vocês? — O soldado peguntou estoico, mesmo vendo a diversão em meu rosto. 

— Sim, deixe no closet. 

Caio assentiu e subiu as escadas em passos pesados conforme eu descia para o lobby vazio. Sabia que Alessia estava na cozinha pela barulheira vinda do cômodo; a garota não sabia se movimentar em silêncio.

— Fez boas compras? — Perguntei casualmente ao parar ao lado dela, que tirava uma caixa de morangos da geladeira. Por um momento pensei em pedir desculpas por minhas palavras, mas quando ela sequer olhou em minha direção ao responder cheia de deboche, qualquer bondade dentro de mim se foi.

— Sim, precisa das notas? 

— Eu já vi no meu celular que você gastou cento e trinta mil dólares numa tarde, não preciso ver o que você comprou exatamente, já que o valor eu já tenho. — Expliquei pacientemente, já que Alessia realmente pensava que poderia me irritar gastando meu dinheiro. Uma mulher nascida na máfia deveria saber que lavagem de dinheiro, extorsão, roubo e tráfico de drogas deixava qualquer um rico. 

— Uma mulher custa caro. 

Novamente suas palavras estavam carregadas de deboche e eu sorri maliciosamente em direção a ela. 

— Se eu quisesse comprar uma mulher, teria uma prostituta, não uma esposa. — Lancei-lhe uma piscadela antes de sair da cozinha e tive que suprimir o riso ao ver a expressão irritada de Alessia. Se ela gostava tanto de provocar, deveria gostar de ser respondida. 

Voltei para o quarto e peguei o notebook antes de me sentar na cama; precisava checar o rendimento das apostas nas corridas que Thomaz e eu estávamos investindo juntos. Nossos territórios em breve seriam centro das maiores corridas ilegais do país e já na primeira corrida as apostas chegaram à casa dos milhões de dólares, lucro que dividiriamos entre nós após pagar toda nossa equipe. Nem em mil anos eu imaginaria que um dia estaria trabalhando lado a lado com a Cosa Nostra.