Segundo Arco - O Sangue Adormecido

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~ Point Of View Narrador ~


Aqueles primeiros três dias se passaram como borrões, Luana e Ingrid arrumavam as suas malas e caixas para a mudança, com a ajuda de todos os seus amigos, ate mesmo aqueles que não tinham ideia do porque da ruiva e da Latina estarem se mudando para Miami, todos estavam ali ajudando, tentando animar as garotas, afinal o clima triste e pesado continuou presente por quase dois dias seguidos. Durante as noites, em vez de dormirem, todos se juntavam na sala da estar, pediam pizza e outros lanches diversos para fazer um tipo de festa do pijama. Assistiam filmes de comedia romântica, de ação, de aventura, de fantasia, lembravam de como haviam se conhecido, feito amizade ou de lembranças divertidas. Todos tentavam de todas as formas possíveis animarem tanto Luana quanto Ingrid, e seus esforços não foram em vão. Parte daquela amargura e morbidade que percorria a casa se foi.

Assim como parte dos moveis e objetos que eram das garotas.

Por outro lado, Fernanda havia sido liberada naquela mesma terça, no dia 31 de março. Sua conversa com o Carlos não foi rápida. Olivia ate pensou em intervir naquilo tudo, mas ela não tinha o direito, então apenas deixou ambos sozinhos no quarto do hospital. Com uma Fernanda nervosa, chorosa e completamente abatida em cima da cama, encarando os próprios dedos, sem coragem de encarar o pai das suas amigas. 

O que ela não tinha ideia naquele momento, era que aquele homem também era o seu pai.

- eu vim ver a Bruna. Falar com os médicos, saber sobre seu caso e como vai ser o tratamento dela. o que me deixa mais aliviado é que não teve sequelas em seu cérebro.. ou que ela não.. não vai ter um trauma relacionado a abuso.. talvez.. eles não sabem direito. – sua falta de coragem para falar a palavra era perceptível. No fundo o que ele mais temia era que algum daqueles jovens ou homens tivessem abusado de sua pequena, afinal o trauma que se sucederia disso seria algo extremamente destrutivo e irreversível. Saber que não foi encontrado nada que provasse que ela tenha sido invadida dessa forma era quase que um alivio.

Mas ainda assim, seu coração ainda doía, Carlos não se sentia só culpado ou arrependido, se sentia fraco, frágil, quebrável, saber que haviam sequestrado a sua filhinha era algo enlouquecedor.

Ele queria chorar, não que havia deixado de o fazer. Obviamente ele havia chorado como uma criança durante a sua volta de Miami para Denver, no avião. Mas agora, olhando para Fernanda, vendo o seu rosto todo vermelho, os seus olhos cheios de lagrimas e sua expressão tomada pela dor, pela culpa, pela tristeza e arrependimento.

Aquela vontade avassaladora de chorar havia voltado.

- eu sinto muito.. – a voz falha e ofegante da garota a sua frente o fez respirar fundo, o fez fechar os olhos e esfregar seu próprio rosto.

- não sinta.. eu não vim aqui para dificultar as coisas ou.. ou culpar você. não, querida eu.. eu preciso que.. preciso que me escute com atenção, certo ? – a garota fungou, esfregando os olhos e rosto com suas mãos tremulas, seguindo os passos do homem e se encolhendo quando o mesmo sentou ao seu lado e segurou em suas mãos.

- eu vou ouvir. – concordou baixinho, com seus olhos se movendo nervosos e ansiosos pela expressão do mais velho. Ela nunca tinha visto aquele homem daquele jeito. Eram tantas emoções que ele expressava no seu olhar, que Fernanda não conseguia quebrar o contato visual. Por incrível que pareça para ela, aquele simples contato a fizera se acalmar, nem que fosse um pouco.

- conheci a sua mãe em uma época difícil.. minha esposa havia acabado de ter uma filha, meus tios, avos, parentes mais velhos da família, começaram a difamar a minha esposa, a minha filha, ao meu pai e minha mãe. Eles queriam que eu fosse exilado por não ter terminado os estudos, por escolher abandonar os estudos, por ter me casado com alguém que não tinha o sangue Ferrari. Por ter me envolvido com drogas e comercio ilegal. Eu acabei me afastando da minha esposa, estava com raiva, com ódio da minha família. com ódio de mim mesmo. então eu fiz a maior idiotice da minha vida, eu fui para outra cidade com colegas da gangue que pertencia, fiz trabalhos demorados, me enchi de álcool e trai a minha esposa com uma mulher. Com a sua mãe. Eu não me lembro de como aconteceu, não me lembro de onde exatamente a conheci, mas quando acordei já estávamos de volta a Denver, com a mercadoria do mês. Foi naquela época que eu assumi a gangue, me tornei o líder, o chefe. Poucos meses depois a sua mãe apareceu, grávida. Eu não acreditei, não conseguia. Afinal nunca havia traído a Luna. Ainda não tinha. – Carlos deixou de falar, assim como Fernanda que havia afastado as suas mãos das mãos do mais velho. O olhar da garota estava tremulo e choroso, ela agora encarava o lençol branco de sua cama. Com seus ombros trêmulos. – por anos eu me mantive afastado, e quando percebi que sua mãe não cuidava nem de você ou da sua irmã mais velha, eu parei de mandar dinheiro. E mantive uma conta aberta para que só você ou a sua irmã tivessem acesso quando mais velhas. Você.. eu estive de olho em você por todo esse tempo.. Você já deve saber sobre tudo que envolve a nossa família, eu sei que sabe, não espero que entenda meu motivo de nunca ter aparecido, ou me envolvido. Mas não foi por egoísmo. Não foi por capricho ou para manter uma imagem, eu não me importo com a minha imagem, me mantive longe por medo de que algo te acontecesse. Afinal você e sua irmã moraram sozinhas desde pequenas. Se algum inimigo descobrisse sobre, iriam atrás de ambas.

Nosso Maldito Fluxo - Romance Sáfico -Onde histórias criam vida. Descubra agora