Aos 10 anos de idade apresentei meu primeiro trabalho na frente da sala de aula. Minhas amigas tinham papéis cartolina nas mãos, as bordas enfeitadas com papel crepom roxo e amarelo. As letras escritas eram de glitter pink, feitas por mim, porque as garotas disseram que eu tinha a letra cursiva mais bonita.
Mas eu não fiquei animada por ter a chance de escrever com as canetinhas caras de Jéssica, ou nem mesmo de escolher quais partes cada uma falaria. Eu fiquei extasiada com a sensação dos olhares sob mim enquanto eu falava, me ouvindo e absorvendo tudo que dizia.
Bem, eu definitivamente não sei onde perdi essa cara de pau, mas ela deve ter se perdido no meio do caminho dos meus 10 anos até agora. Porque conforme falo, pela segunda vez e última - eu espero do fundo do meu coração -, sobre a sombra que sobrevoou Velaris e engoliu o coração de Madja, eu tenho vários pares de olhos sobre mim.
E o único que importa olha para baixo, para os próprios pés. Não sei o que Azriel vê de tão importante ali, mas parece ser um ponto especial. O único lugar sem sombras. Ele mais parece uma lacuna de ônix do que uma pessoa.
Quero que ele me olhe, confirme com seu olhar que estou dizendo o mesmo que já disse a ele. Que não sou louca.
Mas o olhar de Rhysand me faz esquecer desses detalhes. O de Mor, Amren, Cass, Nestha, Feyre, minha mãe... merda, todos esses olhares me fazem esquecer que Azriel está ali, porque cada olhar tem uma pergunta e eu respondo todas da melhor forma como consigo.
Tudo está embaralhado em minha mente, como uma rede que pegou peixes demais e não aguenta o peso. Eu sou essa maldita rede.
— Mas Madja estava cuidando de você durante todos esses dias - diz Nestha, quebrando o silêncio quando eu me calo.
Quando me calo de falar sobre como os olhos de Madja eram pretos como a noite, assim como os de Lindara, no palácio de Helion, ou até mesmo os do próprio Grão Senhor. Como isso deve ter relação com um demônio chamado Takaemati, capaz de possuir almas para algo maior. Criar escravos para algo maior.
— Se for mesmo um Takaemati, talvez não estivesse possuindo Madja, apenas uma outra pessoa - Cass diz, apoiando a cabeça nas mãos. — O quão parecida ela era, Sol?
— Era... - eu pigarreio, nervosa ao lembrar de como aquela jovem parecia amigável, me contando da minha própria fertilidade. Olho para Azriel, ele continua encarando o chão. — Ela era completamente diferente, jovem, bonita, com cabelos longos e escuros, olhos ainda mais escuros...
Há silêncio entre nós, e quero tanto que alguém diga algo, porque porra, ele são fodas no que fazem! Não podem me deixar em silêncio e esperar que eu mesma resolva isso!
Quero sair da sala e me trancar num banheiro como as meninas em filmes americanos. Minha cabeça dói.
— Assume que Helion foi possuído pelo Takaemati? - Feyre olha para mim, para Rhys, para todos, e então seus olhos pousam em Azriel, que se mantem calado.
— Takaematis são antigos - Rhysand se levanta, os ombros se endireitando na túnica preta, há manchas de sangue escuro na barra, mas ele não parece ligar, não acho que eu deva fazer isso. — Gostam de carne fresca, puras, virgens, jamais usadas. Normalmente são carcaças que não possuem muita magia, às vezes até nenhuma, pois o receptor fica mais apto a obedecer as ordens do mestre que o controla. Takaematis são escravos que fazem escravos, mas são péssimos em esconder seus rastros, sempre escondem esses... corações que arrancam em lugares que são achados. Cedo ou tarde.
— E por que tiram corações? - minha mãe pergunta, parecendo enojada.
— Porque é a energia vital de qualquer criatura, mantém um Takaemati vivo. Até mesmo um coração morto serve.
![](https://img.wattpad.com/cover/274862484-288-k210.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Corte de Sombras e Mundos
Любовные романыOBRA INSPIRADA EM ACOTAR DE SARAH J. MASS Numa festa de casamento, a última coisa que você espera é dar de cara com um personagem que não existe na vida real. Quando isso acontece com Sol, no casamento de sua prima, é só o começo de coisas estranha...