53. Problema líquido

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Atenção: Novamente, devido a demora de mais de um mês, 12mil palavras.

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Ainda que tivessem sido poucas as vezes, em toda minha vida, eu não me recordo a última vez em que estive com o coração tão aberto, tão exposto a alguém como agora; sequer tenho certeza se em algum outro momento isso realmente aconteceu. 

Abrir-me dessa forma, é me expor às minhas maiores fraquezas, receios e medos, afinal, nunca quis parecer tão dependente assim de alguém ou de um sentimento; porém, com tudo isso que vem acontecendo entre a gente, todos os momentos que dividimos, e principalmente a situação em que nos encontramos agora, fazem eu perceber que não foi somente inevitável, como até mesmo libertador. Eu não me sinto arrependida conforme normalmente me sentiria com qualquer outra pessoa, apenas incomodada com a incerteza do que vem agora. 

Eu me pergunto, se com essa confissão, quebrei o bom ritmo que seguíamos, onde eu não a pressionava com cobranças, ela não me pressionava por rótulos, e até me indago se essa minha atitude pode incomodá-la ao ponto de se afastar, de mudar o sentido do que estamos tendo. 

Apesar de surpresa, sua expressão rapidamente se transforma, o sorriso antes contido, agora se exibe abertamente. Ao contrário do que minha insegurança me fez pensar, seu riso aliviado junto de um suspiro e seus lábios encostando nos meus suavemente, mostra sua boa recepção a tudo o que eu disse, deixando-me finalmente piscar os olhos, onde eu os mantinha decididamente abertos para não perder nem sequer uma linha de sua reação. 

- Linda, você não vai ficar sem mim. Por que acha isso? - Seus dedos alinham algumas mechas de cabelo atrás das minhas orelhas. Nego com a cabeça, relutando a dar uma resposta concreta, seu sorriso entre suas palavras deixou-me um pouco envergonhada, e Emma continua. - Por que acha que as coisas irão mudar? - Ela busca meu olhar, dobrando minimamente os joelhos para igualar nossa altura e ganhar a minha atenção que se mantém numa linha reta. 

- Pelo óbvio, Emma! - Desvio de seus verdes. - Você começou a ficar no meu apartamento por não querer voltar pra casa, e esse não será mais um problema, já que terá onde ficar. 

- Mas eu sempre tive onde ficar. Eu tenho meu próprio quarto na casa do meu avô, eu poderia ter ficado lá numa boa ou até mesmo já ter alugado um apartamento, se esse fosse o problema. - Ela segura meu rosto entre as mãos. - Regina, eu não estou ficando no seu apartamento por não ter pra onde ir, mas porque eu gosto da sua companhia, gosto de estar com você... Gosto de você. - Toca meus lábios com a ponta dos dedos, continuando com o contato por todo o caminho que traça pelo meu rosto, até descansar onde estava antes, cobrindo minha bochecha. 

- Então, o que mudou? Por que essa pressa toda em sair agora? - Baixo meu tom de voz e o meu olhar inconscientemente. 

- Eu já te disse, só achei que estava te incomodando, tirando sua privacidade ou tomando seu espaço, mas não porque alguma coisa mudou ou simplesmente não gostava mais de ficar lá. - Concordo minimamente com a cabeça, novamente recolhendo meu olhar. Emma mais uma vez me faz encará-la, suas mãos firmes me dão uma ordem silenciosa para me manter na posição em que ela me colocou, fitando-a. - Olha, eu quero comprar um apartamento pra ter um lugar pra chamar de meu, ter o meu próprio espaço, minhas próprias coisas. Mas isso não significa que precisamos acabar com tudo o que estamos tendo, posso ir dormir com você sempre, passar o fim de semana... Tem tantas possibilidades, sabe? - Seu sorriso brilha, seus olhos me incentivando. Aos poucos suas palavras se tornam possíveis cenas, situações e momentos na minha cabeça, como sairmos juntas da URBAN, cada uma em seu carro com rumo ao meu prédio; nós duas discutindo sobre os melhores dias para passarmos juntas, entre outros, assim, apagando boa parte da melancolia que em mim se instalou. 

His Daughter - SwanQueenOnde histórias criam vida. Descubra agora