Primeiro Arco - Aniversário parte 1

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Como aquela era a primeira vez que não teria de trabalhar durante a noite em dois anos, eu não consegui sair do açougue e ir dormir como pensei que o faria, meus olhos ainda seguiram o chefe ate ele finalmente sair da minha rua e entrar na rua principal. Ele estava de carro obvio.

Minha respiração foi lenta, levei uns cinco minutos para finalmente consegui colocar a cabeça no lugar. De repente eu havia deixado de trabalhar no açougue para apenas receber o aluguel dele.

E o aluguel era literalmente o dobro do que eu recebia trabalhando para o chefe.

Meus lábios tremularam, meus olhos ainda encaravam a calçada enquanto a minha mente trabalhava a mil por segundo.

A partir de agora eu poderia descansar mais, eu teria mais grana e mais tempo pra estudar ou ate mesmo pegar hora extra no bar. A minha vida havia mudado completamente. Em menos de quinze minutos.

Respirei fundo, apertando as chaves em minhas mãos, tanto do galpão ao lado do açougue quanto a da moto e do próprio açougue.

Minhas pernas se moveram sozinhas, quando percebi que estava agindo no automático acabei sorrindo. Eu havia fechado o açougue e aberto a porta do galpão, era enorme, cabia umas seis ou sete kit nets dentro do lugar. E estava todo cheio de tralha, maquinas, equipamentos, uma moto e a carcaça de um carro velho que deveria ter sido algo que os garotos da gangue usaram.

Tudo estava empoeirado e as coisas importantes estavam cobertas por lençóis brancos.

Um sorriso fraco foi crescendo meus lábios, a idéia de limpar isso aqui, tirar as porcarias e fazer algo importante estava me subindo a mente, meu corpo estava cheio de adrenalina e impulsividade, então durante as próximas duas horas, eu apenas limpei aquele galpão enorme, limpei tanto o chão que parecia brilhar, meus equipamentos de Box e academia estavam quase que lustrados, e do outro lado, onde se encontrava a Harley Davidson que agora era minha, estava todas as maquinas e equipamentos de montagem e desmontagem de carros e motos. Sim, antigamente esse lugar era uma oficina clandestina, mas o mecânico acabou sendo morto, esquartejado, ele era um dos meus melhores amigos, foi depois disso, só por causa disso, que eu sai da gangue. O medo de perder mais amigos considerados quase como irmãos, era absoluto. Ele não merecia ter sido pego, era apenas uma missão de reconhecimento, ele foi por pura coincidência do destino, ele apenas deveria concertar os carros de nossos companheiros, quebrados no meio da estrada, entre a cidade vizinha e a nossa.

Mas ele nunca voltou, ele foi achado no meio do matagal. Ninguém me deixou ver o seu corpo, mas mesmo com os meus amigos me puxando para longe, eu consegui ver a sua cabeça decepada com um pedaço de madeira enfiada onde deveria ser seu pescoço.

Eu nunca mais consegui nem ver nada que estaria perfurado por um palito ou pedaço de madeira. Minha mente me fazia pensar naquela cena horrenda toda vez que eu via algo parecido. Era simplesmente a pior coisa que já tinha visto em toda a minha vida.

Mas hoje, hoje foi diferente de todos os outros dias em que evitei esse lugar, hoje eu limpei tudo, ate mesmo olhei para os objetos que pertenciam a ele. Meu sorriso triste foi ate doloroso. Admito que conversei sozinha por cerca de trinta minutos enquanto limpava o seu canto. E me senti orgulhosa por não ter tido uma crise no meio da limpeza.

No final, um peso havia saído do meu coração por ter arrumado aquela bagunça.

Quando senti que meu corpo estava sujo e suado, finalmente resolvi subi para casa, lembrando tanto do que o chefe disse sobre Luana ter dado a ideia a ele, quanto do aniversario das meninas. Um sorriso aliviado me fez rir baixo e tirar as minhas roupas sujas.

Nosso Maldito Fluxo - Romance Sáfico -Onde histórias criam vida. Descubra agora