12. Hospitalidade

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A noite mais demorada da minha vida se passou. Meus olhos continuavam abertos e a sensação de medo ainda estava lá. Mesmo sabendo que eu estou protegida, que aqui, ele não iria me fazer mal algum, eu sabia que não podia ficar me escondendo por toda a vida, mas ainda não tive coragem nem de pensar no que fazer daqui em diante.

O relógio de cabeceira marcava 06h30, o sol já passava pelos vidros da janela do quarto. Eu estava sentada, encostada na cabeceira da cama, com os olhos ardendo de sono. Não consegui dormir muito tempo, tive um pesadelo com Robin. Na verdade, sempre que eu fechava os olhos era um pesadelo, então prefiro deixá-los sempre abertos.

Batidas na porta me chamam atenção. Limpo as lágrimas que estavam quase secas no meu rosto para então dar permissão para que entrem.

- Bom dia... - David adentra o quarto, cheiroso e social, já pronto para ir a URBAN. - Como passou a noite?

- Péssima, não consegui dormir bem. - ainda estava sentada no mesmo lugar que ele me deixou ontem a noite.

- Devia ter me chamado, eu teria ficado aqui com você. - se aproxima e senta na cama. Ele cheirava a banho recém tomado e perfume, seus cabelos ainda estavam molhados.

- Não precisa se preocupar... - digo, tentando tranquiliza-lo.

- É meio difícil não me preocupar vendo você assim. Quer que eu faça algo, precisa de alguma coisa? Qualquer coisa? - apenas nego com a cabeça - Você precisa comer, Regina...

- Eu estou sem fome. - David me analisa por alguns segundos e suspira.

- Ok, eu não vou insistir, mas quero que pelo menos tente. - concordo com a cabeça e ele se levanta - Emma vai ficar em casa, caso precise de alguma coisa pode chamar ela ou também pode me ligar se preferir.

- Ok - digo e tento mudar de posição, mas sinto uma dor insuportável na cabeça e também em meu corpo. Devido a adrenalina, não havia sentido muita dor física, mas agora estava difícil até para me mexer e aquele pequeno movimento acaba arrancando alguns gemidos e caretas involuntárias. David observa aquilo já na porta do quarto, mas não comenta nada, apenas sai do quarto.

Várias horas depois de tudo e eu ainda estava aqui, absorta em pensamentos. Eu realmente não queria lembrar de nada de ontem, queria apagar, deletar da minha mente, como se deleta um arquivo qualquer, mas não dava. Revivia minuto após minuto tudo que aconteceu na noite anterior, tudo, até o momento do meu salvamento.

Sou tirada dos meus pensamentos quando a porta do quarto se abre lentamente.

- Desculpa, atrapalho? - nego com cabeça e Emma entra no quarto, tinha em mãos um copo com água e um analgésico - Meu pai mandou te entregar. - se aproxima de mim e me entrega, em seguida põe a mão em minha testa e aquilo me surpreende. - É, pelo menos não está com febre... - me olha por alguns instantes, enquanto eu tomo o remédio e devolvo o copo vazio. Emma coloca o copo sobre o criado-mudo e começa a caminhar em direção ao banheiro. - Vou usar o banheiro rapidinho, é que eu esqueci de levar algumas coisas pro quarto do meu pai... - Após alguns minutos, ela retorna para o quarto e para a poucos centímetros da cama - Tá tudo bem?

- Na medida do possível - respiro fundo.

- Entendo... Como está se sentindo? - pergunta, sentando-se na cama.

- Me sinto suja... - forço um sorriso e encaro minhas mãos. - É difícil acreditar que isso aconteceu comigo, sabe?! Sempre foi algo tão improvável de acontecer, e olha só agora? - a encaro. Ela tem seus olhos atentos em mim, porém tristes. - Eu tive que fugir de casa para não ser abusada pelo meu próprio marido... Eu me sinto tão culpada por tudo isso. - lágrimas inundam meus olhos.

His Daughter - SwanQueenOnde histórias criam vida. Descubra agora