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Narrado por Maraísa

- Me conta sobre você. -Lauana pediu, olhando para o mar.

- O que quer saber? Não sou muito interessante. -Eu sorri e senti minhas bochechas queimarem.

- Que bonitinha, ela fica vermelha! -Lauana apertou minhas bochechas.

- Me conta sobre você, sua família, seus planos, suas séries. Tudo. -Ela sorriu.

A verdade era que eu não era boa em falar sobre mim mesma. Eu gostava de falar sobre biologia, como os primeiros seres vivos surgiram, sobre as obras de Aluísio de Azevedo, os poemas de Hilda Hist. Eu era ótima em muitas coisas, mas falar sobre mim sempre foi algo muito complicado. Ainda assim, respirei fundo e respondi sua pergunta.

- Meu nome todo é Carla Maraísa Henrique Pereira, eu acabei de fazer dezessete anos. Moro com meus pais no recreio dos bandeirantes, tenho um gato chamado Salém e acredite, ele é branco! Gosto de ouvir música, tocar piano e minha primeira paixão à primeira vista foi a fotografia. E ah, antes que eu esqueça... -Fiz uma pequena pausa.- - Eu nunca me apaixonei de verdade.

- Isso porque você disse que não era interessante. -Riu.- - Imagine se fosse!

Lauana olhava para mim de uma maneira curiosa, como se eu fosse um extraterrestre. Eu não conseguia segurar o riso, então me permiti gargalhar.

- Me conta sobre você. -Foi minha vez de pedir.

Ela olhou para o mar novamente e sorriu, pronta para responder minha pergunta.

- Me chamo Mayara Lauana Pereira e Vieira do Prado, tenho vinte anos e moro com o meu pai no Rio de Janeiro. Tijuca, para ser exata. Somos nós dois e meu cachorro, o Apollo. Ele é um Husk siberiano lindo! Minha mãe morreu poucas horas depois do meu nascimento e durante muito tempo eu me culpei por isso. Hoje eu consigo pensar diferente, mas no geral, minha infância foi bem punk. E claro, como percebeu, eu sou sapatão. -Ri com a última frase dela, era impossível manter a seriedade ao seu lado.

- Ora, ora, temos uma Sherlock lesbian Homes por aqui. - Rimos.

-E você, é o que? -Ela sorriu, mexendo no gramado.

- Tive poucas experiências com rapazes na minha vida, e zero com meninas. Mas não gosto de rótulos. Quem se descreve, se limita à ele. - Dei uma piscadela.

- Lispector Carla, 2021. -Ela me deu um tapinha no ombro.

- Vamos, Lau? Tá hora de exercitar os cambitos. -Rimos, e eu estendi minha mão para ajudá-la.

- E tem outra saída? - Bufou, segurando minha mão.

Fomos andando por entre os corredores, indo em direção ao dormitório. Apenas eu e ela dividíamos o mesmo quarto, o que facilitava um pouco mais as coisas. Eu, particularmente, não gostava de muita gente no mesmo lugar. me sufocava.

A regra era clara: Meninas dividiam seus dormitórios com outras, sem permissão para dividir com meninos. O dormitório deles ficava em outro prédio, justamente para não haver problemas.

- Você tem certeza de quer ir malhar? -Perguntou, amarrando o cabelo num coque alto.

-Você tem que parar com isso, Lau! Eu juro que ás vezes me pergunto se você realmente queria estar aqui. - Disse enquanto escovava os dentes.

Terminamos de arrumar as coisas e descemos, indo para a academia. No horário que era, não haviam muitas pessoas, e isso era uma ótima notícia, já que precisávamos malhar por algum tempo. Eu gostava sempre de malhar umas duas horas, com intervalos, claro.

- Mara, vamos sentar. Por favor. - Lauana suplicou, com a mão na costela.

- Isso que dá ser sedentária! -Ri e me sentei ao seu lado, bebendo água da garrafinha.

- Maraísa, a única marombeira aqui é você, irmã! -Riu.- - Eu sou um ser humano normal, com um corpo que pede arrego após quase duas horas de musculação e ergometria.

- E a gente tem escolha, cabeça de vento? -Bufei, enxugando o suor do meu rosto.- - Mas hoje eu vou te dar essa colher de chá! - Sorri.
- Vamos subir? Além de eu estar colando, preciso estudar. E ainda temos aula. -Me levantei.

Andamos de volta para o dormitório e eu fui a primeira a tomar banho. Liguei o chuveiro no gelado, tomando um banho relaxante e refrescante. Lavei meu cabelo, massageando os fios em seguida. Saí enrolada numa toalha, voltando para onde ela estava sentada e senti quando seus olhos me acompanharam. Tal ato me fez corar um pouco, mas eu relevei. Talvez aquele fosse o seu jeito.

- Cê vai lavar essa perseguida ou vai ficar aí igual um dois de paus? -Ela balançou a cabeça e riu, levantado em seguida.

Coloquei minha lingerie por de baixo da toalha e ela continuou parada, me observando. Virei-me para frente, encarando-a e erguendo uma das sobrancelhas.

- Eu já estou indo, donzela. Mais algum pedido? -Ela veio andando até mim.

- Não esquece o desodorante. - Me desvencilhei de seu olhar e abri o guarda roupas.

- Eu tô fedendo? -Cheirou as axilas.

- Entenda como quiser. -Sorri.-
- Agora vá, a gente não pode se atrasar!

Lauana foi para o banheiro e eu aproveitei para terminar de me arrumar. Liguei o macbook em seguida, sentando na cadeira e passando meus resumos à limpo.

- Pensei que tivesse descido pelo ralo. - Disse enquanto digitava no computador.

- Como sabia que eu tinha saído do banheiro? -Abriu o guarda roupa.-
- Bem que a gente podia ficar deitada.

- Eu sinto quando tem alguém por perto. -Continuei digitando.-
- Anda, termina de se arrumar.

- Tá bom, mandona! -Começou a se ajeitar.- - Ás vezes você é insuportável, sabia? -Eu apenas sorri. Olhei no relógio, que estava marcando duas horas.

Desliguei o computador e ajeitei meu uniforme, pegando minhas coisas em seguida.

- Lau, eu preciso resolver a questão da extracurricular. Te encontro na sala, pode ser? -Calcei os sapatos.-
- Não se atrase.

Ela assentiu com a cabeça e eu ergui a sobrancelha.

- Eu não vou me atrasar, Maraísa, calma!

Saí do dormitório, desamassando meu uniforme e andando em direção à sala do diretor. Fiz o caminho pensando em tudo o que passei para estar aqui dentro. Ás vezes eu duvidava da minha capacidade, mas começava à acreditar que Deus escreve o certo por linhas tortas.

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Comentem e interajam comigo kkkk calma, os dois primeiros capítulos são um pouco morno mas, daqui pra frente terá mais emoção. Não esqueçam a ☆

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora