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Aproximavam-se das oito horas da noite e Marília ainda não tinha me retornado. Tentei ligar para ela no intervalo de um paciente e outro, mas caía da caixa postal. Estava angustiada com aquela demora, a falta de resposta. Minha cabeça começava á martelar negativamente, pensando nas duas juntas naquele apartamento.

- Respira, Maraísa! -André abriu a porta, percebendo meu nervosismo.-
- O que houve? Vim te buscar para irmos juntos.

- Ai, Dé... -Disse chorosa.-
- Marília me deixou aqui cedo dizendo que iria no apartamento da Lauana resolver a situação delas... Mandou mensagem de manhã e até agora não retornou.

- Você tentou ligar?

- Mais de cem vezes... Amigo, eu tô ficando desesperada.

- Vocês marcaram de se encontrar?

- Ela disse que viria me buscar, mas são dez para as oito. -Senti uma lágrima cair dos meus olhos.

- Maraísa, sem chorar! Ela deve estar vindo... -Tentou me acalmar.

- É... -Sorri forçado.

- Vou avisar ao Edu e ficar contigo, tá?

- Que isso, amigo... Vá para casa, curtir seu amor. Eu vou esperar mais um pouco. Qualquer coisa, eu pego um ônibus. Não comenta nada com meu pai, por favor. Diz que eu vou ficar mais um tempo no hospital revisando alguns prontuários.

- Onde é que está sua irmã? -Perguntou mudando de assunto.

- Ela tirou a licença maternidade. Ela fez uns exames e descobriu que o Pi tem um leve grau de autismo. E isso exige cuidado em dobro. Ela veio só fazer umas coisas e foi embora mais cedo. -Respondi sentindo um pesar no coração. Querendo ou não, eu me acostumei com minha irmã aqui.

- Nossa amiga, tadinho do Pietro. Ela é uma mãe eficiente, vai cuidar dele certinho. Ela foi embora pra casa dela ou para a sua? -Perguntou enquanto tirava o jaleco.
- Não quer mesmo que eu fique aqui com você?

- Ela foi pra casa dela. O marido chegou de viagem. Mas, ela irá me visitar sempre que puder. E, não, não precisa ficar aqui comigo. Você tem razão, Marília já deve estar chegando. -Respondi visivelmente cansada.

- Tudo bem, amiga. Mas olha... -Ele pausou a fala, alcançando o bolso frontal da calça.-
- Fica com meu carro. Se precisar, use-o. Vou no carro do Edu. -Me deu um beijo no topo da cabeça.-
- Se cuida, anjo!

- Boa noite, meu amor! Muito obrigada pelo carro. -Sorri.-
- Você é como um irmão pra mim.

Ele deixou a minha sala e eu tirei meus sapatos,dobrei o jaleco e guardei o estetoscópio na bolsa, me jogando na maca logo em seguida.

Alcancei meu celular e tentei ligar para Marília mais uma vez, mas sem sucesso. Olhei a hora no relógio, eram oito e quinze. Coloquei meus fones de ouvido e abri minha playlist nomeada como: A bad bateu em minha porta e eu abri.

- Sensível demais, eu sou um alguém que chora por qualquer lembrança de nós dois. Sensível demais, você me deixou e agora? Como dominar as emoções? -Cantarolei baixinho, sentindo as lágrimas molharem meu rosto.

- Não acredito que você fez isso, meu amor... -Fechei os olhos.

E naquela sala, ao som de Maria Bethânia, meu coração, mais uma vez, começava a se despedaçar devagar, soltando espartilhos de vidro lentamente, fazendo meu peito sangrar. Olhei mais uma vez no relógio, marcava oito e vinte. E nem sinal dela.

- Onde você se meteu, Marília? -Me perguntei aflita.

***

- Meu bem? -Ouvi uma voz mansa soprar em meus ouvidos. Ainda com os olhos fechados, respirei pesado, tentando abri-los.

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora