18.Natal: Cidade do Sol

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Estamos no aeroporto, só esperando para embarcar. David apenas nos deixou aqui e voltou para a URBAN, porque iria iniciar a supervisão da obra que ele mencionou antes. O chão treme quando os aviões aterrissam, eu acho encantador, apesar de já ter visto várias vezes.

Estamos sentadas, uma ao lado da outra a mais ou menos trinta minutos e as únicas palavras trocadas foram: Bom dia.
Emma veste um jeans casual, botas de cano longo, uma blusa preta e com os cabelos trançados de lado. E por incrível que pareça, repetiu a jaqueta de couro vermelha do dia do...

Reviro os olhos.

Eu também uso um jeans, botas de salto, com uma blusa de seda cinza, um sobretudo preto, e meus cabelos soltos.

Emma está concentrada no celular e eu consigo ouvir com nitidez o que ela escuta mesmo com os fones de ouvido, de tão alto que o volume está. Com o meu computador aberto no meu colo, faço análise dos sistemas da URBAN, que era geralmente feita nas terças, mas amanhã estarei ocupada, então iniciei a análise. Minha concentração é tirada quando Emma abre um pacote de Fini.

- Doce a essa hora? - pergunto com olhar de desaprovação, mais por impulso do que por realmente me importar. Ela retira o fone do ouvido e me encara com a sobrancelha arqueada.

- Não sabia que tinha hora pra comer doce... - reviro os olhos com seu atrevimento e ela ri. - O que você está fazendo? - pergunta apontando para o computador e esquece o celular sobre suas pernas.

- Análise do sistema financeiro da URBAN. Mas aparentemente está tudo ok. - fecho o computador e me viro para ela.

- Já acabou? - Pergunta de boca cheia. Trinco o maxilar, e reprimo minha vontade de dizer algo.

- Ainda falta analisar as notas fiscais das compras da semana, mas eu faço isso mais tarde, quando chegarmos. - ela concorda com a cabeça e leva mais um doce a boca. Meu olhar acompanha aquele movimento, ela percebe e sorri, me estendendo o pacote.

- Doce? - nego com a cabeça, retribuindo o sorriso.

- Não, obrigada. Preservo a saúde dos meus dentes. - a vez dela revirar olhos e negar com a cabeça. Voltamos a ficar em silêncio, até ouvirmos a chamada de embarque.

Já no avião, sentamos lado a lado. Emma ficou na janela, voltou a colocar o fone de ouvido e fechar os olhos. Eu fiquei na poltrona do meio e a do corredor ficou desocupada.

Começo a leitura de um livro, coisa que a muito tempo não fazia, não por não gostar, era simplesmente falta de tempo. Escolhi o clássico dos clássicos Machadianos para me acompanhar: Dom Casmurro. Acredito que já tenha lido esse livro umas três vezes e em todas, eu me envolvo totalmente, criando teorias sobre a suposta traição de Capitu. Realmente é um livro que eu amo e acredito que cada vez que eu o leio, uma informação nova é explicada na minha mente.

A viagem está tranquila, e falta menos de 1h para estarmos em Natal. Eu ainda estou concentrada no livro e nem percebi que Emma me encarava.

- Já li esse livro uma vez. Linguagem confusa... - a encaro e ela me olha atenta.

- Sim, muito. Mas recomendo ler mais uma vez. Algumas informações sempre ficam mais claras na segunda leitura. - volto os olhos para meu livro, mas ainda sentindo seu olhar sobre mim.

- Qual a sua teoria? - Junto as sobrancelhas em sinal de confusão. - Sobre o livro... Traiu ou não Traiu?

- Olha... - gosto desse debate, com isso fecho o livro e me volto para ela - Têm momentos que tudo indica que sim. As visitas que Escobar fazia a Capitu, a indiferença dela no velório dele, as tentativas falhas de engravidar e quando conseguem, o menino nascer "idêntico" a Escobar, deixa bem evidente que houve traição. - Emma apenas me observa falar atentamente, concordando com a cabeça de vez em quando. - Mas por outro lado, Bentinho não estava muito bem da cabeça e sempre foi muito cego de ciúmes de Capitu. A carta deixada por Capitu, fez com que ele entendesse aquilo como uma confissão, mas como o conteúdo da carta não foi revelado, ele pode ter interpretado erroneamente ou não... Nunca saberemos.

His Daughter - SwanQueenOnde histórias criam vida. Descubra agora