*REESCRITA.
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Minha rotina agora inclui caminhar de quatro e comer no chão como um bicho. O que eu mais temia. Desde que cheguei aqui e vi os outros escravos, duas coisas me aterrorizaram: ser tratada como objeto e bicho. Eu era um bicho agora. Mas a calma não desaparecia mais. Nem minha indiferença. Curiosamente, me tornei fluente no idioma deles desde que essa calma tomou conta de mim, nunca mais tive pesadelos, e não sei se me importo tanto com os outros escravos mais.
Aquela forma de alimentação se revelou difícil, muito difícil. Eu dei o meu melhor, mas comecei a perder peso. Já faz quase quinze dias que essas mudanças foram introduzidas. No início eu podia beber normalmente, no copo. Mas depois de uns dias, minhas bebidas passaram a ser servidas no chão, em um pote, como minha comida.
"Treinamento." Foi a única explicação que recebi do Lance, que agora me tratava friamente, não conversava mais comigo a noite, nem me aconchegava. Nem Lucien me visitava à tarde. Até mesmo Zaya me deixava sozinha na biblioteca para estudar agora que eu dominava o idioma. Passo todas as tardes dormindo, sonolenta demais. Minha energia está cada vez mais baixa. É comum que à noite, enquanto Lance e Lucien se divertem, eu durma, cansada. Há uma semana parei de comer completamente e há dois dias desisti de beber.
A fome foi terrível por dois dias, depois desapareceu completamente. A sede está sendo terrível, mas a dor é superior a qualquer fome ou sede. Meus lábios estão secos e minha garganta está travada, dura. Qualquer ruído que saia da minha garganta provoca ondas de dor pelo corpo, sinto azia permanentemente. Uma dor intensa e permanente habita minha garganta e meu peito, se espalhando como uma raiz maldita drenando a energia do meu corpo e do meu cérebro. Até pensar está se tornando difícil. Minha alegria é imaginar que talvez eu seja abençoada com a morte. E talvez por isso minhas noites sejam tão tranquilas e eu esteja tão calma. Deve ser a tranquilidade dos que vão morrer.
Sozinha e isolada, sem ter quem converse comigo há quase dez dias, não vejo sentido em nada. Apenas durmo sempre que posso. Zaya me encontrou dormindo algumas vezes na Biblioteca e me puniu espancando minha bunda, o que Lance elogiou ao ver as marcas que ela deixou. Doeu, mas não me importei, quase agradeci pela distração. Acho que estou alucinando, pois comecei a ver pontos de luz, quando estou sozinha. É hipnotizante.
Na hora do jantar sempre fico encarando o prato e agradeço às correntes por me manterem na posição, pois aprendi a relaxar completamente. Nos dois últimos dias dormi enquanto eles comiam. Hoje a comida está repugnando meu estômago. Seu cheiro forte me incomoda. Por isso estou respirando pela boca, ignorando a dor lancinante que isso provoca. Acho que estou acostumada à dor... Morrer sentindo dor... Sorrio pensando nisso, e vejo a tigela finalmente ser retirada da minha frente e dou um profundo suspiro.
"Ela não comeu nada novamente, Senhor." Ouço a mulher que recolheu minha tigela dizer e fico surpresa.
"Lyta, chega! Você precisa comer. É uma ordem." E a tigela foi posta na minha frente. Seu cheiro horrível invade meu nariz.Pela primeira vez sinto algo. Irritação. Uma ordem! Eu precisava comer comida fedorenta. Pois sua magnanimidade queria que eu comesse aquela porcaria estragada, pensei irritada. Coloquei uma porção na boca e tentei engolir, engasguei e vomitei o que tentei comer. A dor lancinante me fazendo verter lágrimas grossas contra minha vontade. Tentei de novo, sem sucesso. Então tentei uma porção minúscula, e o resultado foi o mesmo. Cada vez que eu tentava comer, a dor atravessava meu corpo de forma aguda.
As correntes liberaram meu corpo e cai no chão, exausta. Senti o Lance me pegar e sentar na mesa. E a tigela foi posta na minha frente.
"Coma, agora. Ou vou te punir." Vi que havia pessoas na mesa, mas não notei quem eram. Olhei a comida e meu rosto se contorceu de nojo. Ela fedia. Não toquei os talheres. Escravas não usam talheres, blá blá blá. Era só isso que eu era agora, ali. Lembrei da minha vida, como eu era feliz. E a merda que eu tinha ali, agora. Tentei comer, obedecer aquele monte de bosta ambulante, e acabei me contorcendo de dor enquanto vomitava. Filetes de sangue se misturando ao vômito.
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A Escrava dos Dragões
FantasyEla vem da Terra. Eles do Reino dos Dragões. Ela nunca viu a guerra. Eles são conquistadores. Ela é de uma raça perdida. Eles de uma raça dominadora. Eles a escravizaram. Ela foi torturada. Eles se apaixonaram. Ela deseja vingança. ***A ATUALIZAÇÃO...