27 dias antes

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Me perdoem a demora. Algumas emergências médicas ocuparam meu tempo integralmente. 

Nada grave, e já estou quase 100%.

Agora vamos que vamos.

Peguem algo para se hidratar e fiquem confortáveis.

Aviso: Sairão 5 capítulos curtos nessas duas semanas. Serão pelo menos dois por semana, tá?

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PDV Desconhecido

O primeiro grupamento de dragões alcançou o local onde Lyta caiu cerca de três minutos após a magia do Djin finalizar. Os dragões visualizaram a tempestade verdejante e doentia que assolou o céu, seus corações cheios de ira e rancor ganharam tons de preocupação e ansiedade. Os dragões têm enfrentado o que nunca viram ou ouviram falar nos últimos tempos, e para seres arrogantes e acostumados com a vitória e o domínio, eles consideram deveras desagradável essa sensação de impotência e desconhecimento.

Assim que alcançaram o local onde minutos antes magia brilhava e rasgava os céus e os oceanos, os dragões se depararam com um cheiro estranho, agradável e desagradável ao mesmo tempo, totalmente desconhecido, um oceano com cores e texturas erradas e o corpo do inimigo semi submerso na água que causava arrepios de incômodo nos guerreiros. A antiga escrava, a inimiga dos dragões, estava com apenas parte das pernas ainda expostas, como se a água não gostasse da ideia de tê-la em si e tentava atrasar a derradeira submersão.

O mais corajoso e também líder deles, um general forte de longos cabelos cacheados ruivos e uma pele avermelhada como o anoitecer, agarrou o tornozelo da escrava da qual teve chance de usufruir nas orgias espetaculares hospedadas pelo seu chefe e dono, Lance. Ele não hesitou na hora de cumprir seu dever e recuperar a escrava genocida já antecipando uma nova medalha e, quem sabe, ascensão na rígida hierarquia militar de Drakkon. Em nenhum momento passou pela mente do dragão que havia um motivo para ela ter se tornado o monstro das histórias de ninar de sua Terra Natal. Não pensou que seu próprio comandante e príncipe havia perdido o controle sobre a jovem. O desejo de ascensão social somado às lembranças de uma jovem dócil e sedenta de sexo nublaram seu bom senso, e o resultado foi letal.

Assim que o general tocou a pele exposta do tornozelo esquerdo da jovem, espinhos feitos de escuridão partiram do oceano e perfuraram seu corpo, matando-o imediatamente e ferindo dois companheiros. Na mesma velocidade com que surgiram, os espinhos se foram, fazendo os quatro sobreviventes duvidarem do que viram acontecer. Não fosse o corpo morto e com meio tronco estraçalhado de forma nojenta e sangrando sobre o oceano errado, eles concordariam que tudo não havia passado de uma ilusão. Os guerreiros viram dois grupos de dragões se aproximando e, sabiamente, escolheram esperar. A jovem não havia se mexido nenhuma vez e eles pensaram que ela estava morta, já que não notaram calor nem frio vindo do corpo imóvel e parcialmente absorvido pela matéria estranha que eles não conseguiam chamar de nada além de mar.

O primeiro a chegar, com segundos de distância, foi Lucien, o Senhor Infernal. O dragão de fogo gastou seu tempo encarando as pernas imóveis e sem temperatura de Lyta, o semblante turvo oculto na água agora gelatinosa, e o corpo do general morto, furado como um belo queijo.

- O que aconteceu aqui? - Ele questionou com uma voz que não aceitava questionamentos. Não que alguém ali fosse questioná-lo.

- O General Sanyu tocou o tornozelo dela, e espinhos negros perfuraram ele, o tenente Garam e o soldado Torman.

- Como vocês estão? - Questionou o Senhor Infernal para os dois sobreviventes. Ambos apenas acenaram esperando sua cura acelerada fechar os ferimentos. - Certo. Vocês tem corda?

Os soldados se entreolharam e o mais velho e preparado entregou uma pequena argola de prata, cheia de magia, usada em prisioneiros. Lucien pegou a pesada argola e começou a extrair o metal condensado na estrutura, formando uma corda flexível de prata. Enquanto ele trabalhava, Lance chegou e repetiu quase as mesmas perguntas, obtendo as mesmas respostas. O dragão de gelo, sempre mais impulsivo, simplesmente se transformou em dragão e usou duas de suas enormes garras para puxar o corpo da jovem. A posição dela sugeria que ela não estava respirando e ele não suportava a ideia de perdê-la, ainda que desejasse torturá-la e destruí-la. Um conflito velho no coração frio e pouco racional.

Quando perceberam o que ele faria, os sobreviventes do primeiro contato se afastaram batendo suavemente suas asas no ar. Lucien não teve tempo de reagir, visto estar ocupado tentando afastar a preocupação pela falta de temperatura e respiração de sua amada enquanto conjurava magia para liberar a corda metálica. Assim que a garra de Lance tocou a pele exposta, os mesmos espinhos negros se expandiram rapidamente, atravessando em três lugares a palma de Lance, o ombro e braço direitos de Lucien. O dragão de fogo estaria morto se seu irmão mais velho não tivesse reagido rapidamente ao espinho negro que iria atravessar sua cabeça, quebrando o espinho com um golpe que ressou como um sino gigante se chocando com outro sino gigante, ensurdecendo todos ali.O pedaço de sombra desapareceu assim que quebrado e resultou em diversos novos espinhos que não feriram ninguém, mas assustaram todos.

Os dragões se afastaram ainda mais, sangue escorrendo pela água sólida demais, uma tensão que poderia ser cortada com uma faca. Um silêncio pesado envolveu todos enquanto temiam um novo ataque e recuperavam a audição, todos ali permanecendo com um zumbido que duraria dias. Sem esperar, Lucien continuou puxando a corda metálica até ter o suficiente para um laço. Ele percebeu que seus ferimentos sequer iniciaram a cicatrização, mas ao contrário do irmão, ele sempre teve foco e sangue frio. Exatamente o que o tornava um perigo para Gaius, que preferiu sempre a impulsividade de Lance.

Com o laço de prata em mãos, à distância, Lucien laçou o tornozelo esquerdo de Lyta e começou a puxá-la, o mais lentamente e calmo que conseguiu. Os espinhos negros não atacaram ninguém novamente e o corpo dela aos poucos saiu de dentro da substância que parecia visualmente água, mas não se comportava como. Logo Liam o auxiliou com outra corda e, com cuidado, criaram uma espécie de rede sob o corpo inconsciente. Para todos ela parecia morta, mas o ataque de sombras os manteve cautelosos. Um aroma estranho, que os atraia e repelia exalava do corpo dela. Um olhar atento notaria que adoração surgiu em dois corações desprovidos de significado maior.

A viagem de volta ao continente foi feita em silêncio, as poucas tentativas de diálogo se revelaram inúteis com o zumbido alto que ainda os afetava. Lucien queria levar Lyta e escondê-la, Lucien queria vê-la abrir os olhos e então levá-la para uma tortura longa que quebraria sua alma até tê-la submissa sob suas patas, Liam não sabia o que esperar. Ele só sabia que ela não era uma fada dragão, ao menos não mais, e o que ela era e o que havia feito, convenciam ele que o Universo era muito mais amplo do que ele imaginou. Um Universo onde dragões talvez não fossem os seres mais fortes que existiam.

A Escrava dos DragõesOnde histórias criam vida. Descubra agora