Capítulo 61

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Eu achei, por um milésimo de segundo, que ele me beijaria de novo. Foi tão rápido, tão ilusório, que eu travei segurando a maçaneta. Seus dedos estavam quentes nos meus, e dentro do peito, entrei em colapso.

  Mas agora a porta está se fechando atrás de mim, e a música está me ensurdecendo, a visão de todos dançando na pista de dança, enquanto as luzes piscam em vários tons de cor.

  Ele fugiu. De novo. Deu pra ver na sua cara, a forma como hesitou, me olhou. Mas eu estou ficando extremamente cansada disso. Cansada de sempre estar num lugar e ele logo sair, como se eu fosse um veneno que dói de apenas olhar.

  Quero voltar para o corredor, gritar para ele parar de fugir de mim como um garoto assustado, mas aí que está a ironia: eu adoro fugir também.

  Eu ando pelas pessoas feericas ao meu redor, sentindo o suor no ar, a alegria preenchendo cada poro. Estou brava, mas isso some quando admiro o salão sozinha, parada ali no meio, observando tudo.

  Glorioso. Tão lindo que poderia cair aqui no chão e chorar por anos, grata por minha mãe pensar nisso.

  Consigo ver Gabe dançando até o chão na pista de dança. Lucian tentando passar uma cantada numa garota feerica que certamente seria demais pro seu caminhãozinho. Andrei ficaria no bar, talvez rodeando Rhysand, perguntando sobre tudo. Maia, estaria grudada comigo, olhando tudo com curiosidade, tocando o próprio vestido e sussurrando algo como "Isso é tão divino, Sol!".

   Pisco, voltando a realidade, onde Andrei não me puxa para o seu lado, para beber no bar. Onde Lucian não me agarra pela cintura e me gira no ar, no meio do salão, rindo do meu vestido extravagante. Gabe não está aqui pra jogar os cachos pro lado e dizer que é uma noite perfeita pra diversão. E Maia não está aqui pra ser minha companhia preferida.

  Isso não dura muito, é claro. É difícil sentir solidão numa festa feita pra você, e isso fica claro quando mãos grandes circulam minha cintura e um nariz encosta em minha bochecha.

—Como assim você ainda não está suando como uma porca? - pergunta Cassian, se afastando, um sorriso zombeteiro na boca. —Pensei que aniversariantes se divertem no próprio aniversário.

  Eu rio, empurrando ele de brincadeira.

—Helion veio me trazer um presente - eu dou a desculpa, puxando-o pelo braço para a pista de dança. Nestha está arrasando ao lado de Nyx, que salta no chão, rindo alegre.

—E por acaso isso tem algo a ver com o sumiço do Az? - Cass ri, olhando ao redor. Eu dou de ombros, sem vontade de falar sobre isso com ele. Quero falar apenas com Azriel, mas não irei correr atrás dele agora.

—Você vai ficar grudado em mim como na Queda? - eu brinco, e ele ri, me soltando, ajeitando a camisa havaiana.

—Você só maltrata minha autoestima, Solzinho.

—Você sabe que é lindo, cala boca - eu rio, indo para mais perto de Feyre, que está virando uma taça cheia.

—Lindo? - ele vem atrás de mim. —Aliás, mudando de assunto completamente, você está fazendo 22 anos, né?

  Arqueio uma sobrancelha, desconfiada.

—Sim.

  O sorriso que Cassian abre faz seus olhos brilharem com malícia.

—Então teremos 22 doses para seus 22 anos.

  Mal tenho tempo de rir antes que ele me puxe para o bar. Queria aproveitar toda essa noite de forma sóbria, mas eu estou mesmo de uma dose de coragem. No caso, 22.

Corte de Sombras e MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora