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- Quando vai me contar o que sua mãe fez? -Ela me olhou séria.

Eu estacionei os pensamentos, não sabia o que dizer. Estava no meio do fogo cruzado. Não queria prejudicar a minha mãe e não queria deixar Lauana chateada.

- Se você não quiser contar, tudo bem. Eu respeito o seu espaço, Maraísa. Mas saiba que você tem toda a minha atenção quando quiser conversar sobre qualquer coisa. -Ela sorriu.

- Obrigada. -Devolvi o sorrisos.

Sentei ao lado de Lauana e ajudei com as tarefas de casa. Ficamos estudando gestão operacional por bastante tempo.

- É só isso mesmo? -Ela coçou os olhos.

- Sim. Tá com sono, é? -Sorri.

- Claro. Estou esperando o pai e ele não chega. Amanhã a gente levantar super cedo. -Ela bufou.

- Até que enfim, né, mocinha? -Baguncei seu cabelo.

O pai da Lauana bateu na porta e ela abriu rapidinho. Simplesmente abriu, cumprimentou o pai e fechou a porta.
Sentamos na cama e comemos o japa. Estava divino!

- Como seu pai conseguiu trazer isso? É tipo ifood marítimo? -Rimos.

- Não sei, mas se for... Glória Deus, aleluia. -Ergueu as mãos.

- Idiota. -Ri.

Levantei da cama e fui até o banheiro escovar os dentes. Passei o meu uniforme e o da Lauana enquanto ela estava no banho. Pendurei os dois no cabide e liguei a televisão.

- Você sabe que tecnicamente a gente está privilegiada, né? O resto dos dormitórios não tem banheiro, nem televisão, nem senha de wi-fi. -Ela disse enquanto vestia o pijama.

- Não, mas foi bom saber. -Sorri e desliguei a televisão.

Deitei na minha cama e me aconcheguei. Me virei de um lado para o outro tentando dormir. Olhei a hora no relógio, eram 23h. Amanhã eu preciso estar de pé as seis. E a imagem da senhora Dias atormentava os meus pensamentos. Eu já tinha tomado banho, mas ainda sentia o cheiro do perfume com um toque amadeirado que essa mulher carregava na farda.
Por que você não sai da minha cabeça? -Me perguntei.

- Maraísa, acorda. São seis e dez. -Lauana fazia carinho no meu cabelo.

- Não dormi nada essa noite. -Fiz manha, ainda com os olhos fechados.

- A gente vai se atrasar, Mara. Não quero arrumar confusão, ainda mais com sua mãe na minha cola. -Ela se levantou.

- Ah, Lau. -Fiz beicinho e esfreguei os olhos.

- Vem, anda. -Ela me ajudou a levantar.

Saí da cama e tomei meu digníssimo banho. Vesti um conjuntinho de calcinha e sutiã e coloquei a minha farda. Olhei para o quarto, Lauana estava sentada, mexendo em seu celular. Prendi o cabelo e coloquei a boina.

- Vamos? -Perguntei enquanto passava liptint.

- Sim. -Ela sorriu e pegou suas coisas.

Descemos para o refeitório e tomamos nosso café da manhã. Peguei mais uma xícara de café antes de ir para fila e fazer a formação. Naquela altura, eu já tinha tomado três xícaras.
Como de costume, cantamos e hino e nos direcionamos para a sala. E advinha quem nos acompanhou? A bendita da senhora Dias. Essa mulher tem um santo fortíssimo. Não é possível!

Ela abriu a porta da sala e os alunos foram entrando. Pensei duas vezes antes de passar por ela, porque estar perto dela trazia uma desconforto enorme. Eu sentia meu coração acelerar, minhas mãos tremerem suarem frio. Além de claro, ficar vermelha feito um camarão.

- Bom dia, senhorita Pereira. -Ela me olhava nos olhos, deixando, mais uma vez, um ar de mistério e uma enorme incógnita na minha cabeça.

- Bom dia, senhorita Dias. -Tentei me manter calma e falhei miseravelmente.

Entrei na sala e me sentei com Lauana na primeira fileira. Óbvio que me senti desconfortável porque sempre que ela olhava para mim, todo o meu foco ia embora. Lauana olhava para mim e tentava entender o que estava acontecendo, mas na verdade nem eu tinha conhecimento.

- Bom dia à todos! Meu nome é Marília Mendonça, sou professora de administração. Primeiro lugar no Enem e primeiro lugar no concurso de professora da marinha. Pós graduada em economia e administradora nas horas vagas. Nesse semestre, iremos começar à estudar sobre gestão operacional. -Ela se virou e começou à escrever no quadro.

- Ela é linda. -Lau sussurrou baixinho

- Algum problema, senhorita Prado? -Seu tom era ríspido.

- Ela me pediu a caneta emprestada. -Tentei limpar a barra.

- Não me refiro à você. -Ela foi grossa.

Todos da sala olharam para mim. Eu só queria enfiar minha cabeça num buraco e viver que nem um avestruz. Peguei minha vergonha e me recompus. Provavelmente agora ela me odeia.
Ela se virou novamente e continuou a escrever. Meus olhos acompanhavam a silhueta de seu corpo, e eu não conseguia controlar isso. Era como um ímã que sempre me puxava para ela quando eu tentava, nem que por um segundo, me distrair de sua presença.

Por que as coisas parecem tão confusas em relação à ela? -Conversei comigo mesma.

- Anotem o trabalho para a próxima aula e eu quero que façam em dupla. Não aceitarei plágio nem Wikipedia. Estudem sobre o assunto e me entreguem. Copiou e colou, é zero na hora. -Ela sorriu.

Marilia estava mais linda do que nunca naquela farda. Seus lábios estavam preenchidos com um batom mude e seus óculos preto. Volta e meia eu sentia a necessidade de olhá-la e ao olhar, percebia que ela me encarava da maneira mais séria, sexy e intrigante do mundo. Meu corpo inteiro me denunciava, nem meus olhos conseguiam disfarçar.

O sinal bateu e todos saíram da sala. Quando estava prestes à sair, Marilia me chamou:

- O que houve contigo, Pereira? -Ela perguntava num tom de preocupação.

- Nada. -Sorri.

- Quem fez isso com você? -Insistiu, chegando mais perto de mim.
Me fazendo sentir sua respiração cada vez mais próxima. Fazendo-me esquivar de seus olhos, mais uma vez.

- Eu cai no pontal, foi só isso. Se me der licença, eu preciso ir. -Me virei de costas e fui para o refeitório.

Encontrei Lauana no refeitório e nós almoçamos. Escovei meus dentes e fomos caminhar.

- Essa escola é enorme. -Ela estava deslumbrada.

- Sim. -Me sentei no banco.

- Então, você vai me contar o que aconteceu ontem? -Ela sentou ao meu lado.

- Minha mãe, Lauana. A Almirante de esquadra. -Apertei as mãos-
- Mas, por favor... Não me pergunte mais nada. Não agora. -Abaixei a cabeça.

- Eu sinto muito, Mara. Não vou deixar isso acontecer de novo. -Ela sorriu e me abraçou.


Indomável coração || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora