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— O que está acontecendo aqui? -Perguntei à Marília, confusa.

— Oh, doutora! A senhora está cuidando do caso da Marília? -A mulher pôs se de pé.-
— Meu nome é Lauana Prado, quase noiva da paciente. -Me estendeu a mão.

— O que? -Eu estava furiosa.-
— Lau?

— Desculpe-me, não entendi. -Respondeu-me.

Ela olhou-me de cima à baixo, até notar o meu nome bordado no jaleco que vestia. E de repente, Lauana ficou vermelha. Nem ela sabia o que dizer.

— Então é isso? É assim que você honra a nossa amizade, Lauana? -Eu estava nervosa, tremendo da cabeça aos pés.

— Amiga, calma... Eu posso explicar! -Ela gaguejava.

— Caralho, qual é a sua? Cadê a sua consideração? -Eu estava gritando com ela.-
— Eu passei oito anos falando com você Lauana, e se quer teve consideração de falar sobre essa merda que vocês arrumaram? -Eu estava chorando.

— Eu sempre fui apaixonada por Marília, Carla. Desde que a vi com Luiza! -Ela derramou algumas lágrimas.

Eu tremia da cabeça aos pés. Passei oito anos sofrendo por esse amor, achando que Lauana estava do meu lado. Achando que Marília estava do meu lado. Eu sentia que meu coração ia parar à qualquer momento.
Todas as noites eu me perguntava se Marília sentia a minha falta e eu constatei que não. Ela tinha outra pessoa no meu lugar, o que significava que eu não passei de um capítulo na vida dela, algo que ela virou a página assim que pode.

— Eu não tô acreditando. -Sentei no chão, chorando desesperadamente.-
— Vocês sabem o quanto eu sofri? O quanto eu quis morrer por nunca conseguir ir até você? -Olhei para Marília-
— Você foi tudo para mim, Mendonça. Durante anos. E eu esperei por você, mandei cartas, esperando que você fosse me responder ou me buscar. Mas acho que você estava ocupada demais com o seu novo amor, né? -Olhei para Lauana-
— Uma pena, Marília. Porque eu te amo. E enquanto eu fui apenas uma página na sua vida, você foi o livro inteiro. -Me levantei, limpando minhas lágrimas e saindo, batendo a porta com força.

Corri até o lado de fora do hospital, sentando num banco próximo. Encolhi meus joelhos e comecei à chorar. Todo o meu sofrimento, mágoa, raiva e amor estavam misturados numa bebida altamente perigosa. E por um fio, pensei em fazer alguma besteira.
Foi então que começou à ventar muito forte. Olhei para o céu, e eu sabia que aquilo era o reflexo do meu interior. A  chuva caía de maneira forte e os coqueiros balançavam muito. Escutei passos de saltos finos se aproximando, mas me mantive estática.

— Eu só queria dizer que eu amo a Marília, Maraísa! E ela é minha, como sempre deveria ser, se você não tivesse atrapalhado. -Lau esbravejou ao meu lado.

— Vai embora, Lauana. -Eu só sabia chorar.

— Ela é minha, Maraísa e ninguém vai tirá-la de mim! -Ela riu.

Levantei-me furiosamente, acertando um tapa forte em sua cara, marcando meus cinco dedos em sua bochecha.

— Calada! -Gritei.-
— Vá para o inferno. -Corri em direção ao estacionamento.

Entrei no carro e procurei o meu celular incansavelmente, ligando para o André.

— André?

— Por que tá me ligando, doida?

— Por favor, vem para o meu carro.

— Entendi, tô indo.

Voltei à chorar, a primeira crise bateu. E eu queria pegar o carro e dirigir até bater em alguma coisa que não me deixasse viva. Parecia drama, mas não era. Eu vivi oito anos da minha vida mergulhada num amor em que só eu amei. Sofrendo sozinha. Mas óbvio, nunca poderia exigir nada dela. Mas eu não esperava isso, não dela.

Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora