Capítulo 30

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  Minhas mãos estavam cansadas de tanto digitar e-mails contendo meus currículos. Passei o dia inteiro jogada no sofá, na cama, na mesa de jantar, comendo, e vendo séries, apenas entregando currículos para qualquer vaga que visse disponível.

  Eu ainda me surpreendia por meu pulso estar no lugar depois de tudo aquilo.

  O cheiro floral de perfume tomou meu nariz enquanto eu estava na cozinha, mexendo na panela, fazendo macarrão. Minha mãe apareceu, arrumada como uma mulherona, com um terno preto e branco, o mesmo que usara no casamento. O cabelo porém estava solto.

—Fiu Fiu - assobiei a fazendo corar, ajeitando o busto.

—Muito extravagante?

—Muito linda, isso sim - falo, sorrindo para ela, que retribui.

—As meninas me convidaram para um jantar que a Teresa reservou em um restaurante italiano.

—Uau - eu olho para o macarrão sem graça na panela. —E vou ser deixada comendo massa de mercado?

  Ela ri, vindo em minha direção e olhando a panela.

—Dramática - ela suspira, colocando dois temperos dentro da panela. O cheiro vai de bom à tentador. —Nada de festas enquanto eu estiver fora.

—Como se eu tivesse a animação pra isso - reviro os olhos, apagando o fogo e a empurrando para a porta. —Eu que deveria dar uma de mãe com você. Nada de chegar depois das 1 da manhã.

  Ela ri, o rosto ficando anos mais novo, nem mesmo as mechas grisalhas apagam isso.

—Tudo bem, mandona, não vou chegar tarde e atrapalhar sua maratona de... - ela olha pra TV. —The Vampire Diaries? Está gostando de vampiros agora?

  Rindo, pego sua bolsa e lhe dou.

—Eles são sexys, e tem um lance misterioso em ser um vampiro.

—Saber se vai ser mordida ou não? - ela arqueia uma sobrancelha escura, me observando. —Seu pai riria da sua cara.

—Muito pelo contrário - aponto para a TV. —Ele sentaria ali e me perguntaria a trama.

—Pior que não duvido - ela beija meu rosto, se abaixando um pouco da altura dos saltos. —Se divirta.

—Ah, vou sim. Tenho dois vampiros para os quais babar - sorrio, divertida. Ela suspira, abrindo a porta.

—Quem diria que te criei para ser fã de vampiros.

—Lobisomens também - grito quando ela fecha a porta. Consigo ouvir sua risada enquanto vou até a cozinha e enfio o macarrão no prato.

  Preparo a mesinha do centro com vinho, a comida, pães de entrada cortados finos, e o controle. Subo as escadas e lavo o rosto, e logo estou colocando aquela máscara gelatinosa que usei com Gabe. Ela fez questão de me dar quatro, dizendo que era um favor ao meu rosto, e como boa prima, era seu dever me manter linda.

  Eu ri na hora. Mas agora fazia sentido.

  A série passou diante dos meus olhos. Eu simplesmente amava aquele triângulo amoroso, que você não sabe se é ou se não é. Mas eu simplesmente estava assistindo para ver o Damon. Que homem... E preciso admitir que fiquei comparando o tanquinho dele com o de Azriel, mas fiz isso na mente, no silencio. 

  Estava com a gota de vinho a caminho da boca quando a campainha tocou. Franzo a  testa, confusa. Minha mãe teria entrado, se tivesse esquecido algo. Me encolhi no sofá, decidindo fingindo não ouvir. Não era justo com a pessoa lá fora, mas era comigo, que estava numa cena bem motivacional...

  A campainha toca de novo, o que me faz encolher mais e grunhir. Não eram pessoas vendendo serviços, porque já passava das sete da noite. E se for alguém querendo comida? Eu ainda tinha uma panela cheia de macarrão.

Corte de Sombras e MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora