Capítulo 83

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   O macho loiro e completamente pelado está jogado no chão na minha frente, lutando para ter fôlego. O corpo parece pálido demais para ser só a falta de sangue, os cabelos loiros completamente desgrenhados e embaraçados cheios de sujeira tampam sua cara. Mas eu reconheceria esse cara em qualquer lugar. Reconheci ele até quando estava em meu mundo, na fazenda de Gabe, olhando para o cara que trabalhava lá!

  Não sei o que fazer com as mãos. Ou com qualquer parte do meu corpo.

  Esfaqueei Tamlin. Duas vezes. Barriga e costas. Eu deveria estar me sentindo foda, não? Tipo, é o que metade do fandom gostaria de fazer! Mas eu nunca... bem, nunca pensei que realmente faria isso.

  Me sento ao lado de Azriel, tocando sua mão, que está quentinha, o que me conforta um pouco.

— Az - eu resmungo baixinho, sentindo o estômago revirando —, seria muito bom se você acordasse agora. Precisamos cair fora.

  Mas a resposta não vem. Penso em me afundar no laço de novo, mas uma voz me corta. Uma voz, não, isso seria muita humildade da minha parte. A voz me chama.

— Vocês não vão a lugar algum.

  Eu viro a cabeça com tudo, encarando Tamlin frente a frente. Ergo as duas adagas, observando seus movimentos, evitando seu quadril pra baixo.

— Você quer ser esfaqueado de novo? - eu respondo entredentes, irritada. Ok, talvez eu já tenha me imaginado esfaqueando Tamlin, mas só uma vez. Não quero fazer isso pela segunda vez na realidade.

— Não, não quero - ele arfa, se sentando no chão, os cabelos longos tampando seus quadris. Ao menos isso. — E suponho que você não queira morrer também. Se tentar me esfaquear de novo, estará morta no mesmo instante.

  Não reviro os olhos. Seria loucura desviar meu olhar dos movimentos deles mesmo que por um segundo.

— Estou bem assim - eu respondo, me ajeitando ao lado de Azriel, tocando sua mão.

  Talvez eu consiga atravessar nós dois, não? Tipo, não deve ser tão difícil. Se consegui uma vez, consigo outra.

  Tento me concentrar no silêncio da floresta, fingir que  faço parte dele, e assim consigo atravessar para qualquer lugar, mas não sinto nada. Minha perna não queima, me sinto completamente vazia.

— Você é Illyriana? - a voz de Tamlin fala do outro lado da clareira e estreito meus olhos pra ele.

  Talvez metade do fandom não seja neta da mulher que o pai de Tamlin mandou matar. Talvez não. Mas eu sou, e a raiva que sinto explode em meu peito quando falo:

— Seu pai assassinou minha vó e tentou fazer o mesmo com minha mãe. O que você acha que sou?

  Os olhos verdes opacos dele se arregalam quando começa a analisar meu rosto inteiro.

— V-você é filha de Lyamara?

— Vai tentar matá-la de novo? - eu cuspo as palavras. — Aliás, vai tentar me matar pra expor alguma parte do meu corpo no seu escritório estúpido como um troféu?

  Tamlin fica vermelho de raiva, os punhos se cerrando.

— Caia fora da minha Corte antes que eu faça isso.

— Então é melhor você cair fora daqui também - eu grunho, apertando mais a mão de Azriel, esperando a queda de atravessar, mas nada. Nada acontece.

— São minhas terras - Tamlin tenta se levantar, mas o corte nas costas volta a sangrar e ele cai no chão. ÓTIMO!

— Estão tão fodidas quanto você - eu retruco, mantendo a adaga de Azriel na mão. — Não consegue engatinhar até sua casa?

Corte de Sombras e MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora