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Passaram-se algumas semanas desde o meu último encontro com Marília. Após uma linda noite com Nayara e uma intensa conversa com a mesma, decidi tratar o caso de Marília de forma profissional e apenas isso.

Não preciso dizer o quanto meus dias sem ela ainda me pareciam vazios, embora muito menos do que antes. Consegui me permitir conhecer novas pessoas, bocas e afins. Mas nada chegava aos seus pés. Não que ela fosse única na face da terra, mas meu sentimento era. E isso fazia dela única em meu coração.

Cruzei a recepção do hospital, passando por Nayara, que me recebia com seu sorriso gentil.

- Boa noite, doutora Pereira. -Disse enquanto mordia a tampa da caneta.

- Boa noite, Azevedo. - Sorri de lado.-
- O que tem para hoje?

- Aqui estão os prontuários do seu plantão. - Sorriu e me entregou a pasta preta.

Sorri de volta e caminhei até a sala 13, girando a maçaneta da porta.

- Qual o seu nome, minha linda? - Perguntei à jovem de cabelos azuis, que aparentava ter entre quinze e dezessete.

- Cecília. - Sua mãe respondeu.

- Falta de ar, febre, dores no peito... - Analisei seus sintomas no prontuário.- - Acho que está com pneumonia.- Ajeitei meus óculos.-
- Vamos examinar você.

- Nayara, cadê a pneumologista desse hospital? - Perguntei nervosa. Odiava atrasos.

- Com licença? -Ouvi alguém pigarrear.-
- Eu sou a pneumologista. -Respondeu irônica.

- Ótimo! - Cruzei os braços.-
- E será que a senhora poderia se dirigir até a sala de exames, porque a droga do seu dispositivo está tocando à minutos! - Exclamei irritada.

- Ok. - Foi o que respondeu, virando-me as costas.
Presunçosa.

Saí pisando forte, indo até a sala de medicações. Vez ou outra ia ali para respirar, pois acredite, era meu templo de Gandhi.

- Doutora? - Escutei uma voz feminina me chamar.

- Ãhm... Sim? - Respondi confusa.

Escutei passos de salto se aproximarem e um corpo me prender contra parede.

- Por que tão brava? - Senti meu coração acelerar quando reconheci o perfume.

- Nayara... - Respondi entrecortada.

- Precisa de alguma coisa? - Ela rodeou seus braços em minha cintura.

- Só estou estressada. - Suspirei.

Selei nossos lábios com um beijo casto e ela correspondeu, fazendo carinho na minha bochecha.

- A paciente do quarto 30 aguarda sua liberação. -Nayara disse, saindo da sala.

Era o quarto de Marília. Senti meu mundo parar por alguns milésimos e me ajeitei, saindo da sala. Caminhei pelo corredor do hospital e bati na porta, entrando em seguida.

- Maraísa, precisamos conversar. - Senti meu corpo tremer ao escutar sua voz e um calafrio subir pela minha espinha ao escutá-la pronunciar meu nome.

- Você está liberada, senhora Dias. - A cortei. Precisava disso, pelo meu próprio bem.

- Eu vou embora, Maraísa. Mas eu volto. A gente precisa conversar. -Seu tom era sério.

- Tem um apartamento do lado do hospital, pode comprar, tu vai esperar muito. -Respondi irônica.-
- Assina aqui, por favor.

Ela pegou o papel e assinou seu nome. Eu ainda me lembrava do jeito que seus dedos seguravam a caneta e como a leveza parecia escrever por ela. Respirei fundo, evitando contato direto com seus olhos, principalmente por saber que tal gesto seria minha ruína. Eu precisava, à qualquer custo, me proteger para não ser enganada de novo. Marília me entregou o papel e pegou o telefone, iniciando uma ligação. Conferi sua assinatura e saí dali. Passei voando pela recepção, indo até o banco de madeira que ficava do outro lado da rua. Olhei para o céu e percebi o quanto a lua estava linda. Não pude deixar de lembrar do nosso último dia.

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora