Capítulo 2

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RAFAELLA

Estou no segundo ano do ensino médio. Estudo na parte da manhã, pois na parte da tarde ajudo meu avô com as plantações. Minha mãe morreu deixando minha irmã ainda recém nascida e eu com dois anos de idade, desde então meus avós são nossos responsáveis. Desde quando os donos da fazenda Bicalho de Andrade se foram, meu avô parou de produzir alimentos derivados ao leite que compravam com eles. Já faz três anos que não produzimos nada além de plantar e vender as verduras e legumes da nossa estufa.

Sempre estudei ao lado Sul da fazenda, não precisava andar esse tanto que ando até o colégio. Ano passado em que completei meus dezesseis anos, precisei mudar de escola, pois começava a cursar o ensino médio. Sonho em ser modelo um dia, mas para isso preciso de muita coragem para enfrentar a Cidade grande. E parte dessa coragem, eu já enfrento todos os dias quando sigo caminho pelas terras da fazenda vizinha, na intenção de cortar caminho até chegar a escola. Os capataz da fazenda não gostam quando eu ou minha irmã passamos por lá. E hoje, Petrix, mais conhecido como PX, quase cumpriu sua ameaça. Se não fosse a neta do senhor José Bicalho de Andrade chegando bem na hora, eu não sei o que teria acontecido.

Fizemos o caminho até a fazenda dos meus avós enquanto eu contava tudo que aconteceu quando seus avós faleceram. Contei sobre meu avô acabar com as fornadas e queijo e doces, e contei também sobre o motivo. Aos poucos fui ficando mais a vontade ao lado dela. Minha timidez sempre me atrapalhou de fazer amizades, no entanto, só tenho Manu comigo e alguns colegas na escola. Na metade do caminho, Gizelly pegou minha mochila e colocou em sua costa, me ajudando a carregar. Uma de suas mãos puxava seu cavalo, enquanto eu ainda segurava meus livros.

- Prontinho! Está entregue.- Ela disse, assim que paramos no grande portão de ferro. - Aqui não mudou nada.-

- Nadinha... Meu avô é muito conservador.- Respondi e ela riu anasalado. A olhei confusa.

- Desculpa, é que você puxa muito no sotaque.- Eu ia responder quando ela me interrompeu: - Calma, é gostoso de ouvir.- Sua conclusão me fez corar. Sorri de lado desviando meu olhar para o chão. - Bom, e sua irmã? Lembro dela bem pequena.-

- Manu está bem! Fez quinze anos por esses dias.-

- Olha! Que legal.. Mas ela não estuda com você?-

- Não! Ela ainda está no Raio de Sol, ano que vem ela começa a me acompanhar.-

- E onde você estuda?-

- No Centro Educacional MG Colegial.-

- Nossa que nostalgia! Eu estudei lá, sabia?-

- Acho que todos nessa Cidade já estudou lá.- Falei rindo anasalado.
- Só é um pouquinho longe.-

- É muito chão mesmo.. Daqui até a estrada você anda em..-

- Nem me fale...- Suspirei cansada.

- Você sempre vai e volta sozinha?-

- Meu avô me leva na camionete dele, já que ele vai pra Cidade levar as verduras. Na volta que eu venho caminhando. E quando tenho a sorte de não encontrar o PX pela estrada.- Falei bufando dessa vez. Vi quando ela revirou os olhos e franziu o cenho.

- Olha, agora você pode ir tranquila. Ele e nenhum dos outros capataz vão te importunar.- Franzi o cenho não entendendo o que ela falava. Ela percebeu e sorriu. - Eles não vão incomodar você mais, vão deixar você em paz.-

- Ah sim! Muito obrigada, as vezes nem quero ir a escola com medo de encontrar um deles.-

- E seu avô sabe disso?-

A Culpa não foi minha! (Girafa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora