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_ Você não está bem, está? -Seu tom era atencioso, selando rapidamente nossos lábios.

_ Sinceramente? Eu tô com medo, Marília. Acho que eu me deixei levar muito rápido e quando percebi, já estava envolvida. -Suspirei.

_ Maraísa... -A interrompi.

_ Marília, eu não me arrependo. Só tenho medo de que você não queria mais nada comigo. Não posso cobrar nada de você... Mas como eu digo isso para o meu coração, sabe? -Minha voz saiu trêmula.

_ Eu não sou assim, Maraísa. Tenta confiar em mim, nada vai mudar. Eu estou aqui... Essa situação toda é muito mais arriscado para mim do que para você, e ainda assim, estou aqui. -Ela se aconchegou em meu peito.

Ficamos em silêncio, enquanto eu fazia carinho em seus cabelos. Eu não sabia o que estava para acontecer, pela primeira vez na vida. Mas meu coração precisava...dela. Mais do que do oxigênio.

_ Acho que chegamos. -Sussurrei em seu ouvido, acordando-a.

_ Já? -Ela perguntou manhosa.

_ Vamos descer, antes que alguém suba. -Dei um selinho demorado em seus lábios e nós descemos.

Marília fez carinho na minha mão e deixou um beijinho ali. Sorri de maneira involuntária e ela retribuiu o olhar.

_ Maraisa! -Alguém gritou e veio correndo em minha direção.

_ Aí meu Deus, calma, mulher! -Disse enquanto abraçava Lauana.

_ Você vai me contar tudo o que aconteceu nesse fim de semana, tu sumiu, cara! É doida? -Lauana riu.

_ Lau, não tem nada para contar. -Menti. -
_ Eu sumi porque passei o dia com meus pais.

_ Sei... Acha que me engana? E Marília na sua casa, também não rolou nada? -Ela cruzou os braços.

_ Não! -Revirei os olhos. -
_ Já disse que ela é profissional

Me desvincilhei de seu abraço e saí em direção ao meu quarto. Lauana era legal, até o momento se mostrava uma boa amiga, mas ela às vezes era inconveniente. Não me sentia à vontade para falar e ela precisava respeitar.

Subi para meu quarto e desfiz minha mochila. Deitei por cinco minutos, antes de alguém bater na porta e me chamar:

_ Pereira? -Uma voz feminina me chamou.

_ Já estou indo. -Bufei, levantando da cama e abrindo a porta.

Abri a porta e para a minha surpresa, era a minha mãe. Eu sabia que levaria uma bronca, mas não tinha problema. Eu estava com tensão pré menstrual, tinha o direito de deitar e comer meu chocolatinho.

_ Você vai se atrasar, filha. Esqueceu que sua aula de tiro esportivo começa hoje? -Minha mãe cruzou os braços.

_ Aí, mamãe! Esqueci completamente... -Bati a palma da mão na testa.

_ Você anda muito dispersa, minha filha. Não pode ser assim. -Ela me puxou para fora do quarto e eu saí.

Andei até o campo, era um caminho longo. Minha mãe sentou ao lado do segurança e ficou me observando.
A aula era prática e teórica, ou seja, eu provavelmente pegaria numa arma ainda naquela manhã.

_ Senhorita Pereira, por favor. -Ele me entregou abafador e óculos.

_ Eu não corro risco de matar ninguém, não é? -Ri de nervoso.

_ Não! -Riu. -
_ Vamos começar do básico. Aqui você destrava a arma. -Ele me mostrou. - _Aqui você verifica o pente. -Apontou para o cartucho.-
_ E aqui, nesse gatilho... Bom, você descobrirá. -Ele disse, se afastando logo em seguida.

Mirei no alvo vermelho e respirei fundo. Tive que prender a respiração para não tremer, por falar nisso. Destravei a arma e puxei o gatilho. O barulho era alto e eu mesma me assustei com ele.

_ Não acredito nisso, você é boa, guria! -O professor tinha um sotaque gaúcho.

_ Obrigada, professor. -Sorri.
Olhei para o lado e Marília estava sentada, olhando para mim da arquibancada. Minha mãe não estava mais ali e só estávamos eu, o professor e ela.
Passei a manhã treinando com ele, vez ou outra olhava para a loira e ela estava lá, toda linda e sexy, me encarando.

_ Essa aqui é uma M1014. -Me entregou uma arma pesada. -
_ É uma escopeta. -Sorriu.

_ Ah, beleza, eu realmente tô pronta pra matar alguém. -Ri.

_ Vem cá, deixa eu te ensinar como usar. -Puxou-me pelo braço.

Ele pegou a escopeta da minha mão e destravou. Empinou a minha coluna, deixando meu pescoço reto e me ensinou à empunhá-la. Olhei para o lado e não vi mais Marília. Ignorei, já que ela era professora e precisava dar suas aulas.

Dei o primeiro, segundo e terceiro tiro. Eu realmente não sabia que tinha talento para matar pessoas.

_ Eu vou dispensar você, Maraísa! Se não, a gente fica treinando o dia inteiro. -Riu. -
_ Nos vemos na quarta. Adorei treinar com você! -Eu sorri de lado e saí do campo.

Fui correndo para o refeitório, estava morta de fome! Me servi, com muito arroz e salada no pratinho e me sentei.

_ A barriga é de monstro, mas o coração é de mocinha. -Lauana sentou ao meu lado.

_ Tu tá aí, peste? Pensei que estivesse boladona comigo. -Olhei para ela.

_ Claro que não, garota. Anda, vamos comer! Ouvi dizer que a gente vai ter aula com uma professora sem coração. -Ela bufou.

_ Você também não tem, Lauana. -Ri.

_ Pelo menos eu não me alimento de sofrimento dos meus alunos. -Ela debochou.

Almoçamos bem rapidinho e subimos para o dormitório. Lau entrou para o banheiro e eu aproveitei para pegar o celular e falar com Marília.

WhatsApp on:

Mara: Ei, você está aí? Sinto sua falta.

Lila: Sim, estou muito ocupada.

Mara: Hm... Está tudo bem?

Lila: Estou ocupada, Maraísa. Até!

Mara: Até...

WhatsApp of.

Marília estava estranha comigo e eu nem sabia o motivo. Talvez ela tivesse ficado com ciúmes da Lauana, mas eu não tinha certeza. Não fiz nada de errado, o que só me deixou ainda mais brava. Será que essa reencarnação de Lúcifer era bipolar?

_ Que cara é essa, amiga? -Lau estava parada na porta com uma toalha vermelha na cabeça.

_ Nada. -Sorri forçado. -
_ Vou tomar banho.

_ Eu vou indo na frente, tenho que falar com meu pai. Não falta aula, viu? -Diz e me deu um beijo na testa e saiu da porta.

Entrei no banheiro e tomei um banho quentinho. Me perguntava constantemente o que tinha acontecido com Marília, para ela me tratar daquela maneira e não conseguia entender. Claro que eu estava chateada, sempre preferi que as pessoas fossem sinceras comigo.

Um monte de paranóias pairavam sob mim. Será que ela só queria transar comigo? Será que ela não me queria? Será que estava brincando comigo?

_ Eu não acredito, Marília... -Suspirei baixinho, já cabisbaixa.

Saí do banheiro enrolada numa toalha, Lauana não estava mais lá. Vesti minha lingerie e após, minha farda. Só não prendi o cabelo porque queria ficar alguns minutinhos na cama. Meus olhos pesavam, eu realmente acordei cedo e dormi muito tarde. Acabei cedendo e cochilando um pouquinho.

_ Por que você revira tudo em mim, Marília? -Foi a última coisa que me perguntei antes de me entregar ao sono.

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora