NOTA EXPLICATIVA / AVISO DE CONTEÚDO

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1) Os primeiros capítulos narram cenas de violência sexual e, posteriormente, a vítima se relacionando com seus abusadores. Se você tem gatilhos, evite esse livro.

2) Esse livro foi inspirado por narrativas de vitimas de violência sexual. Algumas falas de sobreviventes me chamaram atenção e me frustram por ver pessoas atacando fenômenos psicológico de sobrevivência, replicando senso comum e atacando a vítima, como se ela estivesse errada em fazer todo o necessário para sobreviver, inclusive distorcendo as experiências em si e as memórias. E os fenômenos podem acontecer em qualquer momento da violência, pois cada mente é única, com experiências prévias únicas.

- A culpa por ter sentido prazer em algum momento. Algumas vitimas narram que se sentem culpadas por, em algum momento da violência, sentir prazer. E os psicólogos que vi explicando essa experiência, explicam que o cérebro tem a capacidade de distorcer vivências traumáticas para conseguir sobreviver. Inclusive, o corpo pode reagir com prazer, mesmo que sua mente saiba que tal ação é errada.

- Apego emocional ao abusador, especialmente em caso de isolamento social. O isolamento social é uma forma de tortura psicológica. É comum em vítimas com Síndrome de Estocolmo que elas sejam isoladas socialmente e afastadas de qualquer rede de suporte para que possam desenvolver esse apego emocional ao abusador. A mente delas passa a ver com carinho e até amor o abusador, como estratégia inconsciente de sobrevivência. Em casos extremos, como na Síndrome de Estocolmo, a vítima pode passar a defender o abusador.

- Hipersexualização ou asexualização. Pesquisando sobre o tema, vi vários psiquiatras explicando que, um fenômeno comum em vitimas de violência sexual é a desregulação do equilíbrio sexual. Como estratégia de sobrevivência, elas podem se hipersexualizar ou assexuar, sendo esta uma estratégia de tentar retomar controle sobre o seu corpo.

- Escolher fazer sexo com o estuprador. Algumas vítimas escolhem fazer sexo posteriormente com seu estuprador. Novamente estamos falando de estratégia de sobrevivência retomando o controle do corpo. Ao fazer sexo com o estuprador, a mente entende que agora a vitima tem o controle de volta, que ele [o estuprador] obedece a um desejo dela.

- Perda de memória, memórias fracas (memórias quase sem conexões com outras), memórias distorcidas. Traumas podem causar uma série de modificações no cérebro, hormonais e até fisiológicas, e, embora existam rastros, cada pessoa vai reagir de uma forma diferente.

- Dessensibilização. Algumas vítimas, especialmente as com exposição prolongada, narram a dessensibilização à violência, o que pode causar falta de empatia consigo mesma ou outros. Outro aspecto desse fenômeno é a excitação com violência.

- Revivência. É extremamente comum que pessoas traumatizadas revivam seus traumas, podendo chegar a sintomas físicos. Externamente, raramente uma pessoa percebe a revivência. Mas a qualquer momento a vítima, mesmo depois de livre, pode reviver suas experiências. Pode acontecer em sonhos ou em vigilias.

3) Abusadores justificam para si mesmos (e acreditam nisso) a violência que causam. Justificam como cuidado, educação, amor.

4) Muitos abusadores passam por situações de violência que também os traumatizam. Sem tratamento ou ao menos autoconsciência, isso pode (NÃO É UM REGRA, MAS É UMA CONEXÃO JÁ IDENTIFICADA PELA CIÊNCI) fazer com que ele de continuidade no ciclo de violência. Por isso o tratamento psicológico de vitima e abusadores é tão essencial.

5) Esse livro foi escrito a partir do meu ponto de vista sobre abusadores. Seres que materializam seu desejo por poder por meio de violência, física e psicológica. O estuprador pode provocar prazer como simbologia de poder e/ou desculpa para si mesmo de que se a vítima está gostando, então tá tudo certo. Inclusive essa é uma fala comum desse tipo de criminoso: "Ela estava gostando". Estupradores acreditam que tem o direito de fazer o que fazem.

6) Meu foco aqui é a vitima, nos seus dramas, na confusão, na dor. Como a mente faz tudo para sobreviver ao trauma. Também queria mostrar que abusadores não são seres diferentes dos outros, eles vivem e são muito bem aceitos na sociedade, amados, queridos. São homens e mulheres de respeito. O abusador não é o cara estranho, feio, mal educado, mas o cara bonito, legal, gentil, carinhoso, que te desrepeita, te machuca, e depois acaricia, diz que te ama. O abusador, muito comumente é um pai, um irmão, um avô, um tio, um amigo íntimo, o namorado, marido. O pedófilo normalmente tem filhos. O estuprador é casado. O assassino é um bom filho. Mas não tive estômago para escrever uma história na Terra. Precisei da fantasia para materializar.

Sim, eu sei que nem todo homem é um abusador, mas dentre os abusadores, os homens, infelizmente, são uma maioria esmagadora. Culpe a história, mas aja no presente. E a "brodeiragem" torna muito homem que não é um criminoso em cumplice. Cumplice quando não critica o vídeo caseiro vazado que recebe no grupo dos amigos (que pode ser resultado de um crime), quando não vê com estranheza o amigo adulto elogiando as "menininhas", cumplice quando o cara mostra fotos da namorada que são de cunho íntimo, cumplice quando reforça pro cara continuar tentando com uma mulher que já disse não. Isso reforça e valida o comportamento predatório dos criminosos, pois mostra que ele é aceito e até protegido por seus amigos. Nós vivemos em uma sociedade que naturalizou a violência, especialmente a sexual. Precisamos parar com isso.

7) Esse romance é dark, não tóxico. Um romance dark mostra as cores mais tenebrosas do mundo, dos seres vivos, seja por meio de fantasia ou não. Podem ser abordados temas extremamente pesados, como pedofilia, estupro, tortura. Mas o romance dark não romantiza essas ações.  Ele fala sobre como se libertar, sobre consequências. O romance dark revela o peso do mundo e pode ajudar pessoas a escaparem de situações de violência por identificação. Após ler um romance dark, uma pessoa pode descobrir que o que está acontecendo é errado, que ela tem como escapar, que ser sobrevivente é ser forte. O romance dark mostra a sujeira da sociedade.

O romance dark também é terapêutico. Para o autor, que coloca ali medos, e talvez traumas pessoais ou de pessoas que ele conhece. Para o leitor, que vê o mundo sob outro ponto de vista, descobre formas de sobreviver, entende que está tudo bem você precisar de tempo para ter força para se libertar.

No livro Fome (do inglês Hunger), da escritora Roxane Gay, a autora relata a própria vida após um estupro coletivo, e como ela sobreviveu. Uma das revelações que ela faz, é como ela engordou como estratégia de sobrevivência. Uma forma de evitar atenção masculina sobre ela. Cada ser humano busca sua forma própria de sobreviver.

Há um romance dark sobre pedofilia aqui no WattPad (em inglês) que me fez chorar, mas ao mesmo tempo me encheu de esperança, pois é um romance dark com todas as letras: His Forgotten Mate. Eu amaria traduzir esse livro para o português.

O romance tóxico, por outro lado, naturaliza e romantiza a violência. Na pedofilia, ele torna normal homens e mulheres adultos se apaixonando por crianças e adolescentes. Muitos romances sobrenaturais fazem isso. O romance tóxico mostra a vitima se apaixonando por seu abusador, amando quem lhe bate, espanca, enlouquece. Quem tortura física e psicologicamente. O romance tóxico, se marca como BDSM para justificar crimes. No romance tóxico, os crimes e violências são validados. Não há consequências para eles.

8) Sim, vocês verão a vítima achar que está apaixonada por seus abusadores, que os ama, que os deseja. Vocês verão os abusadores acharem que está tudo bem, certo, desejar a felicidade da vítima inclusive. Por que há vitimas que passam por isso. Chamar de amor o que é sobrevivência, não é um fenômeno tão raro assim.

SE VOCÊ PASSA OU JÁ PASSOU POR VIOLÊNCIA.

NÃO SE CALE. 

NÃO SE ISOLE.

BUSQUE AJUDA.

BUSQUE SEGURANÇA.

DENUNCIE.

VOCÊ É VALIOSA(O). 

VOCÊ É IMPORTANTE.

O MUNDO SERÁ UM LUGAR PIOR SEM VOCÊ.

A Escrava dos DragõesOnde histórias criam vida. Descubra agora