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Saí do banheiro e vesti minha farda. Escovei os dentes e calcei os sapatos. Fiz meu coque e nós descemos.

Fizemos a fila e a professora nos guiou para a sala 274. Entramos um de cada vez e nos sentamos.

_ Á partir de hoje, estarei utilizando essa apostila. Por favor, tragam em todas as aulas. Abram na página cinco e tentem resolver as questões de número 20 à 24. -Disse Marília, sentando em sua cadeira.

_ Qualquer dúvida, por favor, venham até minha mesa. -Ela sorriu e pegou a sua caneta.

Marília batia a tampa da caneta na mesa de madeira, fazendo meu coração palpitar. Não aguentando de curiosidade, olhei para ela, que retribuiu o olhar, erguendo uma sobrancelha e passando sutilmente a língua por entre os lábios.

_ Minha Santa protetora do hímen, dai-me amparo. -Eu fugi dos seus olhos e conversei comigo mesma.

Tentei resolver as questões, que não estavam nada fácil. Lauana me implorava pelas respostas e eu tentava segurar a risada.

_Me passa, Mara. -Suplicou baixinho

_Não posso, você sabe como ela é. -Sussurrei.

_Senhorita Prado, você tem quarenta minutos para fazer as atividades e me entregar. -Marília disse num tom autoritário.

Me virei e continuei a resolver as questões. Estava na última questão e não conseguia fazer. Já tinha apagado o caderno umas cinco vezes. Precisava tirar minhas dúvidas, mas Marília me deixava constrangida. Olhava para mim e me despia apenas com o olhar. Não conseguia ficar perto dela sem me sentir nervosa.

Decidi levantar e ir até a sua mesa. Não pude deixar de notar que seus olhos me acompanhavam.
Me abaixei do seu lado e mostrei a questão para ela.

_Algum problema, senhorita Pereira? -Ela me fitou.

_É... A última questão, professora. -Eu disse, levemente envergonhada.

Ela pegou a caneta que estava no bolso da blusa, a mesma que me emprestou no dia em que me levou na enfermaria. Me deu a caneta e eu segurei. Sua mãos direita segurou a minha, guiando meus movimentos. Sentia meu corpo inteiro entrar em transe. Parecia que a minha vida tinha congelado. Meu coração batia tão rápido quanto uma bateria da escola de samba. Sentia sua mão macia e delicada e seu cheiro estava cada vez mais perto de mim. Foram longos segundos pensando mil coisas, mas meus pensamentos foram interrompidos por ela:

_ Entendeu agora? -Ela soltou minha mão e me olhou.

_ S-sim. -Gaguejei.

Marília passou a mão delicadamente em meu rosto e sorriu. E eu? Eu queria sair dali correndo e nunca mais voltar.

Voltei ao meu lugar e na realidade não tinha entendido nada. Precisava sair dali antes que eu enlouquecesse. Aliás, antes que ela me enlouquecesse.
Olhei para frente e percebi que ela estava à me encarar. Seus olhos eram o meu maior pecado. Não podia deixar de lembrar daquela música: "Teus lábios são labirintos. Que atraem meus instintos mais sacanas."

_ Cinco minutos pessoal. Quem acabar, traga aqui, por favor. -Marília olhou para o relógio.

Guardei minhas coisas e fiquei esperando a fila diminuir, afinal, eram muitas pessoas. Quando a fila diminuiu e Lauana terminou as atividades, eu me levantei para ela dar o visto. Me aproximei da senhorita Dias e novamente um mix de sensações me invadiam.

_Você está bem? -Ela me perguntava de forma suave.

_Sim. Só estou em outro planeta. -Tentei sorrir.

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora