*CAPÍTULO NOVO.
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Encaro o teto, esperando o dia começar a clarear e Maya, a escrava coelha de Lance entrar para lamber os pés dele, como um despertador pervertido. Já faz doze noites que estou aqui, nesse mundo, escravizada. As lágrimas escorrem pelo meu rosto, quentes, silenciosas. Há doze noites sou obrigada a dormir e acordar nos braços do meu captor, presa a ele e a essa vida de merda.
Ouço a respiração profunda e ritmada dele em meu pescoço e fecho os olhos, sonhando com minha vida normal, e rezo como todos os dias venho rezando, para que tudo isso não passe do pior pesadelo que já tive na vida. Mas a respiração dele, estranhamente fresca no meu pescoço, me deixa claro que como sempre minhas preces não serão atendidas. Olho de lado pensando no dia que me espera.
Ele vai acordar e achar um jeito de me dar prazer, sem meu consentimento. Como uma boneca, preciso obedecê-lo. E meu corpo vai obedecer, por que meu corpo não me obedece mais. Ele é um traidor que se derrete sob as mãos do meu algoz. A lembrança da violência que sofri ainda está viva em minha mente e segue me fazendo tremer involuntariamente quando ele me toca. Mas já não tremo loucamente na mera presença dele e do irmão dele, que vi uma vez.
Depois ele me levará ao banheiro, onde faremos nossas necessidades um diante do outro. Meu intestino agora é um relógio e, às vezes, se ele se atrasa na diversão do quarto, eu começo a ter vontade. Há dois dias não contive a vontade e soltei gases que me envergonharam profundamente enquanto ele gargalhava e corria comigo nos braços para o banheiro, onde pude finalmente me aliviar. Ele terminou a diversão durante o banho. Eu não consigo me acostumar com ele brincando com meu corpo e me dando prazer diante dos outros escravos, que ficam sempre impassíveis, como se nada estivesse acontecendo. Me sinto um lixo sem voz.
Depois ele me dá um banho, e sempre gasta um longo tempo cuidando de cada parte do meu corpo. Até minhas unhas ele cortou e lixou pessoalmente. Fora o ritual de oleação interna que me deixa excitada e me faz cavar um buraco para me enfiar.
Depois ele me leva para Zaya, que passa toda a manhã me ensinando. Acho que as horas aqui são mais longas, pois descobri que os dias não duram 24h, mas 30h. Ou os dias são realmente mais longos, e talvez por isso eu sinta tanto sono e cansaço. Ou talvez seja depressão pela merda de vida que estou levando. Tenho horror ao que vivo, mas tenho mais medo ainda do que acontecerá quando ele cansar de ser gentil e voltar a ser rude e me machucar. As escravas daquele homem do parque me causam pesadelos, e já sonhei que ele me torturava cinco vezes, quebrando meus braços e pernas.
Aliás, pesadelos são meu novo normal. Todos os dias acordo no meio da noite após algum pesadelo com Lance me ninando. Eu já duvidei das minhas memórias, pois é estranho que alguém que tem sido tão gentil e carinhoso, seja o mesmo que me feriu com tanta violência. Mas é isso. Eu acordo assustada, e ele me abraça e me aconchega. E sou obrigada a voltar a dormir nos braços do meu pesadelo, chorando.
Depois de estudar com Zaya, com quem já aprendi o alfabeto deles e comecei a aprender palavras básicas, eu almoço com Lance, e depois fico no quarto, sozinha, estudando ou simplesmente dormindo. Não é como se houvesse algo para fazer. Tentei falar com as outras escravas, mas elas me ignoraram. Mas percebi que nem elas falam entre si, demonstrando que não é um problema específico comigo. Acho. Mas a solidão é dolorosa. Me torna ainda mais consciente de tudo que perdi, da vida que deixei para trás.
Não consigo me acostumar a estar sempre nua, e quando estou no quarto, sozinha, sempre me enrolo nos lençóis. Passo tempo demais chorando e tempo demais dormindo. Já é comum que Lance me acorde quando chega, para jantarmos juntos, quando ele também me ensina palavras. Já sei mesa, senta, talher, garfo, faca, colher, prato, copo, taça, e outros típicos da sala de jantar. Ele também me ensinou as palavras do quarto e agora está me ensinando os nomes das partes do meu corpo, de uma forma totalmente não usual.
Quando voltamos para o quarto, ele fica abraçado comigo, enquanto lê livros, ou simplesmente me abraça na varanda, me mantendo em seus braços enquanto assistimos ao pôr do sol. E antes de dormir, ele beija cada parte do meu corpo, repetindo os nomes em seu idioma. Ele não me amarrou mais, nunca mais me machucou, mas eu sei que a dor me espreita na esquina, esperando que eu erre, cometa um deslize, ou ele esteja mal humorado.
Ele não me levou para fora da ala que ele controlava, nem me apresentou novas pessoas. O que é um alívio depois de ver as pessoas que ele conhece, e aterrorizante, pois faz com que eu me sinta cada vez mais sozinha. Estendo o braço para o vazio, sem ver realmente o que estou olhando. Estou cansada de andar olhando para baixo. Meus ombros e costas doem. Tenho dor de cabeça diárias. Quando isso vai acabar?
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A Escrava dos Dragões
FantasiEla vem da Terra. Eles do Reino dos Dragões. Ela nunca viu a guerra. Eles são conquistadores. Ela é de uma raça perdida. Eles de uma raça dominadora. Eles a escravizaram. Ela foi torturada. Eles se apaixonaram. Ela deseja vingança. ***A ATUALIZAÇÃO...