Aromas do Mundo

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*REVISADO.

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Fiquei sentada ali, no corredor esperando Lance, olhando o quadro na parede sem realmente ver. Eu podia sentir as garras do Imperador me envolvendo, e não tinha ideia do quão apertadas elas já estavam. Me senti hiper consciente de meu coração trincado e toquei meu peito. Eu quase podia sentir. A sensação de morte havia reduzido quando me afastei do Imperador e não sabia o que fazer. Todos sabiam? Eu era um joguete na mão deles? O que eles pretendiam? Por que eu me senti tão ameaçada?

Eu era tão pequena quando comparada a esses seres milenares. Tão pequenina. Eles eram o lobo mau e eu a porquinha na casa de palha. Um sopro e minha casa de desfaria como se nunca tivesse existido. A Terra podia ser destruída a qualquer instante. Minha família inteira. Pior, a humanidade inteira, tudo vivo podia ser destruído caso Aszalia perdesse o interesse no meu lar. Nós éramos fantoches nas mãos deles. E eu... Em flashes rápidos, me lembrei de tudo que vivi ali, tudo que a coleira embotava. Eu não tinha aliados e era uma formiga tentando escapar de ser pisoteada por elefantes. Nada do que eu sentia pelos dois dragões era real. Eu achava que os amava, mas era só...

- Lyta? - A voz grave de Lance me tirou do transe, sua mão em meu joelho, seu rosto preocupado.

A mão dele em meu joelho bastava para me molhar, provocando contrações entre minhas pernas. Sua voz me aquecia. E eu senti o desejo de agradá-lo. Maldita coleira!

- Você chegou. Que bom! - Sorri para ele e o abracei, tentando ser carinhosa. Sem notar as joias assumirem um tom violeta.

- Tudo bem?

- Claro! Vamos? - Respondi me levantando, com pressa.

Ele me abraçou pela cintura e meu corpo derreteu. Não era real? Nada??? Os quebrados em meu peito aumentaram e eu o abracei, me agarrando a ele com desespero, tentando unir a força meus pedaços trincados. Cheirei seu corpo e me concentrei no cheiro bom que ele exalava. Menta. Pinheiros. Frescor. Gelo. Nunca havia reparado antes, finquei as unhas na cintura dele e o abracei firme. Ele gemeu e me abraçou de volta.

- Você tem cheiro de pinheiros. E de menta. E neve. É tão bom. - Esfreguei meu rosto, fungando o cheiro dele e secando uma lágrima que escorreu teimosa.

- Você cheira a flor. - Ele respondeu me apertando muito.

- Que flor?

- A mais perfumada que já senti na vida, e ainda assim nunca vi essa flor. Mas eu sei que seu cheiro é de flor.

- Como você pode saber que eu cheiro uma flor se você nunca viu essa flor?

- Por que eu sei como as flores cheiram, e você tem cheiro de flor.

Fazia sentido. Me concentrei em cheirar ele, gravando as informações no meu cérebro. Havia também madeira, um cheiro de madeira de pinheiro, não apenas as folhas. Chegamos na ala e Lance me pegou no colo sem parar de andar. Meu vestido azul enroscado na mão dele. Aproveitei para cheirar o pescoço dele. Salgado... ele estava suando. E... que cheiro era aquele? Esfreguei meu rosto em sua barba. O aroma na barba dele era diferente. O cheiro dele era mais forte, mas havia mais, havia uma mistura intensa de cheiros ali, muitas plantas que eu não sabia o nome. Pelo menos nove folhas, cinco troncos, três raízes, três flores e seis frutas. É, era isso.

- O que está acontecendo, Lyta? - Lance perguntou tenso, abri os olhos inebriada nos cheiros dele e sem parar de fungar sua barba e vi que havíamos chegado ao quarto.

- Eu nunca notei seus cheiros antes, Lance. São intensos. Na barba é mais forte, e seu suor tem cheiro de sal, e gordura, e... Você comeu carne assada? Carne de... como é o nome mesmo? Sarfoni!

A Escrava dos DragõesOnde histórias criam vida. Descubra agora