54. Motivo para ficar.

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Aviso: Para compensar a demora mais uma vez, 12mil palavras.

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Eu nunca tinha parado para imaginar o nível de dificuldade sobre ser imparcial, seja lá qual for a situação. Mas agora que estou sendo obrigada a ser, no meio de uma discussão como essa, ainda mais no meu caso, noto o quão difícil isso pode ser. Estar aqui diante de duas pessoas importantes para mim, vê-los se enfrentando dessa forma tão intensa, e não poder interferir ou opinar, é absurdamente frustrante e agonizante.

Suas vozes alteradas, dedos apontados, acusações fortes e injustas, tudo isso torna essa situação ainda pior. Mas para falar a verdade, mesmo que eu tivesse o poder ou o dever de interferir, não saberia ao certo como fazer isso, ou de qual lado ficar.

David e Emma sempre brigaram, mas não dessa forma, na verdade pouco se estendia, eram raras as vezes em que uma voz mais exaltada ou um dedo apontado se fazia presente. E essa cena em particular, não me é atípica, ela me remete a uma outra de dois anos atrás, onde a Emma foi obrigada a ir morar com a mãe. Lembro-me bem do prazer que senti naquele momento, em presenciar a Peste que eu sempre detestei sendo repreendida daquela forma, naquele tom, e o melhor de tudo, sendo mandada para bem longe de mim. Senti uma satisfação inexplicável naquele dia, contudo, hoje é o total e mais completo oposto dos sinônimos de prazer. Tanto é, que não consigo descrever o quanto me sinto desconfortável diante dessa situação, o quanto me pesa vê-los assim e não poder fazer absolutamente nada para mudar isso.

- Vamos, Emma, eu ainda estou esperando... - David abre os braços, aguardando uma resposta, encarando a filha sem desviar o olhar. Mas Emma não recua, apesar de se manter em silêncio, posso vê-la engolir as palavras, ver o seu peito subir e descer freneticamente. Ela se mantém de cabeça erguida, perdendo em alguns centímetros de altura, mas não no olhar de fúria ou na postura ofensiva.

Essa disputa de olhares entre os dois está aumentando ainda mais a minha tensão, tornando minha própria respiração descompassada. Sinto Belle apertar a minha mão com força, num sinal claro de igual tensão, porém também de apoio, fazendo-me então reparar nos demais presentes na sala. Gold, apesar de estar em silêncio, mantém o olhar atento aos dois, como num estado de alerta. Já a Ruby parece bem aflita, talvez por ser a primeira discussão séria que presencia entre eles, ela aperta as mãos em nervosismo, e sequer pisca os olhos.

Devolvo a atenção para Emma e David, que ainda se encaram. Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas para mim, parece uma eternidade. Vejo Emma negar com a cabeça lentamente, para então responder ao questionamento.

- Você não merece saber nada de mim. - Dito isso, ela dá as costas, passando por todos e subindo as escadas.

- Emma!! - David a chama, não aceitando o fim dessa discussão. Ele faz menção de ir atrás dela, mas é impedido por Gold, que rapidamente se põe na frente dele.

- Já chega, meu amigo. Vocês conversam melhor outra hora. - Gold dá tapinhas nas costas de David, trazendo-o para perto de nós.

- É um absurdo ter que ouvir esse tipo de coisa! Como ela teve a audácia de dizer que eu não sou um bom pai? Eu dediquei a minha vida inteira pra Emma! - David aponta inconformado na direção que ela saiu. Gold continua segurando firme nos seus ombros, enquanto assente aos seus protestos.

- A Emma sabe disso, ela só está de cabeça quente porque bebeu além da conta. Então dê um tempo pra ela, amanhã vocês conversam melhor.

David demora um pouco analisando a proposta, mas concorda com a cabeça, passando as mãos pelos cabelos e soltando o ar com força.

Ruby, que se manteve o tempo todo em silêncio, levanta-se do sofá e se põe ao lado do namorado, passando o braço por sua cintura.

- Eu... Eu acho melhor levá-lo pro quarto. - Sua voz sai baixa e vacilante. - Quando ele estiver mais calmo, eu volto pra ajudar vocês a organizar essa bagunça.

His Daughter - SwanQueenOnde histórias criam vida. Descubra agora