RETORNO À BIBLIOTECA FEÉRICA

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PDV YMhin

Carrego a alma da fada dragão até meu palácio, onde a deixo sob proteção de Sur, meu braço direito, e descubro, no meio do caminho, que não conheço os locais da Terra, origem da fada.

- Prepare alguns tomos de informações do mundo que Gaia habita, inclua os idiomas falados pela fada. - Solicito a Ehren meu principal apoio.

Ehren é um Deus que salvei há incontáveis tempos e, desde então, ele fica ao meu lado. Ele é um dos muitos deuses do conhecimento, que raramente fenecem visto que depois do nascimento, morte e reprodução, o conhecimento é sempre ansiado pelos mortais. Ehren nasceu de uma galáxia hoje morta, onde até mesmo os deuses feneceram. Uma das Cinco nasceu ali e, como todo lugar em que ela nasce, todos morreram. Ninguém é mais louco que a Senhora do Território da Mente, um lugar onde nem mesmo os deuses da morte ousam adentrar. Nenhuma regra dura mais que segundos e nenhum limite é conhecido. Somente ela e seus protegidos são capazes de existir em tal ambiente inóspito. E as almas que recebo de lá, levam tempo demais para serem capazes de assumir uma nova roupagem de vida.

Alguns segundos caminhando automaticamente e a aparência de Eren começa a mudar. Um corpo humanoide se forma coberto por uma roupa estranha composta de calça e manto pretos, sobre algo branco e um pedaço de pano amarrado no pescoço lhe cobrem. Um traje nos pés que parece desconfortável. Encaro meu subordinado curioso.

- Esse é um traje da Terra, habitat de Gaia, e muito popular nos dias de hoje.

- Destaque o que as fêmeas da... Terra, consideram bonito e sexy.

- Qualquer fêmea? - O idiota pergunta com ousadia. Ignoro o sorriso torto e a risadinha por vir, e sigo meu caminho.

É preciso descer alguns níveis do meu território. Eu poderia ir de uma vez, mas há muito tempo desenvolvi apreço em caminhar por Yrium, com suas múltiplas paisagens. Gosto de apreciar o que é meu e ver os que trabalham comigo. Ehren desaparece quando passamos pelos Campos dos Sonhos, onde os mortos podem realizar seus sonhos mais ansiados, extinguindo o que os prende à vida. Esse campo garante que a maioria não se transforme em assombrações e maldições, e que não demorem a voltar para a vida. Também é esse o alimento predileto de Ehren. O guloso retorna lambendo a boca estranha que ele assumiu, um bafo de conhecimento em seu hálito quando ele começou a discorrer sobre a Terra. Revirei os olhos, pensando que prefiro a velocidade dos tomos, mas Ehren é um tagarela que gosta de regurgitar sonhos concretizados para devorá-los novamente.

- E aqui, é o que o velho Hades chamaria de Tártaro. - Ehren pulou na minha frente estendendo os braços na direção do território mais profundo de Yrium. - Se bem que lá ele apenas tortura os piores criminosos mortais... Precisamos de um nome diferente.

- Tártaro serve.

- Fato. Quando sua futura Senhora aceitar o submundo, ela falará o idioma dos mortos, e todos nós seremos felizes eternamente.

Cantando e rodopiando como uma besta bêbada, Ehren seguiu à minha frente. Pouco antes de entrarmos no Templo de Kryaco, ele retirou o rosto humanóide e retornou à sua forma normal, muito mais bonita e eficiente. Assim que entrei, encarei meus nove filhos, nove deuses de morte cujas mães amaram mais aos filhos que a mim. Nove pragas que tive nojo de comer, filhotes de traidoras.

- Senhor do Submundo, Nobre Genitor dos Mortos, Benção dos Guerreiros...

- Basta. - Cortei a ladainha do Um, o mais velho.

Encarei cada um dos meus filhos, que me encaravam de volta, curiosos. A fraqueza deles era ridícula. Mortais empenhados seriam capazes de matar essas desgraças ambulantes. Esse é uma das desvantagens dos mortais, nenhum deles nunca foi capaz de me dar herdeiros fortes, me obrigando a abrigar essas pragas que apenas servem para atrapalhar minhas tarefas com seus desejos incontidos. Me sentei enquanto me lembrava de cada vez que fui chamado com urgência, pois um deles estava estuprando fêmeas, ou dilacerando corpos, ou torcendo memórias. Todos tinham uma ausência de empatia e cuidado, uma falta de amor e bondade, que desconheço a origem. Talvez seja uma maldição minha.

A Escrava dos DragõesOnde histórias criam vida. Descubra agora