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Depois de um tempo, voltamos aos trabalhos. Fui chamada na sala de Marília.

_ Como ela está? -Perguntei ao ortopedista.

_ Ótima. Eu vi como foi o acidente, essa mulher não tem um arranhão grave. -Ele sorriu.-
_ Você é muito linda, sabia? -Disse se referindo á Marília.

_ Olha o abuso, Mauro. -Repudiei sua atitude, morrendo de ciúmes.

_ Não fica com ciúmes, Maraísa. Você também continua linda. -Piscou o olho e eu revirei os olhos.

_ Agora mete o pé. -Ordenei, empurrando-o para a porta.

Fechei a porta e me sentei ao lado de Marília, que ainda estava um pouco grogue. Fiz carinho em seus dedos, brincando com o anel que deixei no dia em que fui embora. Ela ainda era a minha Marília de oito anos atrás. Fiquei um bom tempo ali.

Meu relógio apitou, dando o aviso de término do meu intervalo. Me levantei com cuidado, e quando estava perto da porta, Marília acordou:

_ Ma-Maraísa -Me chamou com dificuldade.

Voltei correndo para seu lado, ficando de joelhos.

_ Eu tô aqui, amor. Está sentindo dor? -Perguntei num tom preocupado.

_ Não me deixa sozinha de novo... Por favor. -Ela suplicou.

Aquelas palavras cortaram o meu coração. Não que tivesse sido culpa minha, porque nenhuma de nós tivemos culpa. Respirei fundo, segurando as lágrimas e me sentei ao seu lado.

_ Eu não vou, amor. -Respondi-a.-
_ Estou com você.

_ Obrigada. -Fechou os olhos e fez carinho no meu dedo.

Quando um paciente sofre um trauma, a gente comemora os pequenos detalhes que normalmente, não fariam diferença. Seja o abrir dos olhos ou um sorriso, tudo conta como uma melhora.
Mas era diferente com Marília. Eu comemorava cada detalhe, não como médica, mas como um ser humano apaixonado. Observava suas linhas de expressão com atenção. Seus pequenos gestos emocionavam o meu coração. E eu torcia, com toda a minha alma, que não tivesse mais nada para nos atrapalhar.
Estávamos juntas há vinte e quatro horas e nesses minutos, eu estava feliz. Feliz de um jeito que nunca foi durante esses oito anos. Meu peito já não doía, a saudade não me corroía. Era amor. Simplesmente amor.

Meu sinalizador tocou e eu precisei me retirar. Me despedi de Marília e a deixei descansar, saindo do quarto.

_ Pai, os exames chegaram? -Perguntei à respeito da ressonância de Marília.

_ Dá uma olhada. -Ele me mostrou o raio x.

_ Como ela se acidentou desse jeito e não tem uma sequela se quer? -Perguntei incrédula.-
_ Milagres acontecem.

_ Não tem explicações plausíveis para tal. -Ele sorriu.-
_ Vamos deixá-la de observação por mais alguns dias.

_ Obrigada, pai. -Sorri.-
_ Preciso ir.

Caminhei em direção à saída, mas escutei meu pai pronunciar meu nome.

_ Maraísa! -Me chamou.

_ Sim? -Perguntei de costas.

_ O que vai acontecer depois? -Perguntou-me.

_ Eu não vou deixá-la nunca mais. Já fui covarde uma vez, não vou ser de novo. -Respirei fundo.-
_ Vou entender se não quiser me ver mais.

Saí da sala sem deixá-lo responder. Não importava o que a, b ou c dissesse. Aquela mulher não ia sair do meu lado nunca mais!

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora