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_ Maraísa! -Bateram na porta com força.

_ Eu já estou indo! -Levantei assustada, abrindo a porta.

_ Posso saber por que a senhorita não está em aula? -Era a minha mãe, como sempre.

_ Só preciso de dois minutos. -Eu revirei os olhos.

_ Espero que eu não precise falar mais uma vez. -Ela arqueou uma das sobrancelhas e cruzou os braços.

Me levantei e peguei minhas coisas. Saí do quarto batendo porta, pisando firme no chão. Minha cabeça estava à mil, mas óbvio, minha mãe não se importava.

Caminhei até a sala 265 e bati na porta. A professora abriu e deu passagem para que eu entrasse. Todos me olhavam como se eu fosse um exemplar de alienígena, inclusive a Lauana. Me sentei, pela primeira vez, na última cadeira e me desliguei do mundo externo.

Olhava a chuva cair pela enorme janela de vidro. Me sentia tão confortável. Era estranho, porque chuva sempre foi sinônimo de caos para mim... Mas talvez agora, eu também fosse um...caos.

O sinal bateu e todos se levantaram. Eu não prestei atenção em absolutamente nada, então a professora me pediu para aguardá-la na sala.

_ Senhorita... Pereira. -Ela olhou o sobrenome bordado na farda. -
_ Presumo que o dia foi conturbado. -Ela continuou.

_ Sim. -Eu respondi sem a menor paciência.

_ Espero não ter problemas na minha aula. -Ela me repreendeu.

_ Por que teria, senhora Sonza? -Eu cruzei os braços.

_ Espero que deixe os seus problemas emocionais fora daqui. -Me repreendeu mais uma vez.

_ O que está insinuando? -Perguntei no ápice do estresse.

_ Nada. Apenas espero que não tenhamos problemas daqui para frente. Eu fui clara? -Ela sorriu ironicamente.

Olhei em seus olhos castanhos e a cara de cínica. Tive vontade de dar dois tapas na cara dela. Mas óbvio que me contive, eu sou a universal. Além do mais... Não vale a pena. Era só um dia estressante.

_ Algum problema, Luiza? -Alguém perguntou, entrando pela porta.

_ De forma alguma, meu amor. -Respondeu-a.

_ Para você, é senhora Dias. -Marília deu uma patada nela.

_ Toma, distraída! -Eu gargalhei internamente.

Eu senti uma vontade tão imensa de rir, que quase não me contive. Luiza à olhava com indignação, tentando buscar respostas no silêncio de Marília. A única coisa que eu queria era correr para fora dali.

_ Espero que isso não se repita! -Marília olhou para mim e depois, para Luiza.

_ Tanto faz. -Dei de ombros e saí da sala.

Saí dali mais rápido do que o flash e fui para o jardim dos fundos. Ninguém ficava ali e eu precisava ficar sozinha. Era a minha mãe achando que podia controlar minha vida, Lauana me fazendo perguntas das quais eu não tenho respostas, professora Sonza tentando crescer para cima de mim e Marília que me deixava confusa... Eu só queria dormir o dia inteiro.

Minha cabeça foi esfriando e eu comecei à juntas as peças. O jeito que Luiza se comportou na presença de Marília, indicava ao meu sexto sentido que tinha caroço nesse angu.

_ Será que esse filhote de belzebu tinha alguma coisa com Marília? Será que elas namoram? Se eu fui enganada nessa história toda, eu juro que eu tiro meu cutelo da puta que pariu e degolo as duas. -Pensei comigo mesma.-
_ Pai amado, por quê tudo é tão confuso? -Olhei para o céu.

Deitei no gramado até o sinal bater. Era o horário da terceira aula. Corri para a formação e mexi os lábios de tanta preguiça que eu estava com aquele hino. A professora nos acompanhou e como o esperado, era Marília. Quantas vezes essa mulher vai me dar aula por semana?

_ Boa tarde. -Ela colocou a pilha de livros em cima da mesa, fazendo um barulho alto. -
_ Formem duplas. Quero que cada um venha até aqui pegar o livro de maneira organizada. Façam às páginas 342, 344, 346 e 348. -
_ Se tiverem dúvida, venham até mim. Dois pontos na média. -Ela disse num tom sério.

Lauana olhou para mim e nós juntamos as cadeiras. Marília estava tão séria que tiramos no "ímpar ou par" para ver quem levantaria.

_ Porra! -Eu sussurrei. Lau olhou para a mim e riu.

Me levantei e fui até a sua mesa. Fiquei esperando a minha vez de pegar o livro e voltei para o meu lugar.

_ Por que ela está tão mal humorada? -Lau sussurrou.

_ Não sei. -Abri o livro.

_ Algum problema, senhorita Pereira? -Marília me olhava séria, expressando uma raiva fora do comum.

Eu não respondi. Quem tinha todos os motivos para estar brava, era eu. A bicha me trata com ignorância e eu sou obrigada à isso?
Olhei em seus olhos na mesma intensidade.

_ Eu falei com você! Responde, Carla! -Ela aumentou o tom.-
_ Ou a senhorita responde, ou está convidada à se retirar da minha aula. -Ela levantou e veio até mim.

Olhei para Lauana e ela sabia o que aquele olhar significava. Peguei minhas coisas, levantei da cadeira e me retirei.
Marília me acompanhava com os olhos e fez questão de abrir a porta. Abaixei a cabeça e saí.
Ainda sentia que ela me observava na porta da sala. Mas eu nem se quer olhei para ela. Se a bonita estava achando que eu iria me desculpar por ter escolhido o silêncio, estava enganada.
Subi até o dormitório, tomei o meu glorioso banho quente e deitei na cama. Senti meus olhos pesarem e acabei adormecendo.

_ Mara? -Alguém me chamou.

_ Hm. -Resmunguei.

_ Você está bem? Tá queimando de tão quente. -Lau colocou a mão na minha testa.

_ Eu só estou cansada. -Resmunguei.

_ Já são 19h, amiga. Você dormiu muito. -Ela estava preocupada.

_ Eu sei... É só estresse. Vai passar. -Abri meus olhos com dificuldade.

_ Está acontecendo algo, eu sei disso. Mas não vou insistir, Maraísa! Sabe que pode contar comigo para qualquer parada. -Ela fez carinho no meu cabelo.-
_Vem, vamos jantar com meu pai. -Ela me ajudou a levantar.

Troquei de roupa e fui até a sala do senhor Oliveira. Ele sempre foi tão gentil comigo, que as vezes eu fico assustada. Normalmente as pessoas aqui são muito "Almira".

_ Soube que faltou duas aulas hoje, senhorita Pereira. Você está bem? -Ele indagou num tom de preocupação.

_ Sim. -Me sentei e sorri.

_ Papai trouxe nhoque. -Ela me serviu.

_ Não tem como ficar estressada com um prato de nhoque. -Eu sorri.

Nos servimos e eu comi mais do que um búfalo. Alguém precisava alimentar minhas lombrigas. E eu realmente gosto muito de massa. Ficamos conversando até às 21h, quando o sinal de recolher tocou.

_ Boa noite, meninas. -Ele sorriu e abriu a porta.

_ Boa noite. -Falamos juntas.

Saímos dali de fininho e fomos até o dormitório. Lauana conseguiu me tirar da bolha e me fazer esquecer muita coisa que estava me atormentando. Entramos no quarto e eu fui direto para o banheiro.

_ Toma seu banho despreocupada, eu vou passar nossas fardas. -Ela disse do quarto.

Tomei meu banho sossegada e consegui relaxar enquanto a água quente caía sob meu corpo. Me enrolei na toalha e procurei meu moletom confortável. O vesti e voltei ao banheiro para escovar os dentes.

_ Você perde toda a credibilidade nesse moletom de sapinho. -Lauana ria enquanto tomava banho.

_ Para, besta! -Ri

Terminei de escovar os dentes e deitei a cama. Sabia que teria que acordar super cedo, mas não tinha sono. Lau deitou na outra cama e não demorou até que ela estivesse desmaiada.

Eu estava agoniada e não sabia por quê. Mas se tem uma coisa que eu aprendi, é que minhas intuições nunca falham.

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora