Explicando algumas coisas

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*EDITADO.

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Após a consulta voltei para meu quarto, sentei no chão da varanda com um livro que Zaya me deu: Etiqueta para Escravas, Vol. I. Tive vontade de botar fogo naquele livro. Rasgar suas páginas, enfiar no rabo da Zaya, tirar e socar no do Lance e depois no do Lucien. Mas de que adiantava? Deixei o livro de lado. Ela não tinha me dado um prazo para lê-lo, então, eu demoraria muito para fazê-lo. Fechei os olhos, e sonhei em como tudo podia ser diferente. Sonhei com minha vida normal, uma balada, amigos para conversar, filmes para assistir, livros divertidos para ler, família para abraçar. Um namorado para me beijar, abraçar, fazer amor comigo, me tratando bem. Eu sorri ao pensar em ser tratada bem assim.

Senti uma mão no meu ombro e meu sorriso foi embora. Abri os olhos e vi Lance sentado na cadeira ao meu lado. Ele me indicou a cadeira em frente à dele. Me levantei do chão e me sentei.

"Por que você está dormindo no chão, Lyta?"

"Você está me punindo."

"Muito bem. Por que eu estou te punindo?"

"Não sei." Ele respirou fundo, fechou os olhos, massageando a ponte do nariz e então voltou a me encarar.

"Zaya me diz que você é um gênio, mas eu acho você estúpida." Aquilo doeu profundamente. Eu sempre fui orgulhosa da minha inteligência, do meu conhecimento. "Eu quero conversar com você, francamente." Olhei para ele confusa. Sinceridade? Ele queria sinceridade? "Eu falhei com você. Algumas vezes. Você não é do nosso mundo e não está entendendo como as coisas funcionam aqui. Vamos lá. Eu não te puno por puro prazer e sadismo. Tem donos que fazem isso, eu não gosto. Eu puno quando tenho um motivo."

"Então eu não deveria saber o motivo quando sou punida?" Perguntei, abusada. Estou cansada. Cansada de tudo.

"Sim. E eu falhei. Me perdoe."

"Não." As palavras saíram rápidas e não me arrependo delas.

"Certo. É seu direito."

"Eu tenho algum direito?"

"Claro que tem? Você é uma escrava! Tem muitos direitos!" Olhei completamente confusa para ele. Eu estava cansada de me sentir confusa.

"Um: por que estou sendo punida? Dois: quais os meus direitos?"

"Lyta, Lyta. Você está sendo punida por não ter se cuidado. O autocuidado é parte essencial dos deveres de uma escrava. Você precisa sempre me dizer se algo te machucar. E nós temos o dever de te preservar e cuidar de você."

"Mas você me machuca. E muito."

"Verdade. E eu também preciso te pedir perdão pela sua primeira punição. Eu não sabia que iria te ferir. Ela é comum nesse mundo e os escravos reagem bem a ela. Você não reagiu. Perdão."

"Não." Eu era rancorosa. Sempre fui. Não iria perdoar fácil depois de meses de sofrimento. Ele me olhou e sorriu.

"Pelo menos você está sendo honesta."

"É sua ordem, não é?"

"Sim. Mas você não precisa me obedecer se algo for te machucar, física ou psicologicamente."

"Você não ouve quando falo." Ele me encarou. Eu tinha um ponto e ele sabia.

"Certo. Mas você não sabe tudo o que gosta. Eu faço coisas para as quais você diz não, mas gosta." Virei o rosto. Era verdade. Mas havia coisas das quais eu realmente não gostava. E que eu era obrigada a fazer. Olhei para ele, se estávamos sendo sinceros, eu resolvi ser honesta. Eu não tinha mais nada a perder. Já tinha perdido tudo nesse mundo. Minha dignidade, amigos, família, trabalho, emprego, corpo, liberdade. Tudo.

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