39

1.8K 258 453
                                    

_ Os problemas continuaram depois que você foi embora, Maraísa. -Luiza bebericou o café.-
_ Lauana parecia vitoriosa com a sua partida. -Sorriu ao lembrar da moça.

_ Começo a me perguntar qual a real diferença entre vocês duas. -Murmurei.

_ Ora... -Sorriu.-
_ Se você basear seus conhecimentos no passado, você nunca saberá de nada. Todos nós estamos em constante mudança. -Ela ergueu uma das sobrancelhas.-
_ E embora eu tenha cometido uma série de erros, não sou dissimulada.

Mais um silêncio pairou sob o local. Eu sei que precisamos conversar sobre tudo o que estava de fato acontecendo, porém eu precisava respirar aos poucos, pois a dor era tanta que me faltava ar nos pulmões. E incrivelmente, Luiza sabia disso.

_ Lauana recebeu todas as cartas que vocês mandavam uma para outra. Ela cortou toda e qualquer possibilidade de aproximação de vocês duas. -Mexeu no café com a colherzinha.-
_ Eu vi, Maraísa...

_ Eu... -Não consegui terminar minha frase e deixei que algumas lágrimas escapassem.

Decepção nunca é fácil. Todavia, estamos acostumados a sermos decepcionados quase todos os dias. O problema é quando vem de alguém que nós conhecemos. Além de nos deixar triste, isso interfere em todas as coisas que construimos ao lado de alguém. É engraçado como as piores decepções vêm sempre de pessoas que não esperamos. Lauana sempre se mostrou muito receptiva comigo, desde o momento em que nos conhecemos. Ainda era difícil imaginar que ela foi capaz de me destruir. Por fora e... Por dentro.

_ Luiza...-Suspirei.-
_ Obrigada!

_ Ainda tem tanta coisa, pequena. -Sorriu. -
_ Mas por hora, prefiro deixar assim. Você já está sofrendo demais, sei que tem sido difícil lidar com você mesma.

_ Eu prefiro sofrer de uma vez só. -Sorri fraco.-
_ Mas você tem razão. Por hora, deixemos assim.

_ Você tem plantão? -Perguntou-me.

_ Hoje não. -Olhei em seus olhos.-
_ Por quê?

_ Prometa-me que vai se cuidar. -Pegou minha mão que estava sob a mesa.

Seu toque macio e quente, fez com que, por alguns segundos, olhasse em seus olhos esverdeados e sentisse um pouco mais de segurança. Luiza estava sendo tão legal comigo e não tinha necessidade alguma para tal.

_ Pode deixar. -Sorri.

Senti quando sua mão fez carinho sob meu dedo e ela sorriu timidamente. Em seguida, chamou o garçom e pagou a conta, levantando da cadeira e andando calmamente até mim. Luiza deixou um beijo no topo da minha cabeça e virou as costas, saindo da cafeteria.

Meus olhos ainda acompanharam sua silhueta até sua moto pela janela do café. Ela olhou para o lado, sorrindo e dando partida em seguida.
Olhei em meu relógio, constatando que ainda estava em meu horário e caminhei tranquilamente até o hospital. Eu parecia tranquila, mas a verdade era que meu coração estava em pedaços e minha cabeça estava desnorteada.

_ Bom dia, doutora Maraísa. -Era Nayara, com seu largo sorriso.

_ Bom dia. -Respondi sem empolgação.

Peguei minha pasta em cima do balcão e folheei sem animação as páginas.

_ Ok. -Suspirei, fechando a pasta e indo até o quarto de Marília.

Andei até o final do corredor, batendo em sua porta, mas não tive coragem de entrar. Encostei meu corpo no outro lado da parede, esperando meu coração desacelerar. Sem sucesso.

Entrei de cabeça baixa, tentando sustentar meu próprio peso. Mas estar em sua presença ainda era difícil e intimidante para mim. Tentei levantar meu olhar, procurando não encarar Marília.

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora