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Senti duas mãos encostarem em meus ombros, fazendo meu cérebro congelar. Temia que fosse mais encrenca, pois já estávamos encrencadas o suficiente. Quando me virei, fiquei aliviada, não era minha mãe.

_ Não sei se quero deixá-la ir. -Uma voz familiar pronunciou.

Era Marília. Era incrível como aquela mulher fazia meu coração palpitar como da primeira vez em que nos vimos.

Olhei em seus olhos castanhos e senti a paz que eles me traziam. Segurei em sua cintura, trazendo seu corpo para mais perto. Marília fazia carinho em meus cabelos, deixando-me ainda mais entregue. Aquela altura, não era somente sexo. Passamos de duas pessoas com tesão incontrolável para duas pessoas com tesão incontrolável e sentimentos que ainda não éramos capazes de denominar.

_ Eu vou te proteger, Maraísa. -Ela disse-
_ Custe o que custar.

_ Só não quero que custe nós... -Eu disse baixinho. -
_ Não quero ficar longe.

_ Nem eu, morena... -Senti sua voz embargar.

Raríssimas foram as vezes em que vi Marília chorando. Não é por nada, mas ela sempre foi uma mulher muito firme. Vê-la chorando ali, por aquela situação, me cortou o coração.

_ A gente pode dar um tempo...-Disse fraco.

_ Maraísa, isso está fora de questão. -Seu tom agora era firme.

_ E se ela contar para minha mãe? Você pode ser expulsa, presa... Você sabe dos riscos. Eu só poderei responder por mim no próximo ano, quando tiver dezoito. -Suspirei.

_ Meu bem, olha para mim. -Pediu.

Enxuguei minhas lágrimas e encarei seu rosto.

_ Você vai voltar para o seu quarto e conversar com Lauana. Se vocês duas realmente são amigas, não tem motivo para ela fazer isso. -Segurou meu queixo.-
_ Se nada der certo, a gente pensa em outra coisa. Agora, quero que se concentre e tome coragem. -Respondeu-me, puxando meu corpo para um beijo.

A loira grudou nossos lábios com um beijo devastador, pois sentia o sabor da despedida. Tinha medo de não conseguirmos ficar juntas. Pois já não era apenas sexo... Era muito mais do que isso.

_ Eu adoro você, Maraísa. -Mirou meus olhos como da última vez.

_ Eu adoro você, Marília. -Sorri.

Só então me desvencilhei de seus braços, mesmo não querendo e voltei à caminhar para o dormitório.

_ A noite vai ser longa. -Bufei.

Fui andando até o quarto, pensando um milhão de coisas. Estava tão apreensiva que não consegui pegar o celular. Sentia-o vibrando, mas minhas mãos suavam frio. Girei a chave e entrei, me deparando com o caos em pouquíssimos metros quadrados.

_ VAZA, SUA PIRANHA! -Lauana gritava e bagunçava os cabelos.

A cena era de arrepiar: Lau estava com o cabelo desgranhado e sua expressão de raiva tomou todo seu corpo. Não sabia como alguém que parecia tão doce, se transformou naquilo.

_ Lauana, senta. -Pedi.

_ Eu vou quebrar esse copo na sua cabeça, Maraísa! -Respondeu-me.

_ MAYARA LAUANA, EU DISSE PARA SENTAR! -Gritei, enfurecida.

Ela olhou para mim incrédula, mas sentou. Ótimo, consegui acalmar o demônio. Agora eu precisava contornar a situação.

_ Presta atenção no que eu vou te dizer, Lau. -Respirei fundo. -
_ Você vai parar com esse show, eu fui clara? Não quero saber de você dando piti na minha cabeça. Eu sou madura o suficiente para saber escolher meus caminhos. -Respondi-a, olhando para a janela.

_ Você não entende, Maraísa! Ela vai te machucar. Não entende que eu só tô tentando te proteger? -Ela choramingou, levantando da cama e vindo até mim.

Lau caminhou até o meu corpo, prendendo-o contra a parede. Olhei para os seus olhos, mas não conseguia entender absolutamente nada. Ela fez carinho em meus cabelos, em seguida, puxou-me para um abraço.

_ Lauana isso não é amizade. Você não pode ser possessiva desse jeito. Como eu vou lidar com suas crises? -Desabei em lágrimas.

_ Me desculpa... Eu quero que você entenda, Mara. Não quis te assustar. -Me abraçou apertado.

Senti ela se acalmar e seu coração bater mais fraco. Me arrisquei em colocar a mão em seus cachos ruivos e fazer cafuné. Ela caminhou para trás, conduzindo-me até a cama, e nos deitamos.

_ Amiga, eu amo você. Só não faz mais isso, por favor. -Implorei, chorosa.

_ Eu vou te contar tudo, tá!? -Ela sentou.

Ela me puxou e eu sentei de frente para ela. Pegou minha mão e senti que seu corpo travou. Olhei em seus olhos, certificando-lhe que eu daria o suporte necessário. Ela sorriu em resposta.

_ Quando eu tinha dezoito anos, conheci uma professora no cursinho que eu fazia. Nos aproximamos e acabamos tendo contato longe das aulas. Ela era muito linda, interessante e...casada. -Suspirou. -
_ A questão é que, os dias foram passando e a gente foi ficando cada vez mais próximas. Até que um dia a gente se beijou... E foi o melhor beijo de toda a minha vida, amiga...

_ Tô compreendendo. -Respondi-a.

_ Você sabe que quando o corpo quer, a alma entende e a gente transou naquele mesmo dia, dentro do caro de papai. -Riu ao lembrar da cena-
_ Mantínhamos nosso lance em segredo e eu me apaixonei... Perdidamente por ela. E esqueci que ela era casada, que jamais largaria a esposa para ficar comigo. -Sua expressão havia mudado.

Lau fechou os olhos e pude ver algumas lágrimas surgindo em seu rosto. Limpei-as com o polegar e ela suspirou.

_ Mara...-Choramingou. Naquela altura, ela estava se debruçando em lágrimas e seu rosto estava vermelho

_ Calma, meu bem. Não precisa contar mais nada, tá? Eu entendo você... Tá tudo bem, eu tô aqui. -Puxei-a para meu peito.

_ A questão, Maraísa, é que eu era completamente apaixonada por ela, mas ela não quis arriscar absolutamente nada por mim. Até com o meu pai eu conversei, amiga... Estava tudo certo, eu só precisava que ela também fizesse algo por nós. -Suspirou. -
Mas, não fez. Dois anos se passaram desde que tudo isso aconteceu e eu ainda sinto meu peito doer cada vez que escuto seu nome, quando vejo nossas fotos... Quando leio nossas cartas... Tudo. E quando eu vim para cá... Advinha? Dei de cara com ela, amiga. Eu precisava tanto de você naquele momento, mas acho que estava com Marília. Eu revivi tudo e ainda tô revivendo... Qualquer coisinha mexe muito comigo. -Choramingou, fazendo beicinho.

_ Amiga, quem é? -Perguntei, já sabendo a resposta.

_ Luiza Sonza...-Respondeu-me baixinho, quase num sussurro. Mas foi o necessário para que meu coração parasse de bater por alguns segundos.

_ Amanhã nós conversamos mais um pouquinho, tá? -Sussurrei, ainda com ela em meu peito.

_ Amiga, olha essa bagunça! -Riu no meio das lágrimas. -
_ Eu sou um monstro.

_ Você é... O meu Taz mania. E eu te amo! -Rimos.-
_ Anda, eu vou te ajudar a arrumar. -Sorriu, levantando da cama.

E assim, terminamos a noite: arrumando toda a bagunça que o meu Taz mania fez.

Mas ainda tinha tanta coisa a ser dita... -Pensei- amanhã é outro dia.

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Por hoje é isso <3

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora