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_ Não é para tanto. -Gargalhou. -
_ E você? Sabe quem são seus orixás?

_ Iemanjá e Oxaguian são os donos da minha vida! -Sorri.

_Grande sereia! -Respondeu-me-
_ Candomblé?

_Sim. -Sorri. -
_ Mas não conta para ninguém.

_ Sua mãe não curte, não é? -Ela fez carinho na minha mão.

_ Não. -Sorri. -
_ Por isso ainda não raspei. Sem condições de enfrentá-la agora. -Bufei.

_ Sua mãe é osso duro de roer mesmo. -Riu.-
_ Morria de ciúmes na época em que seu pai e eu voltamos à nos falar.

_ Qual o rolo de vocês, Marília? Eu já percebi o jeito que ele te olha. -Perguntei-a.

_ Você realmente quer saber? -Indagou, segurando minha mão.

_ Uhum. -Respondi-a.

_ Bom... -Suspirou, levantando a cabeça e olhando para mim.-
_ Seu pai e eu nos conhecemos através de papai, eu tinha por volta de doze anos e seu pai, vinte. Viramos grandes amigos! A gente pulava o muro atrás do prédio dos professores para roubar jabuticaba. -Riu ao lembrar da cena.-
_ Um ano depois, eu com meus quatorze anos, acabamos nos relacionando. Ficamos até o fim do meu ensino médio mas seu pai era muito mulherengo! Um dia meu pai descobriu que ele estava com outra mulher e proibiu nossos encontros, porque claro, seu pai estava na faculdade e eu na escola, sendo eu apenas uma menina. Eu não lutei, não iria lutar por alguém que não me merecia. Meu pai me trouxe para cá e eu nunca mais o vi. Só depois de anos... A gente se reencontrou. Ele disse que tinha casado e construído uma família. Você já era uma mocinha. -Sorriu.

Fiquei alguns minutos olhando para o mar, calada.

_ Você ficou triste? -Ela perguntou.

_ Não... -Sorri. -
_ O que você fez antes de me conhecer, não me diz respeito. O que importa é o que você fará daqui para frente. -Deitei em seu colo.

_ Eu acho que ele se arrependeu. -Ri.-
_ Muita coisa mudou, morena. Descobri que eu nunca amei o seu pai, acabei me relacionando com uma mulher e entendendo minha orientação sexual. Seu pai foi uma memória boa na minha vida, não tenho porquê guardar rancor, pois não o amava. -Sorriu.

_ Chega de falar sobre passado. -Pedi. - _ Senti sua falta. -Sentei em seu colo, olhando em seus olhos.

Marília abriu um sorriso e colou nossos lábios. O beijo era lento e saboroso, lotado de saudade. Sua mãos seguravam minha cintura, enquanto as minhas seguravam seu maxilar com carinho. Ela era uma droga e eu estava completamente dependente dela. Buscou um contato mais intenso, apertando meu quadril, fazendo-me dar passagem para sua língua. Nossas línguas estavam em sincronia, e minhas mãos agora estavam em sua nuca.

_ Marília... -Interrompi o beijo. -
_ Olha aonde estamos. -Rimos.

_ Eu sei, é perigoso. -Beijou meu pescoço, fazendo meu corpo se arrepiar.-
_ Mas o que eu faço se você me deixa morrendo de tesão? -Sussurrou.

_ Você é uma tentação, sabia? -Ri.

Marília parou com suas provocações e mirou nos meus olhos. Ela me despiu apenas com o olhar, da maneira mais sacana que existira. Me aproximei de seu corpo, beijando seu pescoço, direcionando os lábios para a ponta de seu queixo, castigando-a com uma mordida. Ela segurou em meu rosto, colando nossos lábios com um beijo calmo. Minhas mãos seguravam as suas e nossos corações batiam de maneira sincronizada. Finalizei o beijo com um selinho demorado, abrindo os olhos e vendo-a me observar.

_ Então é isso o que você faz todas as noites, Maraísa? Dar para a nossa professora? -Eu escutei alguém gritar.

Meu coração parou de bater por alguns segundos. Virei a cabeça para o lado de maneira receosa, ainda que reconhecesse aquela voz.

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora